Reportagens

Filho de Francisco

Engenheiro xará do rio famoso passou quase meio século registrando belezas e mazelas do Velho Chico. Ele teme que seu companheiro não resista à degradação.

Ana Antunes ·
7 de outubro de 2005 · 20 anos atrás

O engenheiro agrônomo Francisco Lopes Filho é um cearense apaixonado pelo rio São Francisco. Por quê, ele não sabe explicar. Talvez seja por dividirem o mesmo nome ou pelo fato de ter ficado impressionado com a imensidão de água quando chegou ainda menino a Juazeiro, Bahia. O que sabe é que desde os 16 anos, quando ganhou sua primeira câmera fotográfica, registrar imagens do rio passou a ser uma obsessão. “O pôr-do-sol visto daqui é deslumbrante”, diz ele.

Um dos sonhos de Francisco é publicar um livro, mas até agora ele não conseguiu ir muito longe. São milhares de fotografias e um projeto pronto, mas ainda não há patrocinadores à vista. “Sabe como é que é, não é? Arranjar verba é difícil. Mas eu estou correndo atrás de patrocinadores e vou mandar o projeto agora para o Banco do Nordeste”, diz ele.

Francisco começou a trabalhar cedo. Enquanto cursava o curso de Agronomia, fazia análises de solo e água para a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Porém logo começou a acreditar em seu futuro como fotógrafo. Na faculdade, ganhava mais dinheiro tirando fotografias e preparando slides para os professores do que no seu trabalho.

Da agronomia veio o gosto pela macrofotografia. Insetos e pequenos detalhes de plantas passaram a fazer parte do seu acervo fotográfico devido aos estudos que desenvolveu na faculdade. Ele ganhou vários prêmios em todo o Brasil na década de 70 e publicou fotos em diversos jornais do nordeste, como A Tarde, de Salvador, e Jornal do Commercio, de Recife.

Depois que a Sudene de Petrolina fechou, Francisco foi trabalhar como pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Lá, ele usou o hobby como ferramenta para palestras e apresentações a estudantes e agrônomos de outros lugares.

Agora que está aposentado, Francisco se ocupa de retratar o cotidiano das cidades de Petrolina e Juazeiro para a sua pequena agência de fotografia. Ele diz que fotografar “assuntos que envolvem gente” não lhe dá prazer, embora, vez por outra, precise registrar eventos como posse de prefeito ou desfile de moda. Seu foco principal, insiste, é o rio. “Depois que eu morrer vão ter que criar um Instituto Francisco Lopes Filho para abrigar todas essas fotos, para as pessoas poderem pesquisar”, brinca ele.

Francisco está organizando uma exposição sobre fruticultura na caatinga para ser apresentada na Feira Nacional de Agricultura Irrigada, que acontece de 26 a 30 de outubro em Juazeiro. Planeja também montar uma exposição só de fotos do Rio São Francisco em Juazeiro ou Petrolina.

Depois de 47 anos fotografando o Velho Chico, ele sabe como ninguém o que o rio anda sofrendo, enfraquecido ano após ano.

A preocupação com sua principal fonte de inspiração está espelhada nos registros fotográficos que mostram a degradação do rio. “O São Francisco está secando aos poucos”, testemunha. Sobre o projeto da transposição promovido a toque de caixa pelo governo federal, Francisco não precisa nem pensar duas vezes. “Com o rio assim, o governo ainda quer transpor as suas águas para outras regiões”, queixa-se.

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