Reportagens

Volta por cima

A ecologista Miriam Prochnow, que denunciou o crime ambiental cometido pelo donos da usina de Barra Grande, recebeu o Prêmio Ford de Conservação Ambiental.

João Teixeira da Costa ·
25 de novembro de 2005 · 19 anos atrás

Ao receber, nesta sexta-feira, 25, o Prêmio Ford de Conservação Ambiental, Miriam Prochnow poderia sentir um sabor meio doce meio amargo. A premiação coincide com a elevação das águas no reservatório da usina hidrelétrica de Barra Grande.

Mas Miriam está feliz. Para ela, Barra Grande será um marco na preservação ambiental no Brasil. “Não pode haver mais Barras Grandes no Brasil. É preciso esmiuçar a Fantástica Fábrica de Eia-Rimas, se antecipar para que impedir que a fraude se repita”, disse ela ao receber o Prêmio. Olhando para frente, Miriam fala em superar as derrotas e buscar novos desafios. Fala em novos projetos, como a ampliação do viveiro de sua ong Apremavi, das atuais 600 mil mudas/ano para 1 milhão. Promete brigar para que o plano de aproveitamento hidrelétrico do Rio Uruguai seja revisto, pois do jeito que está, com 20 barragens planejadas, ele “transformará aquele rio em uma seqüência de lagos”.

Miriam confessou estar orgulhosa de ver o seu nome ao lado de tantas pessoas importantes. De fato, nos seus dez anos de existência o Prêmio Ford já contemplou grandes personalidades do ambientalismo brasileiro, nomes familiares para os leitores de O Eco como Adelmar Coimbra-Filho, Niède Guidon, Maria Tereza Jorge Pádua e Paulo Nogueira-Neto. São cinco os premiados por ano, escolhidos através de um processo de seleção bastante transparente, coordenado pela ong Conservação Internacional.

Não existe compensação para a perda das bromélias, das araucárias e da paisagem destruída por Barra Grande, que Miriam documentou antes do fechamento da barragem. Mas ganhar o prêmio é um reconhecimento, especialmente para alguém que ainda não se acostumou a ser chamada de “guerrilheira verde” ou “mafiosa ambiental”, como tem acontecido nos últimos meses, nos discursos de quem não se conforma em ver uma única ecologista enfrentando grandes interesses empresariais. O caso de Barra Grande deve servir para impedir que se perpetuem outras fraudes em nome de uma lógica econômica que só pode ser qualificada de obtusa.

Mulheres influentes

Também na sexta-feira, foi anunciado o resultado da terceira edição do Prêmio Tecnologia Social, da Fundação Banco do Brasil. O vencedor, entre 658 inscritos, foi o projeto “Café com Floresta – Criando suficiência alimentar e biodiversidade ecológica”, da ong Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ.

O projeto foi criado em 2002 em Pontal do Paranapanema, São Paulo, para garantir suficiência alimentar para moradores de assentamentos da reforma agrária, mentando a floresta de pé. Atualmente, o “Café com Floresta” ajuda 40 famílias, que cultivam café sem agrotóxico e reservam um hectare de sua propriedade para plantar árvores nativas da região.

É o segundo prêmio recebido por Suzana Pádua em menos de uma semana. No dia 22 de novembro, a presidente do IPÊ e colunista de O Eco foi selecionada como uma das “Mulheres Mais Influentes do Brasil” pela Forbes, na categoria Ecologia.

* Colaborou Ana Antunes.

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