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Exploração ilegal de madeira na Amazônia afetou área do tamanho de Belém entre 2021 e 2022

Segundo mapeamento por satélite, 394 mil hectares da floresta foram afetados, sendo 106 mil de forma ilegal. Quase 20% do total ocorreu em terras indígenas; MT domina medição

Gabriel Tussini ·
18 de dezembro de 2023

Quase 400 mil hectares de floresta foram explorados para extração de madeira na Amazônia entre agosto de 2021 e julho de 2022, sendo mais de 1/4 de forma ilegal. É o que dizem os dados do mapeamento realizado pelo Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) – rede composta pelas ONGs Imazon, Idesam, Imaflora e Instituto Centro de Vida – divulgados na última quarta (13). Pelo segundo ano consecutivo, o estado de Mato Grosso é o líder isolado na exploração, com 65,8% do total. Maranhão, Tocantins e Amapá não foram mapeados, o último devido ao “alto percentual de cobertura por nuvens”.

Embora a exploração total na Amazônia tenha aumentado (394 mil hectares, ou cerca de duas vezes a cidade de Teresina, contra 377 mil no período anterior), a área retirada sem autorização diminuiu em 25%, chegando a 106 mil hectares – ainda uma área do tamanho da cidade de Belém, com 19,5% em terras indígenas. Mato Grosso concentra também grande parte da exploração ilegal, com 9 das 10 cidades e 9 das 10 áreas protegidas líderes no quesito, todas na região norte do estado.

As exceções ao “domínio” matogrossense são a cidade de Paragominas (PA), 7ª com mais extração de madeira, e a Terra Indígena Amanayé, também no Pará, a 10ª no quesito entre as áreas protegidas. Pará e Mato Grosso respondem pelos maiores índices de ilegalidade: 46% dos 38 mil hectares explorados no Pará e 31% dos 80 mil hectares explorados no Mato Grosso não tiveram autorização dos órgãos ambientais competentes.

Só as 10 cidades de Mato Grosso com maior concentração de extração ilegal correspondem a 52,4% do total do quesito na Amazônia. Colniza, na fronteira com Rondônia, lidera com folga: foram 12.610 hectares extraídos ilegalmente no município no período avaliado, uma área equivalente à cidade do Rio de Janeiro. A segunda colocada, Aripuanã, teve 8.584 hectares de floresta explorada sem autorização. Dos quase 80 mil hectares explorados ilegalmente no estado, 31% foram em terras indígenas e unidades de conservação. Na Terra Indígena Menku, a 7ª mais explorada do estado, por exemplo, a fiscalização do Ibama chegou a flagrar a atividade ilegal duas vezes em menos de um mês.

“Esse índice de exploração não autorizada é muito alto e representa graves danos socioambientais para a Amazônia, bem como econômicos, especialmente associados à cadeia produtiva da madeira”, aponta um trecho do estudo. “Esse mapeamento é um importantíssimo insumo para que os órgãos ambientais estaduais façam a fiscalização dessas áreas. Nesse sentido, é fundamental a cooperação entre os órgãos estaduais e o órgão federal, especialmente o IBAMA, para que esse combate seja feito de forma efetiva”, avaliou Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV.

Amazonas e Acre com explosão de áreas exploradas

O período de agosto de 2021 a julho de 2022 viu um aumento de 4,5% na área total explorada em relação ao período finalizado em 2021. Embora Mato Grosso e Pará, líderes do levantamento, tenham reduzido seus índices em 6,3% e 32,5%, respectivamente, os outros estados avaliados puxaram os números gerais para cima.

O aumento mais dramático ocorreu no Amazonas, onde a exploração mais que triplicou – de pouco menos de 15 mil hectares para mais de 50 mil, um aumento de 236,9%. Outro estado com grande aumento foi o Acre, mais do que dobrando sua estatística de 10 mil para 25 mil hectares de floresta utilizados para extração madeireira. Além deles, Roraima (32,8%) e Rondônia (13,9%) também viram um aumento na área total de floresta extraída.

No total, mais de 60% da exploração total ocorreu em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Segundo Leonardo Sobral, gerente de cadeias florestais do Imaflora, estes “são imóveis rurais privados, em que os dados de propriedade e proprietário são de conhecimento dos órgãos ambientais, portanto passíveis de fiscalização e responsabilização”.

De acordo com o estudo, a manutenção de um cenário com percentuais elevados de ilegalidade tem consequências danosas e duradouras não apenas para a manutenção da floresta. “Sem o manejo florestal sustentável, a extração ilegal de madeira pode levar a floresta à degradação, tornando-a mais suscetível a incêndios e perda de biodiversidade, além de representar maior risco de conflitos fundiários e deixar de gerar empregos formais e renda”, conclui o relatório.

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

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