Morreu nesta segunda-feira (06), vítima de um infarto, o médico, escritor, dramaturgo, entomologista e ambientalista Angelo Barbosa Monteiro Machado, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Machado faleceu em Belo Horizonte, cidade em que nasceu e fincou raízes. Era viúvo, pai de 4 filhos e avô de 7 netos. Por causa das restrições da pandemia do Coronavírus, não haverá velório.
Formação
Médico de formação, Angelo Machado se especializou em Neuroanatomia e por muito tempo se dedicou ao ensino e à pesquisa na área de neurobiologia. Por mais de 60 anos foi professor da UFMG. Até 1987 foi professor titular de Neuroanatomia, quando se aposentou. No mesmo ano fez novo concurso e virou professor adjunto de Entomologia, sua paixão da vida toda.
“Tenho uma tia, Lúcia Machado de Almeida, que foi escritora de literatura infantil. Em dois de seus livros os insetos são importantes: O escaravelho do diabo e O caso da borboleta Atíria. Um dia ela me disse, “Tem um professor chamado Newton Dias dos Santos que está dando um curso no Instituto de Educação e entende muito de libélulas. Leve suas libélulas lá que ele pode dar os nomes científicos”. Eu tinha 16 anos, fui até ele com uma caixinha com cinco libélulas e disse, “Professor, a tia Lúcia falou que o senhor poderia dar o nome dessas libélulas para mim”. Ele me olhou e falou assim, “Não vou dar nome de libélula nenhuma”. Eu me apavorei. Mas ele continuou, “Você mesmo vai achar os nomes”. E me deu o manuscrito da tese dele sobre libélulas de Lagoa Santa com a recomendação de ir para casa, estudar e descobrir sozinho. Fiz isso. No dia seguinte voltei lá, acertei alguns nomes, errei outros e ele me mostrou por que eu tinha errado. Aquilo foi decisivo. Em vez de simplesmente dar a solução, me mostrou o caminho. Aquelas libélulas eram banais. Se ele tivesse dado o que pedi eu teria apenas cinco nomes. Como não deu, mexo com libélulas até hoje”, disse Machado à revista Fapesp, em 2007.
Já como pesquisador, Machado descreveu 98 espécies e 11 gêneros novos de libélulas e reuniu uma coleção de mais de 35 mil exemplares, montada ao longo de seis décadas e iniciada na adolescência. Essa coleção particular, a maior da América do Sul, foi doada em 2015 à UFMG.
No meio tempo entre estudar, ensinar e colecionar libélulas, o entomologista escreveu 37 livros infanto-juvenis, 3 adultos e 8 peças de teatro.
Era, acima de tudo, dedicado à ciência. Membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mineira de Letras, foi presidente do Conselho Curador da Fundação Biodiversitas e participou do grupo que que elaborou o projeto da revista Ciência Hoje das Crianças nos anos 80.
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Dividimos um taxi uma vez em Cuiabá, durante um Congresso de Zoologia. – Com o que você trabalha? Perguntou. – Com sapos. – Ah! Esses comedores de libélulas… – Perá lá, professor, que os meus girinos passam por maus bocados com as ninfas bocudas de libélulas! – É verdade, é verdade… E passamos a dar risada… Lamentavelmente o trecho foi curto, professor Ângelo…
É verdade, eu era o taxista!