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Morre Alfredo Sirkis, liderança na defesa do clima e um dos fundadores do Partido Verde

Ex-deputado foi vítima de um acidente de carro em Nova Iguaçu (RJ). Seu último livro foi o recém-lançado “Descarbonário”, sobre os 40 anos de experiência na área do clima

Daniele Bragança ·
10 de julho de 2020 · 4 anos atrás
Alfredo Sirkis, 1950-2020. Foto: Márcio Lázaro.

O ambientalismo brasileiro perdeu nesta sexta-feira (10) um dos seus membros mais importantes. Alfredo Sirkis, liderança na pauta climática, político, jornalista, escritor, morreu em um acidente de carro, no começo da tarde, por volta das 13h50, aos 69 anos. 

Ele pretendia visitar a mãe em Vassouras, região Centro-Sul do estado do Rio de Janeiro. Sozinho, seguia de carro pelo trajeto que fazia com frequência quando o veículo bateu em um poste e capotou. O acidente ocorreu no Arco Metropolitano, na altura da via Dutra, na Baixada Fluminense. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal, o ambientalista morreu na hora. 

Sirkis deixa a mãe, Liliana Syrkis, esposa, Ana Borelli, e dois filhos adultos, Guilherme e Anna. 

Há duas semanas, Sirkis lançou o livro “Descarbonário”, sobre o que vivenciou em 40 anos de militância pelo ambientalismo. O título é uma brincadeira semântica que relembra o seu mais famoso livro, “Os carbonários”, que conta sua experiência na militância estudantil e a luta contra a ditadura militar. 

Um dos pioneiros do ambientalismo no Brasil, Sirkis foi um dos fundadores do Partido Verde em 1986. Pelo partido, foi de tudo um pouco: vereador,  secretário municipal de Meio Ambiente no Rio de Janeiro, deputado estadual, deputado federal e coordenador da primeira campanha presidencial de Marina Silva em 2010. 

Também coordenou o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2017 e 2019, quando foi exonerado do cargo, não remunerado, pelo presidente Jair Bolsonaro. Atualmente, ele presidia o Centro Brasil do Clima. 

Repercussão

Ao longo da tarde, organizações ambientalistas, amigos, políticos e parentes expressaram os pêsames pela partida repentina de Sirkis. Destacamos algumas:

Observatório do Clima – Confira a íntegra da nota aqui.

Sua trajetória, de combatente da ditadura militar a ativista climático – ou, como ele gostava de dizer, “de carbonário a descarbonário” – sempre será uma inspiração para o movimento ambiental. E torna-se ainda mais importante agora, quando o Brasil precisa mais uma vez exorcizar o autoritarismo e lutar pela sustentabilidade.

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) – Confira a íntegra da nota aqui.

Entre todos os papéis que desempenhava, foi defensor ferrenho de um mundo mais sustentável. Um homem que compartilhou o peso dos desafios climáticos com diversas organizações e iluminou o caminho de muitas pessoas que, hoje, vestem a camisa ambiental.

André Trigueiro, jornalista:

“O Brasil perdeu hoje um dos seus maiores ambientalistas. E eu perdi um amigo. Alfredo Sirkis é da geração de Fernando Gabeira, Carlos Minc, Fabio Feldmann. Ele turbinou o movimento ambientalista no Brasil com inteligência, com propostas. Se engajou na política, foi parlamentar. Ele foi do Executivo, foi Secretário Municipal de Meio Ambiente, foi Secretário Municipal de Urbanismo no Rio de Janeiro e nos últimos anos uma liderança internacional nas negociações do clima, com propostas para estimular o mercado de carbono e o financiamento da economia de baixo carbono.

Alfredo Sirkis vai fazer muita falta. Mas deixou um legado glorioso e inspirador. Eu, particularmente, sou muito grato a tudo que ele nos ensinou por atitude, de forma muito aguerrida, muito corajosa. Foi ambientalista quando ninguém estava preocupado com isso. Abriu caminho para todos nós que viemos depois. Nossa gratidão, Sirkis. Onde você estiver.”

