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Tem jeito

Problemas não faltam ao Parque Estadual da Serra da Tiririca (RJ). Mas em vez de dar murro em ponta de faca, a nova administração aposta na conciliação.

Andreia Fanzeres ·
29 de julho de 2005 · 19 anos atrás


Aqueles que preferem um pouco mais de aventura entram no parque pela mesma trilha que leva ao costão, mas num entroncamento têm a opção de ir ao Bananal – uma enseada cheia de blocos de pedra salpicados com grampos de escalada que, de vez em quando, recebe a visita de tartarugas marinhas – ou então ao Alto Mourão. Chegar ao topo da montanha, com seus 412 metros, maior portanto que o Pão de Açúcar, compensa: de lá avistam-se as lagoas de Itaipu e Piratininga, todas as praias da região oceânica de Niterói, a baía de Guanabara, a estátua do Cristo Redentor, a Pedra da Gávea, as montanhas do Parque Nacional da Tijuca, no Rio, e as do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, na região serrana. E isto só de um lado da pedra. O outro permite ver as lagoas de Maricá e o início da longa faixa de restinga que sobe pela região litorânea até Arraial do Cabo.


Mesmo com tantas razões para cuidar bem desse patrimônio, por muitos anos uma placa velha e retorcida era tudo que informava ao caminhante de Itacoatiara que ele estava entrando numa unidade de conservação de proteção integral.


Centenas de ruas e vários condomínios estão localizados dentro do parque – um problema que nasceu junto com a criação da unidade, quando as demarcações levaram em conta a altitude do terreno, não seu estado de ocupação. Isto fez com que algumas áreas já urbanizadas e sem qualquer relevância ecológica fossem integradas ao parque, e automaticamente tornadas irregulares.

Mas há também construções recentes no parque e em seu entorno, considerado zona de amortecimento, sujeita a restrições de ocupação. Normalmente ignoradas, essas irregularidades só vêm à tona quando os órgãos públicos decidem surpreender em operações de fiscalização, como a realizada no dia 28 de julho pelo Instituto Estadual de Florestas.

Para redimensionar a área da serra com limites definitivos, uma comissão formada por ongs, associações de moradores e representantes do poder público elaborou, votou e aprovado um estudo em 2001. Mas para sair do papel ele depende de uma mísera assinatura da governadora do estado. E tem prazo de validade: termina em agosto.


Mas Marcelo também vê melhorias sutis em suas andanças. Desde que o novo administrador assumiu, no início de 2004, o parque dá sinais de que há, de fato, uma equipe tomando conta da Serra da Tiririca. O engenheiro florestal Nestor Prado Junior recorre à criatividade para fazer render o orçamento pífio destinado pelo estado às suas unidades de conservação. “No começo, tive que inovar as coisas com custo quase zero. Cheguei aqui sem carro, sem sede, sem telefone e com funcionários desmotivados depois de ficarem oito meses sem administrador”, relata. O parque estava à deriva desde que o geógrafo Alex Figueiredo pediu demissão, em agosto de 2003, depois de constantes embates com invasores e até ameaças de morte. “Eram muitas questões e o estado não dava segurança suficiente para podermos fazer o nosso trabalho”, explica-se Alex.


Nestor demonstra orgulho pelos resultados obtidos e fala entusiasmado sobre o que ainda está por vir. “Conseguimos resgatar a identidade social da serra. O que falta agora é a identidade enquanto parque estadual. E isso só teremos depois de implantado o plano de manejo e estabelecidos os limites definitivos”, diz. “Hoje as pessoas sabem que estamos aqui fazendo alguma coisa pelo parque. A
Companhia de Limpeza Urbana de Niterói (Clin) nos ajuda com a manutenção do mirante de Itaipuaçu, mesmo ali sendo município de Maricá. E graças ao trabalho de conscientização, com apenas duas lixeiras já não temos muitos problemas com o lixo na área mais visitada”.


Apesar do muito serviço por fazer, já dá para entender o recado de Antônio Luís Lopes Vieira, do setor administrativo. Do alto das cinco gestões que já presenciou, ele sentencia: “Hoje nós temos parque”.

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

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