Ele realiza levantamentos em ambientes ultra profundos sob influência das perfurações petrolíferas na costa brasileira. Presta serviços às maiores empresas em atuação no Brasil do setor. Mas não mede palavras ao dimensionar a tragédia ambiental que se avizinha decorrente da exploração de novas jazidas de petróleo descobertas numa faixa de cinco a sete quilômetros de profundidade, na camada pré-sal. Para Jules Soto, geógrafo da Universidade do Vale do Itajaí (SC), as pressões pela exploração são tão gigantescas que toda contestação sobre este assunto pode ser comparada aos arranhões de canivetes em um tanque de guerra.
Durante o VI Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), em Curitiba, Soto propôs um exercício de reflexão sobre a escala da exploração da natureza que a humanidade impõe ao planeta. “O petróleo que atualmente retiramos do fundo do mar foi formado entre dois e cinco milhões de anos atrás. Se você parar para pensar que depois de milhões de anos em decomposição uma árvore como a sequóia vira o equivalente a um galão pequeno, imaginem quantas florestas amazônicas tiveram que nascer e morrer para formar essa quantidade de petróleo?”, sugeriu o pesquisador. Segundo ele, há lugares no Brasil em que passam pelas tubulações cerca de quatro mil litros de petróleo por segundo. “Cinco milhões de anos para os depósitos se formarem e 40 anos para serem consumidos”, provocou.
Para o pesquisador, falar em desenvolvimento sustentável nesse contexto não é nenhum pouco coerente, uma vez que a dependência mundial do petróleo continua alta e de uma maneira geral as pessoas não estão abrindo mão de seus confortos. “Dificilmente fontes alternativas de energia atingirão 4% das necessidades energéticas do mundo”, calcula.
Interessado em vantagens eleitoreiras, o governo brasileiro optou por jogar no lixo a imagem de bom moço que investe em energias renováveis através da produção de combustíveis obtidos através da agricultura. Isso, para Soto, foi um erro crasso. “Acham que o petróleo do pré-sal é um baú do tesouro que o Brasil achou enterrado e agora vai resolver todos os problemas de saúde, educação, violência. O pior é que o Brasil não enxerga isso como problema, mas como solução”.
O pesquisador estima que se a produção petrolífera brasileira dobrar da maneira como está sendo anunciado, nós podemos esperar que também haja poluição atmosférica em dobro, para começar. “Ninguém sabe exatamente, mas podemos inferir que teremos aí o dobro de plástico no planeta, de combustível, de gás carbônico, não vai ter como escapar”. Nem mesmo a hipótese levantada pelo especialista em economia ecológica Robert Constanza, da Universidade de Vermont (EUA), de que os recursos do pré-sal poderiam servir como moeda de negociação internacional para que o país receba para não poluir convence Soto.
“Isso é utopia porque o mundo também quer o nosso petróleo. Se não fosse assim aí poderíamos pensar numa alternativa. Não temos força para barrar isso porque o Brasil consome muito dinheiro comprando óleo diesel, por exemplo. Temos auto sustentabilidade em petróleo, mas não conseguimos processar tudo, e temos um déficit de óleo diesel enorme. Isso sem falar na nossa indústria, nosso transporte é rodoviário”.
Diante de perspectivas tão pessimistas, o único paliativo cogitado por Soto seria exigir que governos e petrolíferas investissem pesado em unidades de conservação, para, pelo menos amenizar esse choque. “Tudo que a Petrobras investe em meio ambiente em um ano equivale a alguns minutos de produção de petróleo. Ganhar título de empresa verde ou símbolo de sustentabilidade beira a ofensa a quem realmente trabalha com meio ambiente neste país”, diz Soto. “Por menor que seja essa parcela para o meio ambiente [do pré-sal] ela tem que ser brigada, discutida, o desafio é enorme”.
Leia cobertura completa do CBUC 2009 em http://www.oeco.com.br/cbuc-2009 ou no Twitter
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