A Organização Mundial de Saúde (OMS) adverte: o aquecimento global faz muito mal à saúde. Por ano, a elevação que o fenômeno provoca nas temperaturas causa diretamente mais de 5 milhões de casos de doenças e 150 mil mortes.
Como o mundo é injusto, a maioria das moléstias e mortes ocorre na África, Ásia e América do Sul, em nações cuja contribuição para o efeito estufa é infinitamente menor do que a dos países desenvolvidos. Mas se nada for feito para reverter a situação, eles também não perdem por esperar. Em menos de um século, gente aos borbotões poderá estar morrendo, por exemplo, em plena Califórnia por causa do calor.
O alerta catastrófico está ancorado em estudo conduzido pelo Centro Gaylord Nelson de Pesquisa Ambiental da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e chancelado pela OMS. O trabalho saiu publicado na última edição da revista Nature. Ele leva a assinatura de um grupo de cientistas envolvidos com mudanças climáticas e saúde pública, liderados por Jonathan Patz, professor de saúde pública na Universidade de Wisconsin. “A vontade política dos governos tem papel fundamental no controle futuro das ações do homem que produzem impacto nas mudanças climáticas”, diz Patz, de olho principalmente na resistência da Casa Branca de George Bush em pelo menos reconhecer que o problema existe.
A pesquisa, que cruzou dados de doenças associadas à elevação de temperatura com informações sobre variação climática em torno do planeta, lembra que o calor acelera por exemplo o desenvolvimento do parasita que, através do mosquito, transmite a malária. Nos últimos anos, súbitos aumentos de temperatura têm provocado crescimento no número de casos da doença. Dados de 2000, ano em que o clima no Peru foi diretamente afetado pelo El Niño, indicam que o calor fez crescer a incidência de diarréia em crianças. As doenças infecciosas são as que mais se beneficiam, no curto prazo, dessa situação. Como a dengue.
O estudo afirma que seu repentino ressurgimento em áreas da América do Sul, África e Sudeste da Ásia nos últimos anos tem tudo a ver com o aquecimento da Terra. Na semana passada, a própria OMS disse que o calor repentino e as fortes chuvas que caíram este ano sobre o Sudeste asiático provocaram uma epidemia da doença, que infectou 120 mil pessoas e deixou um saldo de mil mortes. A relação entre temperaturas altas e a incidência de doenças infecciosas foi estabelecida há muito tempo. O que a pesquisa publicada na Nature mostra é que a repetição de ciclos climáticos marcados pelo calor aumenta a capacidade desse relacionamento prosperar.
Além do crescimento da incidência de moléstias, o estudo aponta para o fato que catástrofes naturais como enchentes e furacões também tendem a ser influenciadas por mudanças bruscas no clima e se constituem, igualmente, numa espécie de segundo impacto nocivo do efeito estufa sobre a saúde pública. O texto prevê, com base em modelos climáticos, que por volta de 2080 esses desastres naturais afetarão diretamente as vidas de 200 milhões de pessoas. A qualidade do ar, se nada for feito para reverter o processo, também tenderá a decair, pois o calor e o sol provocam reações na atmosfera que pioram os efeitos da poluição. As perspectivas são de que, em meados desse século, o Sudeste dos Estados Unidos, onde ficam cidades como Nova Iorque, Boston e Washington, terá um índice de poluição por ozônio 60% maior que o atual.
Há quem ache que o trabalho da equipe liderada por Patz, embora meritório, exagera em culpar o aquecimento global pela ressurgência de ameaças à saúde pública no Terceiro Mundo. John Cristy, climatologista da Universidade do Alabama, disse ao The Washington Post que os governos dos países que aparecem sob maior risco sofrem por conta da corrupção e da falta de interesse em manter suas populações saudáveis.
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