Marina Silva, política – Confira a íntegra da nota aqui:

Explosivo e apaixonado por tudo em que acreditava, sincero nas críticas como nos elogios, militante incansável das causas que defendia, Sirkis demonstrou, há muito tempo, seu grande valor pessoal e fundamental importância para o Brasil.

Carlos Minc, político: 

Morreu meu querido amigo Alfredo Sirkis. A gente começou a militar junto com 16 anos no grêmio do Colégio Aplicação da UFRJ, na Lagoa. Fizemos a resistência armada juntos. Sirkis foi responsável por nos tirar da prisão: a mim, Gabeira, Daniel Aron Reis, Apolônio. Fundamos o PV juntos com o Hebert Daniel, Lucélia Santos, Gabeira. Sempre fizemos muitas campanhas e movimentos de ecologistas. Há 3 dias, participei da live de lançamento do livro dele: “Descarbonário”. Ele tava muito contente, também muito ativo na questão climática com cientistas internacionais, fazendo planos com vários governadores, do Espírito Santo, Pernambuco, com Emílio La Rovere, Coppe. É uma tristeza! Eu soube que tinha algo errado quando alguém da imprensa me ligou e liguei para esposa dele, que não sabia de nada. A Polícia Rodoviária Federal me confirmou, e que tive ainda que dar a notícia para Ana Borelli e pro Guilherme, o filho dele, amigo dos meus filhos. O Guilherme tava no sítio da mãe esperando o Alfredo ir lá. Tava indo num fusca e bateu e morreu perto do Arco Metropolitano. Ele tava tão feliz! Tava muito feliz! Comprei o livro dele, só vai chegar depois dele ter partido. Muita tristeza!

 

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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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Comentários 7

  1. Cirene Oliveira diz:

    Dizer que não houve ditadura no Brasil é o mesmo que dizer que não houve o holocausto, que não houve escravidão, que o homem não foi à lua, e que a terra é plana! Tempos obscurantistas!


  2. celso diz:

    Alfredo Sirkis fora um idealista completo.
    Concordando-se ou não com todas suas ideias, não se pode ser esquecido seu amor pela natureza. Pelo Mundo.
    Condolências á Familia.


  3. Ironia do destino diz:

    Mais um que desdenhou do Bolsonaro ter pegado coronavirus morreu…
    "O coronavírus acaba de contrair um Bolsonarusvirus muito mais perigoso que o da gripezinha que já matou 65 mil brasileiros. É um vírus capaz de destruir um país. Te cuida, corona" (Alfredo Sirkis)


  4. AMARAHAL diz:

    " COMBATENTE DA DITADURA MILITAR ????"
    EU NÃO LEMBRO DE TERMOS UMA DITADURA NO BRASIL EM 1964…..ESSA HISTÓRIA ESTÁ MAL CONTADA, NOS BONS LIVROS QUE ESTUDEI, IRÍAMOS TER SIM UMA DITADURA COMUNISTA DO PROPRIETARIADO E O "REGIME MILITAR " EVITOU- A E SALVOU-NOS DE SERMOS UMA CUBA ELEVADA À SEPTUAGÉSIMA POTÊNCIA DA MISÉRIA……..BONS TEMPOS……QUE FALTA NOS FAZEM OS MILITARES MACHOS ALFAS !


    1. Arthur diz:

      É mega reveladora sua última frase no comentário " quanta falta nos ( a ti ) fazem os militares MACHOS ALFAS ". Vc precisa resolver logo esse seu problema de recalque sexual , aí nos pouparia de suas diarréias mentais. Viva Sirkis


    2. Edu diz:

      Que comentário idiota.


    3. Isa diz:

      Que comentário idiota desse Amarahal…deve ser um viadinh que gosta de homem fardado…kkkk