Cerca de 100 lideranças femininas da Amazônia, vindas majoritariamente de unidades de conservação de uso sustentável, Terras Indígenas e Quilombolas, se reuniram esta semana para discutir problemas comuns e potencializar o protagonismo feminino nas tomadas de decisões sobre seus territórios. O encontro, realizado entre terça e quinta-feira (28 a 30), culminou na publicação de um manifesto, a ser entregue para os governos estaduais da Amazônia Legal e governo federal.
A carta destaca o papel indispensável das mulheres na conservação ambiental e lista cerca de 30 reivindicações de direitos nas áreas de educação, saúde, empoderamento, segurança, desenvolvimento econômico, infraestrutura, regularização fundiária, segurança alimentar e mudanças climáticas.
Muitas das reivindicações, ainda que não de forma direta, relacionam-se à preservação do meio ambiente. Na área da educação, por exemplo, elas pedem que os saberes tradicionais e ambientais de cada região sejam incluídos na grade curricular das escolas. Na área de infraestrutura, demandam a demarcação de terras indígenas e saneamento básico.
São reivindicações também o combate mais efetivo à invasão de terras, a criação de novas áreas protegidas e a realização de educação política e climática em seus territórios.
Um dos pontos centrais do documento é o incentivo ao empoderamento feminino e o acesso a cargos políticos e no serviço público. “Repudiamos a inclusão de mulheres na política, por homens, somente com interesses familiares (esposas, filhas, etc.), pois, para nós, não basta ser mulher para estar na política. É preciso defender nossas pautas aqui postas neste documento, inclusive a defesa da Amazônia, meio ambiente e justiça social”, dizem no documento.
Elas também requerem maior participação em cargos de liderança em associações e cooperativas, organizações nas quais geralmente as mulheres são relegadas a cargos minoritários. “Não podemos ser apenas secretárias, queremos também ser presidentes, assumindo inclusive a comercialização dos produtos e não somente a produção”.
Segundo a liderança indígena e ativista Vanda Witoto, o silenciamento feminino, realidade em todo Brasil, é ainda mais forte nos rincões da floresta. “Nós precisamos construir espaços onde a voz das mulheres que estão nas beiras dos rios, marginalizadas nas cidades, nos territórios indígenas, quilombos, possa ser potencializada. Dentro das discussões de impactos ambientais, de justiça climática, nós somos as mulheres mais impactadas, sobretudo nós, mulheres amazônidas, impactadas por esse modelo de economia que degrada nossos territórios e violenta nossos corpos”, disse.
Vanda, que foi candidata a deputada federal pela Rede Sustentabilidade em Manaus nas últimas eleições, também ressalta o papel de destaque das mulheres na luta pela proteção do meio ambiente. “As mulheres são a representação da força da terra […] Hoje somos nós que estamos nesse front de defesa de nossos territórios, das florestas, dos rios”, completa. Vanda conseguiu 25.545 votos, mas não se elegeu.
Segundo Valcléia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades na Fundação Amazônia Sustentável (FAS), organização que realizou o Seminário, a divulgação do manifesto é emblemática na luta das mulheres da floresta.
“A carta elaborada durante o Seminário de Mulheres da Floresta representa um grande marco na área, porque possui as falas e anseios de mulheres de diversos territórios, ampliando as estratégias de defesa e proteção da Amazônia. Temos certeza que os debates gerados aqui vão promover grandes frutos em prol das mulheres amazônidas”, comenta.
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