Sofrimento e alegria. Sorrisos, bocejos. Olhares de carinho. O que notamos diariamente em rostos humanos não são expressões únicas à nossa espécie. Animais também amam, odeiam, se enraivecem, se divertem, sorriem e sentem dor. Não é necessária uma comprovação científica para a afirmação de que os animais têm sentimentos. Basta uma fotografia. Ou várias. Como comprova o trabalho de dois fotógrafos.
Theo Allofs cultiva paixão pela natureza desde pequeno. Nascido na Alemanha, começou suas viagens pelo mundo ainda adolescente. Mas foi há dez anos que tomou a decisão de dedicar a vida a observar animais e focá-los em suas lentes. Seus principais clientes são as espécies em extinção, nos habitats mais ameaçados, como revela em seu site pessoal. Dentre os destinos que considera seus favoritos está o Pantanal, tema de seu livro “South America’s Wetland Jewel”, produto de seis viagens ao local.
Numa reportagem para o último número da revista Photo Life, Allofs revela o que considera uma das mais importantes lições que adquiriu durante sua carreira de fotógrafo. “Os animais expressam seus sentimentos e os seres humanos respondem a essas expressões”, garante ele. “A interpretação pessoal de cada cena geralmente nos faz lembrar de nós mesmos”.
Agrupar esses sentimentos na categoria dos instintos nos separa com folga de nossos possíveis ancentrais. Mas, segundo Allofs, isso não passa de uma tentativa de eximir a raça humana da culpa pelos maus-tratos aos animais. Com intenção de chamar a atenção para o perigo de tantas espécies sumirem do mapa, o fotógrafo se dedica a capturar imagens expressivas, que nos aproximam da vida dos bichos, em suas várias manifestações.
O foco das lentes fica nas ações e expressões, sem nenhuma preocupação com o fundo onde se encontram. Podem ser filhotes brincando ou sendo cuidados pelos pais, que variam de pingüins, tigres, elefantes, macacos…canguru. Uma das fotos de Allof é exatamente um abraço da mamãe canguru na cria. Tem também o animado banho de dois hipopótamos num rio, capaz de tocar até o mais insensível coração. Allofs termina seu relato à revista com uma crítica às fotos de natureza que revelam muita técnica do fotógrafo, mas pouca emoção.
“Espírito humano”
A idéia parece ter um futuro promissor. Outro talentoso fotógrafo, o holandês Frans Lanting expõe igual preocupação através de suas lentes. Defensor da tese de Allofs, ele acredita que nossa sociedade tem dificuldades em “perceber o espírito humano nos bichos e a identidade animal em nós mesmos”. Ele define seu trabalho como um olhar dado àqueles que nunca tiveram a chance de estar perante um elefante ou um leão.
Assim nasceu seu livro, “Eye to Eye”, que é isso mesmo: uma chance de mirar os bichos olho no olho. A multiplicidade de espécies e de ambientes impressiona. Os modelos são um orangotango em posição de ataque, um sapo selvagem descansando ou um close de um leão das montanhas fitando de perto o fotógrafo. No site de Lanting é possível ver as fotos e os comentários dele.
Se a moda pega, retratos de animais selvagens serão as próximas estrelas do mundo da fotografia de natureza. O prêmio BBC Wildlife Photographer of the Year, dedicado à modalidade e do qual Frans Lanting já foi vencedor, trouxe este ano como finalistas vários retratos de animais. Dois ursos polares num abraço, patos com olhar de fome, e um peru apelidado de Barão Malvado por sua expressão de zanga.
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →