Reportagens

Paraíso de água

Ibama volta a namorar a idéia de ampliar o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense, uma jóia entre as Unidades de Conservação do país. Se isto vai acontecer, só a política dirá.

Manoel Francisco Brito ·
18 de outubro de 2006 · 18 anos atrás

Originalmente, ele foi pensado para fazer completa justiça ao seu nome. Criado em 1981, o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense começou a ser desenhado na cabeça da burocracia ambiental brasileira em fins da década de 70 e o plano era estabelecê-lo juntando principalmente duas imensas fazendas de gado na região. A do Caracará, do carioca João Borges, já naquela época completamente alagada pelas águas que vieram com a grande cheia de 1974, e a do Acurizal. Seu dono era o paulista Horácio Coimbra, amigão do então ministro da Fazenda Delfim Neto e proprietário de um banco e de uma fábrica de café solúvel que atendiam pela mesma marca, Cacique. Ao contrário da propriedade vizinha, a maior parte do Acurizal resistiu à subida das águas de 1974.


Brant esteve por lá na última quinzena de setembro para, como ele diz do seu jeito meio enigmático, “dar uma geral na região”. Traduzindo, o Ibama voltou a se interessar pela possibilidade de ampliar os domínios da Unidade de Conservação e fazer com que seu nome de Parque Nacional do Pantanal ganhe seu total sentido. “Tem muita coisa que está fora dele que tem tudo a ver com o que está dentro em termos de conservação”, diz Brant. A Oeste, tem a imponente serra do Amolar, cuja maior parte não é área protegida. “E também as Reservas Particulares do Patrimônio Nacional (RPPN) administradas pela Ecotrópica que fazem fronteira com o Parque ”, lembra José Augusto Ferraz, seu diretor desde 1999.

Espaços para crescer


Há conversas entre a Ecotrópica e o Ibama sobre essa possibilidade, mas elas ainda estão distantes de um ponto final. Ferraz, o diretor do Parque, diz que se lhe coubesse a decisão para priorizar uma área para expansão, preferia que a Unidade primeiro crescesse no rumo Leste, até a margem do rio São Lourenço, para casar seus limites por aquelas bandas com um acidente geográfico de expressão. Fora as possibilidades de expansão para os lados, o Parque Nacional do Pantanal também pode muito bem crescer para cima ou para baixo. Não faltam áreas ao Sul e ao Norte de interesse para a conservação de ecossistemas típicos do Pantanal.

“Estamos em estudos para ver o que pode ser feito e o que é mais viável, se é incorporar áreas ao Parque ou criar um Parque novo, adjacente”, diz Brant sem dar muita pista do que poderá acontecer. A razão é simples. Depois de 24 anos de serviço público, ele sabe muito bem que aquilo que é tecnicamente recomendável nem sempre é politicamente aceitável. A área no entorno do Parque tem baixíssima densidade populacional, mas está em mãos privadas. Ampliar a área de conservação custa dinheiro, uma mercadoria escassa em órgãos como o Ibama. “É muito difícil prever o que pode sair desse novo levantamento”, diz Brant. Seja lá o que vier, o fato é que mesmo nos seus 135 mil hectares atuais, a maioria alagada, o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense é uma jóia rara da natureza.



Dinheiro curto e pressões


“O fogo no Amolar é geralmente iniciado por coletores de isca ou até caçadores”, diz Brant. Ferraz conseguiu fazer acordos com fazendeiros no sentido de manejar de maneira mais cautelosa o fogo em suas propriedades. Contra os coletores de isca, no entanto, o combate só melhoraria com o aumento da fiscalização. “O problema é que ela é intermitente”, reconhece Ferraz. Seu Parque não dispõe de funcionários qualificados para exercer este tipo de trabalho, que a rigor só é realizado quando o próprio diretor se encontra por lá. A falta de capacidade para reprimir ilegalidades é responsável pela tranqüilidade com que pescadores esportivos invadem sua área.


Ferraz tem a esperança de que a inclusão do Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense entre os 24 definidos como prioridade no Programa de Visitação nos Parques Nacionais lançado pelo Ibama, traga o dinheiro necessário para os investimentos sem os quais é impossível pensar em turismo dentro dele. Ele conta que há a promessa de investimentos de 1 milhão de reais para preparar o parque para receber visitantes e já sabe exatamente por onde quer que eles andem – pelas bordas da área sul do Parque, fazendo observação de vida silvestre dentro de barcos leves. “Dando certo, eventualmente a gente estuda a expansão dessas atividades”, diz. O problema é saber se o Programa de Visitação vai mesmo decolar. Por enquanto ele está parado, sem um coordenador, e sujeito as eternas restrições orçamentárias do Ibama.

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