Reportagens

A luz que o Sol traz depois de se pôr (parte 2)

Experiência com sistema elétrico de bombeamento d´água movido a energia solar abastece 1000 e pessoas e evita diesel ou longas caminhadas.

Elizabeth Oliveira ·
13 de agosto de 2013 · 11 anos atrás
As células fotovoltaicas que geram a energia para mover o sistema de bombeamento da Vila Alencar ficam instaladas em balsas. Foto: Elizabeth Oliveira
As células fotovoltaicas que geram a energia para mover o sistema de bombeamento da Vila Alencar ficam instaladas em balsas. Foto: Elizabeth Oliveira

A Vila Alencar é outra comunidade ribeirinha do município de Uarini, onde os seus 131 moradores (25 famílias) conhecem bem os efeitos da carência de fornecimento de energia elétrica. Como se não bastasse enfrentar a escuridão, o abastecimento de água também ficava comprometido, o que levava as famílias à dependência direta dos rios da redondeza. Na época de seca nessa região de várzea, fortemente influenciada pela sazonalidade de chuvas, as longas caminhadas em busca de água para cozinhar e cuidar das tarefas domésticas deixavam adultos e crianças exaustos. Não por acaso, o sistema de bombeamento de água movido à energia solar, recentemente instalado, foi tão comemorado pelos moradores.

A iniciativa da Vila Alencar é parte do Programa Qualidade de Vida, do Instituto Mamirauá, que já instalou 12 sistemas semelhantes em comunidades ribeirinhas das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, beneficiando cerca de 1.000 moradores. Os painéis fotovoltaicos são instalados em uma base de madeira flutuante que pode ser deslocada dentro do rio que abastece a localidade. A distribuição ao reservatório comunitário ocorre após pré-tratamento da água. O alcance do projeto foi reconhecido pelo Prêmio Finep de Inovação 2012, onde foi vencedor na categoria Tecnologias Sociais, inicialmente em nível regional e, depois, na etapa nacional).

 

Familia de Arissonio Carvalho, uma das beneficiadas pelo sistema solar. Foto: Elizabeth Oliveira
Familia de Arissonio Carvalho, uma das beneficiadas pelo sistema solar. Foto: Elizabeth Oliveira

A perspectiva de melhoria da qualidade de vida trazida pela inovação no abastecimento de água animou Arissônio e Liziane Carvalho. Criados na Vila Alencar e pais de três filhos, ambos conhecem bem a dura rotina da falta de água. “Carregar água na cabeça não é brincadeira. Eu posso dizer por experiência própria, pois comecei nessa luta desde menina”, diz ela.

Ednelza Martins da Silva, moradora da Vila do Alencar há 40 anos, também comemora o funcionamento do sistema. Ela desabafa: “A solução chega em boa hora. Aqui as famílias adoecem porque bebem água do rio sem tratamento. Mas a falta de energia causa outros problemas como os anos perdidos pelas crianças porque as escolas não funcionam bem.”

A pesca ainda continua prejudicada pela falta de energia, embora seja uma atividade econômica fundamental na Amazônia e a principal fonte de proteína na alimentação das comunidades ribeirinhas. Por falta de refrigeração, o casal Carvalho ainda precisa salgar o pescado para conservá-lo.

 

Clique para ampliar

 

Custo-benefício

  • Sistema de bombeamento por energia solar: cada sistema de bombeamento de água por energia solar custa cerca de R$ 30 mil. Os investimentos são frutos de parcerias do Instituto Mamirauá que não cobra o abastecimento das comunidades beneficiadas.
  • Alternativa fóssil: o custo de aquisição e instalação de um sistema de bombeamento movido a combustível fóssil seria 30% mais baixo. No entanto, o custo de funcionamento seria alto: a Vila Alencar gastaria em média R$ 20 por dia (5 litros de combustível por 4 horas de funcionamento, tempo estimado para encher duas vezes um reservatório de 5 mil litros). A conta para a comunidade seria de R$ 600 por mês e de R$ 7,2 mil por ano.

 

 

Leia também
A luz que o Sol traz depois de se pôr (parte 1)
País possui um pré-sal de energia solar
Geração de energia solar bate recorde na Alemanha
PE terá fábrica de painel solar

 

 

 

  • Elizabeth Oliveira

    Jornalista e pesquisadora especializada em temas socioambientais, com grande interesse na relação entre sociedade e natureza.

Leia também

Salada Verde
12 de dezembro de 2024

Garimpo já ocupa quase 14 mil hectares em Unidades de Conservação na Amazônia

Em 60 dias, atividade devastou o equivalente a 462 campos de futebol em áreas protegidas da Amazônia, mostra monitoramento do Greenpeace Brasil

Análises
12 de dezembro de 2024

As vitórias do azarão: reviravoltas na conservação do periquito cara-suja

O cara-suja, que um dia foi considerado um caso quase perdido, hoje inspira a corrida por um futuro mais promissor também para outras espécies ameaçadas

Notícias
12 de dezembro de 2024

Organizações lançam manifesto em defesa da Moratória da Soja

Documento, assinado por 66 organizações, alerta para a importância do acordo para enfrentamento da crise climática e de biodiversidade

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.