Reportagens

O buraco das araras

Reserva particular recém aprovada garantirá maior acompanhamento da reprodução de araras-vermelhas.Orgãos torcem para que proprietários do Estado sigam exemplo.

Gabriela Machado André ·
20 de julho de 2007 · 18 anos atrás

O roteiro turístico da Serra da Bodoquena, conhecido por reservar as águas cristalinas de Bonito,acaba de ter um de seus muitos destinos naturais transformado em Reserva Particular do Patrimônio Natural, ou RPPN. A área contemplada, de 29 hectares, pertence a fazenda Alegria no município de Jardim, Mato Grosso do Sul, e tem como maior atrativo o Buraco das Araras. O poço de 100 metros de profundidade é local de reprodução das araras-vermelhas, aves valorizadas pelo tráfico internacional de animais.

Na década de 90, a propriedade se sustentava com pecuária. Há dez anos conseguiu uma licença para explorar o turismo na região e passou a receber até 214 turistas por dia. Agora, seus donos
decidiram transformar toda a propriedade na Reserva do Buraco das Araras e dedicar o espaço apenas a atividades relacionadas a turismo e pesquisa científica. Em agosto será iniciado um plano de manejo para a área e um de seus objetivos será garantir mais segurança às araras .

A criação da reserva foi um reflexo positivo do 1º edital do programa de incentivo às RPPNs do Pantanal, desenvolvido em 2005 pela parceria da Conservação Internacional (CI-Brasil) com a Associação de Proprietários de Reservas Privadas (REPAMS). Os critérios de avaliação levados em conta para a aprovação da proposta foram a importância da área na conservação da biodiversidade, a proximidade com outras unidades de conservação e o tamanho da área a ser protegida.

Segundo Roosewelt Sampaio, herdeiro da fazenda Alegria e guia de turismo regional, “com a instituição da Reserva as melhorias serão direcionadas para a parte informativa e científica do lugar. Em agosto, seis técnicos vão fazer o levantamento de fauna, flora e animais, podendo os resultados influir na criação de uma nova regulamentação.”

Segundo o gerente do Programa Pantanal, Sandro Menezes Silva, as reservas privadas têm um papel importante na formação de conexões entre os remanescentes de vegetação do entorno do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. No contexto pantaneiro, cerca de 98% das áreas naturais estão em propriedades particulares. Em termos efetivos, a RPPN recém reconhecida contribui com a zona de amortecimento do Parque e propicia a ligação com a RPPN Cabeceira do Prata. Em outras palavras, quanto maior a área a ser preservada, mais fortalecido se torna o Pantanal.

A contribuição aos proprietários que candidatam suas terras ao título de Reserva (o passo-a-passo do processo se encontra no site da REPAMS retorna na forma de auxílios como: isenção de imposto sobre propriedade rural, preferência na análise do pedido de concessão de crédito agrícola e prioridade na análise de concessão de recursos para projetos de implantação e gestão das áreas, pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). O município que abriga a reserva também ganha com recebimento de ICMS ecológico – ferramenta fiscal que repassa recursos para a conservação da natureza.

Das áreas aprovadas no 1º Edital, cinco RPPNs estão em processo de reconhecimento e dez finalizaram seus projetos de implementação. Com a aprovação das reservas propostas no 2º Edital, realizado ano passado, o Pantanal ganhará mais oito áreas protegidas em propriedades privadas no estado de Mato Grosso do Sul. Com a criação da Buraco das Araras, o estado conta com 34 RPPNs reconhecidas, somando 118 mil hectares de unidades de conservação em terras privadas que asseguram a proteção de amostras de Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal.

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