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Ucranianas flagradas com ovos de arara-de-lear devem ficar no Brasil durante investigações

Entidades conservacionistas pedem mais ação do poder público frente à vulnerabilidade da espécie ameaçada de extinção

Aldem Bourscheit ·
5 de fevereiro de 2024

Duas ucranianas flagradas com ovos de arara-azul-de-lear tiveram seus passaportes retidos e deverão ficar no Brasil durante as investigações por suposto tráfico internacional. A Justiça Federal permitiu de início que seguissem em liberdade mediante pagamento de fiança, mas acabou determinando sua prisão preventiva.

Com vistos de turistas, as ucranianas foram detidas na última sexta-feira (2) pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-116, em Minas Gerais. Elas trafegavam de carro entre Salvador (BA) e São Paulo (SP), de onde voariam do aeroporto de Guarulhos ao vizinho Suriname.

Os seis ovos que portavam numa “chocadeira portátil” teriam sido comprados na região de Barreiras, a cerca de mil quilômetros da capital baiana, relataram à Justiça as investigadas. O aparelho é facilmente comprado pela Internet ou em lojas físicas, a partir de R$ 25,00.

Todavia e incrivelmente, os ovos foram quebrados pelas ucranianas quando já estavam sob custódia, pois foram deixados com uma delas na viatura que a transportava para registrar a ocorrência. O ato também é considerado crime pela legislação brasileira. 

Na decisão inicial, a Justiça Federal registra que órgãos policiais e ambientais recebiam repetidas denúncias de que “mulheres estrangeiras que se diziam ucranianas” visitavam com frequência aquela região baiana durante a reprodução da espécie, sob alto risco de extinção. 

Apesar disso, esses emplumados são alvo corriqueiro de ilícitos, dentro e fora do Brasil. A pressão de traficantes brasileiros e internacionais cresce porque menos de 2 mil dessas aves ainda vivem livres no interior da Caatinga.

Há uma semana, um casal de arara-azul-de-lear foi apreendido em Mairiporã (SP). Em maio passado, 3 araras-azuis-de-lear foram confiscadas no Aeroporto Internacional de Daca, capital de Bangladesh. Contudo, antes de retornarem ao Brasil, foram declaradas mortas pelo governo do país asiático.

Em julho passado, 29 araras-de-lear e 7 micos-leões-dourados, também exclusivos do Brasil, foram confiscados em Paramaribo (Suriname). Mas, horas antes de serem repatriadas, 24 araras foram roubadas. Seu paradeiro e os responsáveis pelo crime ainda não foram identificados. 

Indignação coletiva

Frente ao insistente tráfico da ave brasileira, entidades conservacionistas lembram que os esforços para aumentar sua população natural são minados pelo comércio ilegal, destruição de hábitat e acidentes na rede elétrica e pedem ações urgentes e firmes das autoridades públicas.

As “apreensões apontam para uma muito bem estruturada quadrilha de traficantes internacionais operando com muita liberdade no Brasil. A nossa fauna está sendo saqueada por profissionais com habilidade para lidar tanto com aves capturadas adultas quanto com frágeis ovos”, destaca o manifesto.

O documento denuncia, ainda, que os criminosos “contam com a colaboração de criminosos brasileiros que vivem nos locais onde as araras habitam, que são os responsáveis por identificar os locais de nidificação ou de concentração de araras, para a sua captura e entrega aos traficantes internacionais”.

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

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Comentários 1

  1. Aliomar Almeida diz:

    Existem inúmeros fatores que colocam a espécie em risco.
    O tráfico é um deles, mas os licenciamentos ambientais concedidos com pouco rigor e afrouxamento das normas legais, representam uma das principais ameaças ao futuro da espécie.
    Importante ressaltar o eficiente e rápido trabalho dos órgãos de controle e fiscalização, que buscaram informações e agiram em cooperação, levando ao êxito na prisão.