Cuenca
O caminho à cidade de Cuenca pela Serra Central está cheio de contrastes, com montanhas fartas de vegetação e lugares desérticos. Os picos nevados e a cadeia vulcânica da Serra centro-norte do Equador viram bruscamente ao sul, e os altos picos se convertem em milenares montanhas erodidas.
Chegando à Cuenca, a paisagem se torna verde pela umidade de um vale que recebe ventos do leste e rios do oeste, alimentando o frio típico desta cidade. Desde o mirante de Turi, notáveis são os corredores verdes que atravessam a cidade, formados pelos quatro rios que dão o nome à “Santa Ana dos Quatro Rios de Cuenca”: Machángara, Tomebamba, Yanuncay e Tarqui, que se unem para formar o Rio Cuenca. Todos eles nascem nos páramos ocidentais do Cajas e produzem a água usada nas zonas agrícolas de Cuenca, e também destinada para o consumo humano.
Com meio milhão de habitantes é a primeira cidade grande no Equador com uma estação de tratamento de esgoto. O que antes era descarregado diretamente nos rios Tomebamba e Cuenca, agora é coletado graças ao sistema de esgoto interconectado na parte baixa da cidade. As águas residuais recebem um tratamento de 12 dias, e logo são devolvidas ao Rio Cuenca livres de contaminação, um processo sem precedentes no país.
Parque Nacional Cajas
Ao oeste de Cuenca está o Parque Nacional Cajas; aqui se formam os quatro rios que atravessam a cidade e outros tantos que irrigam o vale interandino. O parque forma parte do Sistema Nacional de Áreas Protegidas e abrange 28.544 hectares, dos quais 90% correspondem a páramos com alta umidade, com um sistema lacustre com mais de 230 lagoas temporais e zonas úmidas estacionais. Ali realizamos a trilha da lagoa “A Toreadora”, onde pudemos contemplar remanescentes de florestas de Polylepis que parecem encantados.
Luis Bravo, guarda do parque, explica que a água que ali se produz é usada para o consumo e irrigação na região, sendo o parque a principal fonte de água para Cuenca e para a central hidrelétrica de Paute. Sua localização estratégica na divisória de águas andinas faz que receba a forte influência da umidade proveniente da costa pacífica, criando um regime intenso de chuvas que começa nos meses de dezembro e janeiro. Bravo lembra que por estes páramos também passa o Caminho do Inca, vestígio da via que unia Tomebamba com o Tambo de Paredones, uma rota histórica de comércio.
O desmatamento, o tráfico de animais, e a pecuária estão entre os principais problemas da área protegida. Segundo Seu Luis, devido à criação do parque nacional, “atualmente a conservação do páramos é melhor que em décadas passadas”. Porém, assegura que a lei de entrada gratuita em áreas protegidas foi prejudicial porque “tem gente que gosta de queimar só por maldade, jogar lixo como se estivessem em sua casa”.
Produção hidroelétrica
O rio Paute se nutre das águas que descem dos páramos ocidentais. Em sua bacia média ele drena para o lado oriental e nesta região é influído também pelas chuvas do leste. Deste modo o sistema gerador de eletricidade no Equador pode aproveitar as chuvas estacionais de leste e oeste, assegurando a produção de energia elétrica para o país.
Hidrelétrica Mazar
Na via Cuenca – Paute, está o reservatório Mazar, impressionante corpo d’água de 400 milhões de metros cúbicos, que desde 2010 retêm as águas do Rio Paute. Foi construído como um complemento à represa “Daniel Palacios/Amaluza”, pois o reservatório é três vezes maior e em tempos de estiagem, Mazar pode abastecer a represa de Paute a jusante.
Antes de entrar no dique de Mazar passamos por Shoray (ou Zhuray), pequena comunidade de Rivera, em Azogues. Ali, seus habitantes nos contam que desde sua construção o clima mudou drasticamente, “agora é muito mais frio, é por toda essa água represada”.
Nosso percurso teve que ser mudado porque a instabilidade das ladeiras andinas frequentemente interrompe o caminho. Por isso tivemos que atravessar o Rio Paute pela grandiosa e imponente estrutura da represa do reservatório de Mazar. No começo do caminho cruza nossa vista a comporta aberta para esvaziar a água excedente da represa, que em plenitude de condições produz 170 MW. Antes de cruzar a ponte e o túnel que nos levarão a Paute, um guarda pede documentos e nos proíbe parar o veículo para tirar fotos.
Central Hidrelétrica Paute
Quatro quilômetros rio abaixo fica a represa “Daniel Palacios, Amaluza” ou Molino, a maior geradora hidrelétrica do Equador, que produz 1.100 MW por ano. Obra-prima da engenharia, opera desde 1983 e é a principal central do sistema “Paute Integral”. Junto com Mazar, Sopladora (em construção) e Cardenillo (em estudo), será gerado um estimado de 2.243 MW na bacia do Rio Paute.
Para garantir a vida útil e a produção elétrica, o cuidado da cobertura florestal nas cabeceiras (partes altas) das microbacias desta região se mostra de vital importância.
Conforme o Rio Paute segue seu curso pela rodovia Troncal Amazônica, avança até Méndez, província de Morona Santiago. Ali, se junta ao Rio Upano para formar o Rio Namangoza, principal afluente do Rio Zamora.
A bacia do Rio Paute não apenas reúne uma grande e diferente quantidade de ecossistemas, mas também é a coluna vertebral na produção energética no país.
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