Depois de dois meses de intervenção por causa de denúncias de corrupção interna, o Ibama de Mato Groso está sob nova direção. O novo gerente executivo de Cuiabá, que comanda todos os demais escritórios do estado, é o analista ambiental Paulo Fernando Maier, de 39 anos. Ele está apenas há três anos no Ibama, mas mostrou a que veio quando no fim de 2004 seguiu uma orientação de Brasília para cancelar todos os planos de manejo que não tivessem documentos de posse legalizados. Foi o único no Brasil que o fez e deixou o setor madeireiro aterrorizado. O próprio governo federal teve que rever a ordem dada.
Paulo é gaúcho e formado em engenharia agrônoma. Antes de prestar prova para o Ibama em 2002, trabalhou para a iniciativa privada com projetos de agricultura familiar e para a secretaria de meio ambiente do Rio Grande do Sul. Pisou pela primeira vez na Amazônia à trabalho e já como funcionário do Ibama. No Mato Grosso só esteve duas vezes e, como ele mesmo reconhece, de passagem. Mas isso não parece pesar contra a escolha dele para o novo cargo.
Durante a apresentação de Paulo Maier para os funcionários do Ibama de Cuiabá, o presidente do Instituto, Marcus Barros, disse que ele tem o perfil técnico, gerencial e a capacidade política de negociação necessária para assumir a função. O próprio Paulo Maier acredita que enfrentará problemas muito parecidos com os que ele esbarrou em Santarém, “ A realidade não difere muito. Os principais problemas são os desmatamentos e as queimadas”. Para ele, a particularidade do Ibama de Mato Grosso é a devassa desencadeada pela operação Curupira, que desbaratou um esquema de fraude e corrupção para obtenção de ATPF´s ( documento que legaliza o transporte de madeira). No dia 2 de junho, a justiça federal ordenou a prisão de 47 servidores do Ibama, incluindo o então gerente –executivo de Cuiabá, Hugo José Scheuer Werle. O cargo foi ocupado interinamente pelo procurador Elielson Ayres de Souza, que botou ordem na casa e passará as chaves oficialmente para Paulo Maier na quarta-feira, dia 10.
“Ele conhece a realidade do setor madeireiro e do agronégócio”, diz Marcelo Marquesini, engenheiro Florestal do Greenpeace na Amazônia e até 2003 chefe Nacional de Fiscalização do Ibama. Já o setor madeireiro do Pará, alfineta: “ Se a intenção do governo é paralisar toda forma de uso da floresta, escolheram a pessoa certa para o cargo. Em Santarém ele se mostrou claramente contra o manejo da floresta. Mesmo sendo sustentável”, comentou Wagner Krambauer , presidente da União das Indústrias Florestais do Estado do Pará, a Uniflor.
Atualmente só existem seis planos de manejos aprovados e em execução na região oeste do Pará fiscalizada pelo escritório de Santarém. Segundo Paulo Maier, o problema não é com o Ibama, mas com a qualidade dos planos de manejo apresentados: “Dificilmente se recebe um plano de manejo onde não haja a necessidade de se cobrar a documentação adequada e algumas mudanças. Fora os planos de manejo com problemas fundiários”. Marcelo Marquesini é da mesma opinião: “Menos de 5% dos planos de manejos são bons. A maioria segue as regras até a fase de documentação, mas na hora de entrar com as máquinas é uma desastre”, revela.
Na página oficial do Ibama na internet, o órgão anunciou a preparação de uma força tarefa para acelerar a liberação de planos de manejo florestal nas cidades mato-grossenses de Cuiabá, Juína e Sinop. Avisou também que a diretoria de florestas fará auditoria dos planos concedidos desde 2001 para o Mato Grosso. Só não deixou explícito que Paulo Maier assumiu interinamente a gerência executiva de Cuiabá enquanto a Casa Civil avalia a sua indicação. Talvez porque Marcus Barros já considere a nomeação quase consumada:” Isso é um noivado com promessa de casamento”, explicou aos servidores do Ibama de Mato Grosso depois de apresentar Paulo ao governador Blairo Maggi. Paulo foi convidado a assumir o cargo no dia 1 de agosto.
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