Notícias

Monitoramento do desmatamento no Cerrado pode parar em agosto por falta de verba

Mapeamento anual também deve ser descontinuado a partir de dezembro. Governo ainda não apresentou alternativa para fim dos programas Deter e Prodes-Cerrado

Cristiane Prizibisczki ·
18 de junho de 2021 · 4 anos atrás

O monitoramento do desmatamento no Cerrado, realizado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), poderá chegar ao fim a partir de agosto deste ano, por falta de verbas.

A geração de alertas de desmatamento (Deter-Cerrado) e o monitoramento anual para o bioma (Prodes-Cerrado) são financiados pelo Programa de Investimento Florestal (FIP) do Banco Mundial. Inicialmente previsto para durar até dezembro de 2020, o programa foi estendido por mais um ano, mas, a partir de dezembro, não haverá mais verba para sua continuidade dentro do Instituto.

Segundo Claudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas do INPE, a equipe do Deter- Cerrado começará a ser desmobilizada já em setembro, o que significa que a partir do final de agosto os alertas de desmatamento não serão mais gerados para o bioma. A equipe do Prodes-Cerrado deve ser mantida até dezembro.

“Depois disso não tem mais verba. A gente tem que encontrar fundos em algum lugar e estamos tentando justamente isso, tentando sensibilizar autoridades. Como sabemos que é muito difícil que venha por orçamento próprio, estamos tentando contato com embaixadas, com outros órgãos internacionais para ver se conseguimos esse recurso”, disse Almeida.

Além da geração de alertas e o mapeamento anual da perda de vegetação, parte do monitoramento de queimadas também deverá ser impactado, já que produtos como risco de fogo e área queimada para o Cerrado também são financiados pelo programa FIP.

O monitoramento dos focos de incêndio em vegetação continuará a ser feito pelo Programa Queimadas, assim como o monitoramento do desmatamento e geração de alertas para a Amazônia.

O fim do monitoramento do desmatamento no Cerrado fez com que organizações ambientalistas que atuam no bioma publicassem na quinta-feira (17) uma carta aberta em defesa da manutenção dos programas.

“O desmatamento no Cerrado tem sido crescente. Em 2020, foram derrubados 7,3 mil km² do nosso bioma […] Já imaginou o cenário de desmatamento sem o monitoramento? É com base nesse trabalho que são realizadas as ações de fiscalização e desenhadas políticas públicas para conter os impactos”, diz a carta, assinada por organizações como Instituto Cerrados, Rede Cerrado, ISPN Brasil e Greenpeace Brasil.

“Deixar de monitorar o desmatamento do Cerrado é um prejuízo incalculável ao país. São impactos relacionados a perda de biodiversidade, emissão de gases do efeito estufa, redução da recarga dos aquíferos, perda de produtos florestais não madeireiros, entre tantos outros […] Nós apoiamos o INPE em seu imprescindível trabalho de monitorar o desmatamento e queimadas no Cerrado. É premente garantir o financiamento deste trabalho de forma contínua”, continuam as entidades no documento, publicado nas redes sociais.

((o))eco entrou em contato com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), ao qual o INPE é vinculado, para saber como a pasta está lidando com o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Notícias
27 de abril de 2021

Verba para monitoramento do desmatamento e queimadas cai 60% em 10 anos

Com vetos presidenciais na LOA 2021, INPE terá somente R$ 2,6 milhões para monitorar queimadas no Brasil e desmatamento na Amazônia

Notícias
14 de junho de 2021

Deputados e ambientalistas cobram resposta sobre desligamento de supercomputador do INPE

Em plena crise hídrica, INPE anunciou que, por falta de verbas, terá que desligar o equipamento responsável por previsão de estiagens no país

Reportagens
30 de novembro de 2020

Desmatamento na Amazônia chega a 11.088 km² e é o maior em 12 anos

Cifra é quase 3 vezes superior à meta fixada pela Política Nacional de Mudança do Clima para 2020. Alta ocorre mesmo depois de 6 meses da presença do Exército no bioma

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.