Notícias

Temer usa dados não oficiais sobre desmatamento na ONU

Presidente usou números do Imazon, que servem para orientar ações contra desmatamento e não para medir taxas anuais

Vandré Fonseca ·
20 de setembro de 2017 · 7 anos atrás
Como tradição, presidente brasileiro discursa na Abertura do Debate Geral da 72ª Sessão da Assembleia Geral da ONU. Foto: Beto Barata/PR.
Como tradição, presidente brasileiro discursa na Abertura do Debate Geral da 72ª Sessão da Assembleia Geral da ONU. Foto: Beto Barata/PR.

O presidente Michel Temer se aproveitou de uma informação inadequada para anunciar um desmatamento de 20% na Amazônia este ano. O dado existe, é resultado do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), mas não é oficial e nem se apresenta como método para medir a taxa anual de desmatamento na região.

“Ele é alerta, utilizado para contribuir para os órgãos de fiscalização realizar operações para combater o desmatamento de forma imediata”, afirma o engenheiro ambiental Antônio Victor Fonseca, pesquisador do Imazon.

É verdade que o SAD apresenta a redução de 21% no desmatamento entre agosto de 2016 e julho deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Mas ele usa metodologia e imagens de satélites diferentes dos usados pelo Prodes, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para fazer o cálculo oficial do desmatamento.

O Prodes usa imagens da classe Landsat, com resolução espacial de 20 e 30 metros (ou seja, a área equivalente a cada ponto do mapa) e intervalos de pelo menos 16 dias. A vantagem é que conseguem mapear áreas menores do que os sistemas de alerta, com 6,25 hectares.

O SAD é um sistema as mesmas imagens do sensor MODIS, no satélite Terra, Agência Espacial Americana, a Nasa. É o mesmo usado por outro sistema de monitoramento do Inpe, o Deter, que também serve para alertas. Mas o SAD é um sistema semiautomático.

Com resolução espacial de 250 metros, detecta apenas cortes na floresta em áreas maiores do que 25 hectares. Além de ter menor resolução, sofre grande influência da cobertura de nuvens, que impedem a medição. A vantagem é a atualização diária das imagens.

Antônio Victor Fonseca aponta outra razão para críticas ao discurso do presidente Temer, as iniciativas do governo federal e do Congresso que reduzem ou reduzem o nível de proteção de Unidades de Conservação. “Tem vários poréns, como o crescente desmatamento em áreas protegidas”, afirma o engenheiro ambiental.

Ele destaca também que julho teve um nível de desmatamento bem perto do ano passado. Até outubro, quando ocorrem menos chuvas na região, o período historicamente com maior derrubada de árvores.

O Inpe ainda não divulgou os dados deste ano, mas a tendência vista até agora é de redução em relação ao ano passado. A consolidação da taxa de desmatamento de 2016, apresentada no final de agosto, trouxe um aumento de 27% em relação ao ano anterior. E em 2015, já havia sido registrado aumento na área desmatada na Amazônia.

 

 

Leia Também

20

Amazônia: em 4 anos, desmatamento em Unidades de Conservação quase dobra

Amazônia: em 4 anos, desmatamento em Unidades de Conservação quase dobra

 

 

Leia também

Reportagens
20 de março de 2017

Amazônia: em 4 anos, desmatamento em Unidades de Conservação quase dobra

Estudo da ONG Imazon aponta o aumento e lista as áreas mais críticas, que se concentram em UCs de uso sustentável. Pará e Rondônia lideram ranking

Colunas
19 de março de 2025

Brasil na encruzilhada: paradoxos entre a sede da COP 30 e a crise hídrica da Amazônia

Enquanto diplomatas discutem soluções para o futuro, milhões de brasileiros já sofrem com a falta d’água. O colapso dos rios amazônicos não é uma previsão – ele está acontecendo

Reportagens
19 de março de 2025

Qual o tamanho da responsabilidade do ser humano na crise climática?

Em entrevista ao podcast Planeta A, Miriam Garcia discute as responsabilidades comuns e diferenciadas entre as nações na crise climática e os impactos em cada país

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1

  1. POis é diz:

    Tá. Mas e quando Lulah inventava dados na maior cara dura e todo mundo achava graça? Vide: https://youtu.be/M5bOtqmvJHE