Belém (PA) – Antropóloga, economista e diplomata costarriquenha, Christiana Figueres foi secretária-executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), de 2010 a 2016, e uma das articuladoras do Acordo de Paris, de 2015.
Numa entrevista na Casa do Jornalismo Socioambiental, palco na capital paraense para debates e oficinas durante a COP30, a especialista avaliou que, num cenário global marcado por guerras, polarização e confrontos, “muitos países sentem que precisam direcionar recursos públicos para o lado militar da equação”.
Diante disso, ela considerou “ridícula” a cifra de US$ 100 bilhões para descarbonizar a economia mundial – formalizada no Acordo de Paris, mas nunca cumprida – e lembrou que já são investidos US$ 2,1 trilhões em energias limpas. “Ainda assim, esse montante representa uma pequena fração do necessário”.
Segundo Figueres, a maior parte desses recursos vem de investimento estrangeiro direto, “onde o capital está”. Por isso, ela alerta para não confundir “a cauda com o cachorro”, pois os US$ 100 bilhões seriam apenas a cauda – que balança –, mas que não é capaz de substituir o essencial para enfrentar a crise do clima.
Essa meta bilionária foi substituída no ano passado, na COP29 em Baku (Azerbaijão), pela cifra de ao menos US$ 300 bilhões anuais em recursos públicos e privados para enfrentar a crise climática global, até 2035, para nações vulneráveis e mais pobres.
Para o Sul Global, destacou a especialista, o quadro é duplamente frustrante, já que nunca os bilhões de dólares prometidos fluíram na velocidade e na escala devidas, “nem os trilhões do capital privado chegam aos países em desenvolvimento como deveriam”.
Ela acredita, porém, que essa distorção pode ser corrigida, ainda que lentamente, porque muitos países da região já perceberam que é do próprio interesse explorar fontes locais para ampliar sua independência energética.
Ressaltando que 70% do potencial mundial de energia renovável e que metade dos minerais críticos para a transição energética mundial estão no Sul Global, Figueres analisou que condições políticas e regulatórias adequadas serão chave para atrair investimentos.
“As oportunidades são conhecidas e o financiamento privado internacional começa a persegui-las. O que falta, por ora, é ação do setor público nos países em desenvolvimento para criar o ambiente necessário à atração de recursos”, disse.
Esse movimento, apontou ela, já desponta em nações como a Nigéria – tradicional produtora africana de petróleo e gás –, que recebe forte investimento em energia solar. “O mesmo ocorre com Chile e Colômbia, entre outros. O avanço existe, mas ainda é gradual”.
Leia também
Na abertura da COP30, Brasil pede mais investimentos em clima e menos em guerras
Entidades apontam que, com boa vontade do governo, 29 terras indígenas poderiam ser demarcadas durante a conferência →
Chegar a US$ 1,3 trilhão de financiamento climático é possível e urgente
Presidências da COP29 e COP30 lançam Roteiro Baku-Belém, documento que indica caminhos para escalonar financiamento climático a nível global →
Falta transparência no financiamento do clima
Nações desenvolvidas não estão cumprindo de forma clara a promessa de doação de verba, firmada em 2009, para os países em desenvolvimento. →




