Reportagens

Zogue-zogue-rabo-de-fogo, o encontro inesquecível

A expedição terminava e, embora os avistamentos de fauna tivessem sido variados, estávamos apreensivos de voltar sem a missão cumprida.

Adriano Gambarini ·
27 de novembro de 2013 · 11 anos atrás

Após vários dias completamente incomunicável, retomo o blog com muitas novidades, acontecimentos, descobertas e mudanças de roteiro. Afinal, se o trabalho de levantamento faunístico já não é fácil nesta Amazônia desconhecida por onde estamos viajando, imagine buscar uma espécie específica de primata, naturalmente tímido, discreto e que vive em pequenos grupos. Ainda mais se tratando do zogue-zogue rabo-de-fogo, cuja área de ocorrência é desconhecida.

Assim, o planejamento original foi mudando a cada quilômetro rodado, trilha caminhada, conversa com os moradores locais. No entanto, um fator tem prejudicado consideravelmente a busca pelo macaco; uma chuva matinal constante, um céu nublado e uma névoa fina que não tem dado trégua. Mesmo já estando dentro dos limites da área que Julio considera ser de ocorrência da espécie, o interflúvio dos Rios Aripuanã e Roosevelt, é importante termos a oportunidade de escutar a vocalização dos grupos de Zogue, que normalmente ocorre no raiar do dia. Porém, com este tempo nebuloso os bichos ficam quietos e se limitam a curtas jornadas em busca de alimento. Isto tem sido péssimo para nossas buscas.

Mesmo assim, ao longo destes últimos 5 dias conseguimos visualizar e documentar várias espécies de primatas; macaco-aranha, barrigudo, cuxiú, duas espécies de mico, macaco-prego, mico-de-cheiro, guariba (ou bugio, como é conhecido no sudeste do país) e duas espécies de zogue-zogue. Surpreendentemente, encontramos um solitário quati macho numa figueira florida, a mais de 20 metros de altura. Aves diversas, irara, inúmeros rastros que iremos detalhar num próximo blog. Em uma expedição itinerante como esta é gratificante lograr estes avistamentos.

Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil

Voltando ao nosso protagonista, à medida que os dias passavam, o céu nublado acentuava nossa preocupação em não encontrar o rabo-de-fogo. Esta expedição foi delineada por duas demandas principais, essenciais para futuras ações de conservação do WWF-Brasil: uma melhor definição da área de ocorrência da nova espécie, assim como sua detalhada documentação, já que não existem fotos do bicho (salvo as poucas que o Júlio fez na época de sua primeira captura). Por conta disto e com a expedição chegando ao seu final, resolvemos dar uma guinada radical em nosso roteiro e seguimos para a região onde o macaco foi encontrado, às margens do Rio Roosevelt. Lá teríamos, em teoria, mais chance de avistarmos algum eventual grupo próximo das estradas, além de ser uma região propícia à navegação.

Desafiando as estradas esquecidas desta Amazônia Meridional, seguimos por 2 cansativos dias rumo ao noroeste do Mato Grosso. Vimos um estado castigado por décadas de descaso ambiental, onde a força das motosserras deixaram suas marcas; vimos campos dominados por pastos, onde uma floresta outrora ostentou sua imponência.

Mas vimos também, no penúltimo dia da nossa expedição, um grupo de 5 zogue-zogue-rabo-de-fogo forrageando em sua rotina matinal, próximo ao Rio da Dúvida, alheios aos movimentos de moradores locais, caminhões e atividades humanas. Apenas cumprindo a rotina da sobrevivência e nos dando a grata satisfação de cumprir o nosso objetivo.

Confesso que foi emocionante fotografar aqueles pequenos macacos pulando descontraidamente nos galhos finos das embaúbas. E mais, por ter tido a honra de ser o fotógrafo escolhido para esta incumbência.

A expedição chegou ao fim, mas nos próximos dias quero compartilhar o que vimos, de bom e ruim, por este trecho que pode ser considerado um dos mais desconhecidos da Amazônia. Foram tantas imagens, tantos aprendizados, que não devem ser restritos a nós, que tivemos o privilégio de vivenciá-los. Todos devem poder conhecer e saber o que tem acontecido nestes cantos escondidos deste (ainda) fantástico país.

Finalmente, o Zogue-Zogue Rabo de Fogo! Aguardem os próximos posts, mostraremos mais!
Finalmente, o Zogue-Zogue Rabo de Fogo! Aguardem os próximos posts, mostraremos mais! Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil

Você pode acompanhar a nossa localização através do mapa do trajeto da expedição:

*Atualizado em 04/11/2022: adaptação de fotos e artes as atualizações do wordpress

  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

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