Biólogo, Chiaravalloti é natural de São Paulo e foi um dos estudantes mais profícuos do IPÊ. Nesta entrevista ele conta mais sobre as ideias debatidas em Escolhas Sustentáveis.
Como começou o projeto de escrever um livro em parceria com Cláudio Pádua?
A ideia desse projeto surgiu durante um almoço, em uma conversa com o empresário co-fundador da Natura Guilherme Leal. A conversa era sobre os futuros da ESCAS (Escola de Conservação Ambiental e Sustentabilidade – mestrado fruto da parceria IPE, Natura Cosméticos e Instituto Arapyaú) e o Guilherme perguntava sobre os resultados das pesquisas que tínhamos realizado na área ambiental, os quais não conseguia enxergar.
O que aquela conversa me fez pensar foi que tínhamos encontrado muitos resultados com as nossas pesquisas, no entanto, toda a informação tinha sido publicada em forma de artigos científicos e, por isso, o Guilherme não tinha lido. Vale lembrar que fora da academia não ler artigos científicos é algo completamente normal; talvez, anormal seja lê-los. Apesar de conter importantes informações, poucas pessoas animam-se a lê-los. Por isso, concluí que seria interessante fazer algo para ligar esses dois mundos, transformando a linguagem científica em algo mais prazeroso de ler.
Passado um tempo, falei sobre essa ideia para o Claudio Padua, que gostou muito. Assim, fiz a minha tese de mestrado baseando nessa ideia e, após finalizada, eu e o Claudio a transformamos em livro.
Você menciona a importância de tornar acessível a ciência ao público. Como isso foi buscado em livro?
A nossa pergunta original era saber como iríamos fazer com que o Guilherme Leal lesse as informações que havíamos publicado em artigos científicos. A primeira resposta, em tom bem humorado, foi: tínhamos que fazer um livro de “banca de aeroporto” de uma hora e meia – que seria o tempo da ponte aérea Rio-São Paulo. Embora o livro não tenha sido feito apenas para ele, concluímos que deveríamos fazer algo nesse caminho. A ideia de ser um livro de uma hora e meia baseava-se na linguagem que iríamos usar. Decidimos usar uma linguagem acessível e, quando possível, bem humorada e com casos do cotidiano. No entanto, poderíamos utilizar essa mesma linguagem em outros tipos de materiais, como por exemplo: manuais. Nesse ponto que entra a primeira parte da nossa resposta “um livro de banca de aeroporto”. Fazer em formato de livro nos daria muito mais acesso ao público que gostaríamos. Como existem livrarias em todo o Brasil, o livro “hipoteticamente” poderia estar acessível a qualquer pessoa, seja ela cientista, empresário ou uma pessoa comum.
Hoje existe uma demanda por informações práticas, de como ser sustentável, em um nível pessoal e empresarial. Você diria que o livro pode atender a estas demandas?
Não. Embora o nome do livro seja “Escolhas Sustentáveis”, em momento algum tentamos decidir pelo leitor suas escolhas. O nosso objetivo com o livro é tentar deixar o leitor com o conhecimento sobre o assunto e a partir dessas informações ele decidir o caminho que deva tomar. Durante os capítulos, mostramos possíveis caminhos e suas consequências, mas tentamos não impor nenhuma decisão. Acreditamos que a escolha é fruto de uma decisão pessoal, e o nosso trabalho é de informar as consequências mas não impor as atitudes.
Depois da pesquisa para o livro, você se vê mais ou menos otimista/pessimista sobre os desafios ambientais que enfrentamos?
Os desafios ambientais são enormes. Se lermos os relatórios da ONU sobre o assunto como o Progress on Sanitation and Drinking-Water ou mesmo o TEEB (The Economics of Ecosystems & Biodiversity) ou artigos científicos como o “A safe operating space for humanity” do Johan Rockström e colaboradores, e compararmos com informações como a do Global Compact no relatório “A New Era of Sustainability” que mostrou que 81% dos 760 CEOs ao redor do mundo acreditam que já incorporaram sustentabilidade no seu cotidiano, existe um perigo quase que inato de entrarmos em depressão – e alguns já entraram! Mas particularmente acredito que vivemos em uma época de mudanças. Hoje o mundo é rápido e as transformações são mais rápidas ainda. Por exemplo, temos um grande aliado a nosso favor: as redes sociais. Outro ponto é que há uma busca crescente por um consumo mais consciente (por exemplo o consumo de orgânicos que cresce quase 14% ao ano). Soma-se que alguns pesquisadores dizem que essa nova era chamada “era do conhecimento” irá trazer mudanças profundas no modelo mental. E dizem que todos esses fatores, combinados com a velocidade das mudanças, atualmente podem ser a chave para um modelo mais sustentável. Por isso, ainda sou otimista, até porque moro em um prédio no sétimo andar sem rede na janela, o dia que mudar para uma casa térrea talvez troque de opinião.
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →