Embora as 192 delegações reunidas em Copenhague para a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas ainda tenham uma longa noite pela frente, alguns negociadores e líderes políticos permitiram nesta quinta-feira vislumbrar como deverá ser o já chamado “Acordos de Copenhague”.
O novo tratado climático vai preservar o Protocolo de Kyoto como a lei internacional onde países ricos assumem metas. Ao mesmo tempo abrirá caminho para um novo documento que criará regras para os Estados Unidos e os países em desenvolvimento, como Brasil e China. Além disso, o novo acordo vai conceder um mandado de negociações para que detalhes sejam especificados em futuras reuniões.
Isso não quer dizer que tudo esteja resolvido. Muito pelo contrário. O que existe é apenas “mais claridade” , como disse o secretário-geral da Convenção do Clima (UNFCCC), Yvo de Boer, para onde as negociações estão caminhando. “Os únicos textos que serão negociados serão os textos que saíram dos grupos de trabalho”, disse, acabando com qualquer especulação de que novos esboços do governo dinamarquês seriam colocados sobre a mesa. Até a metade do dia de hoje, não se sabia quais seriam os textos que os chefes de estado teriam que decidir nesta sexta.
Copenhague, portanto, chegou na reta final e agora não tem outra solução: os 110 líderes vão ter que subir no púlpito e mostrar porque vieram parar nesta cidade no meio de uma forte nevasca e temperaturas que podem chegar a -6oC nesta madrugada.
Por aqui estão Lula, Sarkozy, Zapatero, Merkel e muitos muitos outros. Mas a entrada final ficou mesmo reservada a Barack Obama, que chega nesta sexta à 15a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP15) com promessas de salvar o o novo acordo climático .
Nesta mesma madrugada fria, os negociadores vão tentar chegar a um acordo sobre os textos finais . A pressão é enorme para que os trabalhos terminem e que se deixem apenas alguns pontos sobre os quais os presidente terão que decidir. Nesta sexta, a plenária final da COP está marcada para as 15hs e é pouco provável que os chefes-estado deixem a Dinamarca sem uma bonita foto assinando o novo tratado. “Eu prevejo uma noite muito longa”, disse o negociador-chefe do Brasil, Luiz Figueiredo Machado.
Metas e dinheiro
Como hoje acabaram as rusgas sobre o formato que terá o texto da Conferência, chegou a hora de entrar na conversa mais espinhosa, metas de emissões de médio prazo e financiamento ao combate à mudança climática, além é claro do debate sobre como serão monitorados os esforços das nações emergentes, em especial China.
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, esteve em Copenhague nesta quinta e anunciou que seu governo está disposto a liderar um esforço para garantir recursos para um fundo US$ 100 bilhões até 2020. A proposta foi apoiada pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que citou também a cifra em seu discurso na plenária da COP 15.
O anúncio gerou uma onda de esperança pela Conferência até que os países em desenvolvimento começaram a dizer que os recursos ainda não são suficientes. O embaixador Figueiredo afirmou que não há certeza de que a proposta de Clinton inclua de fato dinheiro novo. “Me parece que isso é apenas uma continuidade da mesma proposta feita pelo prêmie Gordon Brown”, observou o negociador brasileiro. Há dois meses, Brown conclamou seus companheiros de países desenvolvidos a se comprometerem com US$ 160 bilhões para financiamento de ações de mitigação e adaptação.
Assim, com relação às finanças é possível que o acordo de Copenhague tenha valores globais para o curto e longo prazo, e jogar para as próximas negociações a definição de como esse dinheiro será distribuído. Neste sentido, o primeiro-ministro espanhol, Jose Luiz Zapatero, falou que seu país terá disponível 300 milhões de euros para as ações imediatas de combate à mudança do clima. Os japoneses também sinalizaram com dinheiro para os fundos climáticos – US$ 11 bilhões de dólares foram anunciados ontem, quarta-feira.
Lula diplomático
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou por 10 minutos na plenária da COP15 e o tom de sua participação foi ameno, avaliam organizações não-governamentais. Ele voltou a defender a posição brasileira de que os países desenvolvidos devem adotar metas de 40% de redução de gases de efeito estufa para serem alcançadas em 2020 comparadas em 1990. O número é o teto que foi indicado pelo cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para que não se ultrapasse um limite de 2oC no aumento da temperatura global. De acordo com o painel, os ricos devem cortar suas emissões em 25% a 40%.
“Se quisermos ser realmente ambiciosos , devemos almejar o patamar de 40%” disse o presidente. Por outro lado, deu indicações que poderá optar pela meta menos ambiciosa de redução de gases de efeito estufa no longo prazo. “A ambição de reduzir em 50%, as emissões globais em 2050, em comparação com ano de 1990, ajudará a assegurar esse objetivo (2oC)”, frisou. No entanto, em esboço preparado pelo grupo de trabalho de Ações de Cooperação de Longo Prazo, além da opção de 50% existem outras bem mais ambiciosas, como a de corte de 80%.
Lula também mostrou em seu discurso, que depois foi reforçado pelo embaixador Figueiredo, de que o Brasil vai optar por uma meta flexível sobre os níveis de temperatura global. Embora o Grupo dos Africanos e a Aliança das Pequenas Ilhas defendam 1,5oC, Lula alinhou-se com os europeus e americanos e fala que 2oC é o alvo que se deve perseguir. A única diferença é que o Brasil quer um texto aberto o suficiente para, caso a Ciência demonstre que é preciso mirar em níveis menores, a Convenção do Clima possa fazê-lo.
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