O Brasil é um dos países com maior diversidade de maracujás no mundo, com mais de 150 espécies conhecidas no território. E a lista brasileira acaba de ficar ainda maior com a descoberta de mais uma espécie: a Passiflora ita, no batismo científico, ou simplesmente maracujá-das-pedras. O nome é uma referência ao habitat inusitado desta planta que, ao contrário da maioria dos maracujás – que são plantas trepadeiras que ocorrem na floresta – é mais modesto e cresce em áreas abertas, sobre rochas.
“Entretanto, suas flores não são nada modestas, são exuberantes e coloridas, destacando-se na vegetação”, conta a pesquisadora Ana Carolina Mezzonato-Pires, da Universidade Federal de Juiz de Fora. A especialista é uma das três autoras do artigo que descreve a nova espécie e que foi publicado em dezembro na revista científica Willdenowia, do Jardim Botânico de Berlim.
De fato, a floração da espécie não possui nada de modesta, tampouco discreta. Com pétalas roxas vibrantes e listras brancas, a flor do maracujá-das-pedras possui menos de dois centímetros, mas um visual marcante.
A distribuição da espécie é exclusiva da Mata Atlântica e ocorre em montanhas e afloramentos rochosos do leste de Minas Gerais (em áreas de campos rupestres) e na região central e litoral do Espírito Santo, em altitudes a partir de 600 metros. A grande preocupação dos pesquisadores é a ausência da planta dentro de unidades de conservação de proteção integral, o que significa uma maior vulnerabilidade do habitat às pressões humanas, o que coloca o maracujá-das-pedras em maior risco de extinção. Atualmente, a espécie foi encontrada apenas na Área de Proteção Ambiental (APA) Mestre Álvaro, de uso sustentável, no Espírito Santo.
“Uma dessas montanhas é a Serra do Padre Ângelo, onde a espécie foi descoberta, no município mineiro de Conselheiro Pena. Nos últimos anos, revelamos várias espécies novas nessa região, que tem se mostrado um importante ‘refúgio de biodiversidade’”, destaca o botânico Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João del-Rei, outro autor do artigo. A serra, que não é protegida por nenhuma unidade de conservação, foi atingida por um forte incêndio criminoso em outubro de 2020, num exemplo das ameaças que pairam sobre o maracujá-das-pedras e outras plantas.
O biólogo Ricardo Ribeiro, do Instituto Nacional da Mata Atlântica, um dos autores do artigo, explica que a lista de ameaças da nova espécie vai desde incêndios e a pressão de espécies invasoras, até a extração de rochas ornamentais no seu habitat. “Por conta disso, sugerimos que ela deve entrar na ‘Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil’”, destaca Ricardo.
No artigo, os pesquisadores sugerem a classificação de “Em Perigo” de extinção para o Passiflora ita. A área de ocorrência estimada para a espécie é de apenas 44 km².
Os pesquisadores destacam que a Mata Atlântica nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo foi severamente alterada, com grande parte da sua área original convertida em pastagens e outras atividades agrícolas, com a redução do bioma a pequenos e isolados fragmentos de vegetação nativa. Eles reforçam ainda que em todas as áreas estudadas, o maracujá-das-pedras foi encontrado apenas em pequenas populações, com baixa densidade de indivíduos.
“A descoberta de novas espécies e seu mapeamento adequado é fundamental para ações de conservação, pois sabendo quais espécies existem e onde elas estão é possível direcionar essas ações para áreas prioritárias”, completa. O maracujá-das-pedras é a 21ª espécie de maracujá descoberta no Brasil apenas nos últimos 11 anos.
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Na praia em frente de casa (Vila Velha ES) sempre vejo essa planta, até já postei no aplicativo iNaturalist. Aqui nós conhecemos como Maracujá da Praia (passiflora subrotunda).
No sítio dos meus irmãos e meu, tem uma planta que produz uma fruta semelhante a da foto de tamanho de aproximadamente 6 cm, forma um tipo de cacho. Como faço para saber se é uma nova espécie?
Deviam tentar criar mudar e distribuir para pessoas que tem reservas de mata Atlântica ou que desejam criar uma. Nós aqui no sítio temos áreas onde poderíamos introduzi-lo.
E muito bom saber, sobre esse descobertas.
Há um equívoco aqui nessa matéria esse maracujá não foi descoberto agora e tão Paulo e endêmico da região citada moro no Tocantins e tenho exemplar dessa planta,que conheço há anos
Muito bom.