Notícias

Redução da diversidade genética ameaça gaviões-reais

Desmatamento está matando as aves mais velhas , ameaçando a diversidade genética da espécie na Mata Atlântica e no sul da Amazônia.

Vandré Fonseca ·
17 de fevereiro de 2016 · 8 anos atrás
Gavião-real. Foto: João Marcos Rosa.
Gavião-real. Foto: João Marcos Rosa.

Manaus, AM — Ao contrário de outras grandes aves de rapina e mamíferos, que após sofrerem grande redução populacional mantêm níveis de diversidade genética históricos, o gavião-real (Harpia harpyja), também conhecido como Harpia, está tendo uma perda considerável em sua diversidade, no sul da Amazônia e na Mata Atlântica. A conclusão é de um estudo liderado pelo biólogo Áureo Banhos, da Universidade Federal do Espírito Santo, publicado em fevereiro na revista científica on-line PLoS One.

Os estudos demonstraram que a diversidade genética dos gaviões-reais caiu entre 15% e 19% nas regiões do Arco do Desmatamento e na Mata Atlântica. “A diversidade genética é importante para manter o potencial evolutivo, além do potencial de reprodução e sobrevivência das espécies”, afirma Áureo Banhos. O biólogo acredita que essa perda de diversidade está relacionada a remoção e desaparecimento dos indivíduos mais velhos devido ao desmatamento, construção de hidrelétricas, estradas e caça.

Ele explica que grandes vertebrados, mesmo quando sofrem  forte perda na população, mantêm a diversidade genética graças a permanência dos indivíduos mais velhos. Mas no caso do gavião-real, cujo intervalo entre as gerações é de 18,5 anos, estão sendo retirados da natureza justamente os indivíduos mais velhos.

‘É uma redução preocupante, porque se você pegar outros grandes vertebrados vai ver que isso não tem acontecido com eles. O rinoceronte africano, a águia-de-cauda-branca da Europa e a águia-dourada, da Grã-Bretanha, todos esses estudos apontam que não tem histórico de perda de diversidade genética”, afirma Áureo Banhos.

Os pesquisadores analisaram amostras históricas e atuais, de 1904 a 2008. E foram comparadas as informações mais antigas com registros obtidos a partir da década de 1970. Além de museus, foram obtidas amostras de aproximadamente 50 ninhos que eram acompanhados pelo Projeto Gavião-Real e também de criadouros, para onde vão animais apreendidos ou resgatados. “As penas são uma amostra não invasiva e podem ser pegas caídas em viveiros, nas bases dos ninhos ou até mesmo com escaladores que sobem até os ninhos”, conta Áureo Banhos.

O biólogo explica que não foram analisados dados históricos dos gaviões-reais do norte da Amazônia, região onde a floresta está mais bem preservada, pois as amostras estão disponíveis, principalmente, em museus estrangeiros. Mas destaca que a variedade da espécie nessa região que sofre menos com a perda de habitat é semelhante às registradas na Mata Atlântica e sul da Amazônia, antes do avanço do desmatamento.

Saiba Mais

Reduction of Genetic Diversity of the Harpy Eagle in Brazilian Tropical Forests.

 

Leia Também

Caçada e atropelada, não tem harpia que resista

Harpia e a conservação do Pantanal

Boa e má notícia sobre harpias na Bahia

 

 

Leia também

Notícias
10 de junho de 2010

Boa e má notícia sobre harpias na Bahia

Monitoramento de aves reintroduzidas revela que uma harpia já se reproduz. Outra, no entanto, foi encontrada morta com bala no corpo

Reportagens
28 de março de 2011

Harpia e a conservação do Pantanal

Primeiro registro da grande águia na planície pantaneira é importante indicador ambiental e abre caminho para turismo de observação de aves.

Análises
13 de abril de 2015

Caçada e atropelada, não tem harpia que resista

Perseguida e correndo risco na rodovia BR-101, a maior águia das Américas sofre em um dos seus últimos refúgios na Mata Atlântica.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.