Reportagens

Escolhas Sustentáveis: entrevista com Rafael Chiaravalloti

Autor de obra que busca trazer conhecimento científico sobre os principais temas ambientais, se diz otimista com futuro.

Gustavo Faleiros ·
21 de outubro de 2011 · 13 anos atrás
Rafael Moraes Chiaravalloti é autor do livro Escolhas Sustentáveis, uma parceria com o fundador do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Cláudio Pádua. A obra é um mergulho em diversos campos científicos que hojem lidam com a questão ambiental. Uma tentativa de mostrar como medir e comprovar a existência da tão falada sustentabilidade. O desafio conta o autor foi fazer um livro de “banca de aeroporto” para que o público e os tomadores de decisão pudessem entender o que está por trás de temas tão importantes como o aquecimento global e a redução de diversidade biólogica.

Biólogo, Chiaravalloti é natural de São Paulo e foi um dos estudantes mais profícuos do IPÊ. Nesta entrevista ele conta mais sobre as ideias debatidas em Escolhas Sustentáveis.

Como começou o projeto de escrever um livro em parceria com Cláudio Pádua?

A ideia desse projeto surgiu durante um almoço, em uma conversa com o empresário co-fundador da Natura Guilherme Leal. A conversa era sobre os futuros da ESCAS (Escola de Conservação Ambiental e Sustentabilidade – mestrado fruto da parceria IPE, Natura Cosméticos e Instituto Arapyaú) e o Guilherme perguntava sobre os resultados das pesquisas que tínhamos realizado na área ambiental, os quais não conseguia enxergar.

O que aquela conversa me fez pensar foi que tínhamos encontrado muitos resultados com as nossas pesquisas, no entanto, toda a informação tinha sido publicada em forma de artigos científicos e, por isso, o Guilherme não tinha lido. Vale lembrar que fora da academia não ler artigos científicos é algo completamente normal; talvez, anormal seja lê-los. Apesar de conter importantes informações, poucas pessoas animam-se a lê-los. Por isso, concluí que seria interessante fazer algo para ligar esses dois mundos, transformando a linguagem científica em algo mais prazeroso de ler.

Passado um tempo, falei sobre essa ideia para o Claudio Padua, que gostou muito. Assim, fiz a minha tese de mestrado baseando nessa ideia e, após finalizada, eu e o Claudio a transformamos em livro.

Você menciona a importância de tornar acessível a ciência ao público. Como isso foi buscado em livro?

A nossa pergunta original era saber como iríamos fazer com que o Guilherme Leal lesse as informações que havíamos publicado em artigos científicos. A primeira resposta, em tom bem humorado, foi: tínhamos que fazer um livro de “banca de aeroporto” de uma hora e meia – que seria o tempo da ponte aérea Rio-São Paulo. Embora o livro não tenha sido feito apenas para ele, concluímos que deveríamos fazer algo nesse caminho. A ideia de ser um livro de uma hora e meia baseava-se na linguagem que iríamos usar. Decidimos usar uma linguagem acessível e, quando possível, bem humorada e com casos do cotidiano. No entanto, poderíamos utilizar essa mesma linguagem em outros tipos de materiais, como por exemplo: manuais. Nesse ponto que entra a primeira parte da nossa resposta “um livro de banca de aeroporto”. Fazer em formato de livro nos daria muito mais acesso ao público que gostaríamos. Como existem livrarias em todo o Brasil, o livro “hipoteticamente” poderia estar acessível a qualquer pessoa, seja ela cientista, empresário ou uma pessoa comum.

Hoje existe uma demanda por informações práticas, de como ser sustentável, em um nível pessoal e empresarial. Você diria que o livro pode atender a estas demandas?

Não. Embora o nome do livro seja “Escolhas Sustentáveis”, em momento algum tentamos decidir pelo leitor suas escolhas. O nosso objetivo com o livro é tentar deixar o leitor com o conhecimento sobre o assunto e a partir dessas informações ele decidir o caminho que deva tomar. Durante os capítulos, mostramos possíveis caminhos e suas consequências, mas tentamos não impor nenhuma decisão. Acreditamos que a escolha é fruto de uma decisão pessoal, e o nosso trabalho é de informar as consequências mas não impor as atitudes.

Depois da pesquisa para o livro, você se vê mais ou menos otimista/pessimista sobre os desafios ambientais que enfrentamos?

Os desafios ambientais são enormes. Se lermos os relatórios da ONU sobre o assunto como o Progress on Sanitation and Drinking-Water ou mesmo o TEEB (The Economics of Ecosystems & Biodiversity) ou artigos científicos como o “A safe operating space for humanity” do Johan Rockström e colaboradores, e compararmos com informações como a do Global Compact no relatório “A New Era of Sustainability” que mostrou que 81% dos 760 CEOs ao redor do mundo acreditam que já incorporaram sustentabilidade no seu cotidiano, existe um perigo quase que inato de entrarmos em depressão – e alguns já entraram! Mas particularmente acredito que vivemos em uma época de mudanças. Hoje o mundo é rápido e as transformações são mais rápidas ainda. Por exemplo, temos um grande aliado a nosso favor: as redes sociais. Outro ponto é que há uma busca crescente por um consumo mais consciente (por exemplo o consumo de orgânicos que cresce quase 14% ao ano). Soma-se que alguns pesquisadores dizem que essa nova era chamada “era do conhecimento” irá trazer mudanças profundas no modelo mental. E dizem que todos esses fatores, combinados com a velocidade das mudanças, atualmente podem ser a chave para um modelo mais sustentável. Por isso, ainda sou otimista, até porque moro em um prédio no sétimo andar sem rede na janela, o dia que mudar para uma casa térrea talvez troque de opinião.

Leia artigo de Rafael Moraes Chiaravalloti em ((o))eco

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  • Gustavo Faleiros

    Editor da Rainforest Investigations Network (RIN). Co-fundador do InfoAmazonia e entusiasta do geojornalismo. Baterista dos Eventos Extremos

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