Reportagens

Estratégia de guerra

Começou a Avaliação Ambiental Estratégica do Pantanal, estudo que vai calcular os impactos ambientais do crescimento do pólo minero-siderúrgico em Corumbá e Bacia do Alto Paraguai.

Felipe Lobo ·
6 de junho de 2007 · 17 anos atrás

A preocupação em torno da edificação de um pólo minero-siderúrgico em Corumbá (MS) ganhou um forte aliado no fim de maio. A Coppe-UFRJ foi contratada para começar os trabalhos de desenvolvimento de uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) para a região, estudo que vai calcular o impacto causado por empreendimentos atualmente em construção ou em fase de planejamento na Bacia do Alto Paraguai, em pleno Pantanal. A análise é fruto de um processo de discussão que começou ano passado entre empresas, governo e sociedade civil e culminou com a decisão de se examinar os impactos ambientais do pólo de forma mais abrangente do que a prevista em estudos de impacto ambiental (Eia-Rima).

Um Eia-Rima se caracteriza por analisar possíveis impactos ambientais decorrentes de um empreendimento específico com potencial de degradação, além de propor medidas de mitigação ou compensatórias. Trata-se de um procedimento obrigatório para que um determinado tipo de obra adquira licença para começar e, posteriormente, para o empreendimento funcionar. Já a Avaliação Ambiental Estratégica a ser realizada pela Coppe somará o impacto de todas as obras previstas para a região do pólo e analisará a degradação do empreendimento sob uma perspectiva mais ampla. “A análise vai tratar de uma situação hipotética ou real (já com atividades, empreendimentos acontecendo) confrontando-a estrategicamente com outros interesse, tais como ecoturismo, conservação, pesca e/ou pecuária extensiva indicando riscos de prejuízos e/ou potenciais benefícios ambientais”, afirma Miguel Milano, engenheiro-florestal da Avina e um dos articuladores do processo.

No dia 27 de junho haverá a primeira reunião geral entre os técnicos do Laboratório Inter-disciplinar do Meio Ambiente (LIMA/ Coppe-Rio), coordenado pelo pesquisador Emílio la Rovere, e os participantes da Plataforma de Diálogos, como são chamados os encontros. No evento, o assunto será apresentado para a comunidade de Corumbá e algumas expectativas dos membros do projeto serão expostas. Também será necessário coletar todos os dados existentes da região com as diversas secretarias e governo do estado, além de diagnosticar os planos de crescimento das empresas presentes na região, inclusive as que não assinaram o acordo.

A pesquisadora do LIMA Heliana Vilela lembra que a avaliação é aplicada na fase de planejamento, e não depois que a ação foi realizada. “Iremos trabalhar com o processo de desenvolvimento de indústrias no Pantanal. Não apenas o pólo meniro-siderúrgico será avaliado, mas também a possibilidade de implementação de um pólo petroquímico e outro energético”, diz. Ela aproveita para lembrar que a metodologia do AAE incentiva a percepção de cenários para sinalizar quais os possíveis efeitos no meio ambiente, as restrições e as condicionantes para a perpetuação de um plano de crescimento econômico.

No dia cinco de fevereiro deste ano, apesar das desistências da Vale do Rio Doce e Rio Tinto, cinco companhias aceitaram financiar a Avaliação: Petrobras (gás e petróleo), MsGás (companhia de gás), MMX, Vetorial e Pirâmide (Mineração e sideruriga). “Nós esperamos que o estudo mostre alguns caminhos possíveis para que o impacto na região seja o menor possível, já que o setor minero-siderúrgico está aí e as obras vão mesmo acontecer”, conclui Eleri Paulino, engenheiro-florestal da Fundação Neotrópica, uma das Ongs parceiras.

Os profissionais ouvidos pelo O Eco foram unânimes ao dizer quais são os principais problemas de obras do porte das que estão previstas para o Pantanal. No campo da mineração e siderurgia, por exemplo, a produção de gusa e aço pressupõe carvão, e no Brasil é utilizado o de origem vegetal. Isso significa que o risco de haver desmatamento para obtenção de madeira é enorme. Um outro grave perigo é associado à hidrovia Paraná-Paraguai, já que o crescimento do volume de carga das usinas pode significar tentativas de ampliação de sua capacidade de transporte. Além disso, a poluição pura e simples e a migração desgovernada em busca de promessas de emprego desqualificado podem exercer grandes pressões na região.

  • Felipe Lobo

    Sócio da Na Boca do Lobo, especialista em comunicação, sustentabilidade e mudanças climáticas, e criador da exposição O Dia Seguinte

Leia também

Notícias
19 de novembro de 2024

G20: ato cobra defesa da Amazônia na pauta do encontro dos chefes de Estado

A Amazônia está de olho" reuniu mais de 100 ativistas neste domingo (17), no Rio de Janeiro, para pressionar líderes presentes no G20 a tomar ações concretas para conservação da maior floresta tropical do mundo

Reportagens
19 de novembro de 2024

Declaração do G20 frustra ao não mencionar fim dos combustíveis fósseis

Documento faz menção ao fim do desmatamento e aumento de ambição no financiamento climático, mas organizações pediam sinais mais diretos

Podcast
19 de novembro de 2024

Entrando no Clima#38 – G20 e COP29 se encontram em Baku

Declaração Final do G20 ecoou nos corredores da COP29, no Azerbaijão, e especialistas repercutem os posicionamentos do fórum econômico

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.