O escritório Gaia, Silva, Gaede & Associados está entre os 30 maiores escritórios de advocacia do país com unidades em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Mas a novidade dentro dele ocorreu na filial de Curitiba: em 2013, ela obteve uma certificação de sustentabilidade ambiental.
O interesse em reduzir o impacto ambiental do Gaia, Silva, Gaede & Associados surgiu em 2009, quando foi criado o Instituto Life, sigla que quer dizer em inglês Lasting Initiative for Earth, ou “Iniciativa Duradoura para a Terra”, na versão em português. Apesar do nome, o Instituto Life é uma organização do terceiro setor brasileira, com sede em Curitiba, mas que tem ambições internacionais. Ele reúne representantes da Fundação Avina, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS) e a empresa Posigraf.
O selo Life calcula a pegada ecológica de um empreendimento e o que deve ser feito para compensá-la, e já foi reconhecido pela Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB). “O Life é possivelmente o sistema mais prático de medição de ação de sustentabilidade dentro das empresas e de suas ações voluntárias de compensação dos seus impactos”, disse ao ((o))eco Miguel Milano, presidente do conselho-diretor do instituto.
O escritório de advocacia Gaia, Silva, Gaede & Associados o primeiro a obter a certificação. “Pensamos o quê um escritório de advocacia poderia fazer para o meio ambiente”, disse a ((o))eco Henrique Gaede, um dos sócios.
De início, as primeiras medidas foram postas em prática dentro do escritório com a separação do lixo orgânico e reciclável, implantação da coleta seletiva de pilhas e destinação correta do lixo eletrônico. A reutilização de papel sulfite e uso de produtos de higiene e limpeza biodegradáveis foram novos hábitos implantados facilmente na rotina da empresa.
Mas o grande passo foi dado ao investir na conservação de uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), a Santa Maria, localizada no Paraná, de propriedade da SPVS. Esta área contribui para a proteção do manancial de água que abastece a população do município de Antonina, de 17 mil habitantes. A preservação da chamada Reserva Morro da Mina tem como objetivo diminuir a extração e a degradação de recursos naturais da região, assegurando a recomposição natural das áreas degradadas. 2013 foi o terceiro ano que o escritório contribuiu para a RPPN Santa Maria, mas Gaede prefere não divulgar os custos envolvidos nesse apoio ou o valor gasto para obter a certificação Life.
Evitar impactos
O Life não é o primeiro selo de sustentabilidade, mas seu diferencial é poder ser aplicado a todos os setores de negócios. Foram cerca de três anos de estudos e avaliações para chegar a uma metodologia eclética o suficiente para avaliar a pegada ambiental de empreendimentos nos setores de serviço, indústria e agropecuária.
O selo é baseado em um sistema de pontuação que calcula a utilização de recursos naturais. A metodologia leva em conta emissões de gás de efeito estufa, produção de resíduos e o uso de água. Ela considera também a relação entre área ocupada e o ecossistema que afeta.
“Nos defrontamos com um dilema, não basta conservar, é preciso não gerar impacto”, disse Milano, que também é membro do conselho de administração da Associação O Eco, responsável pela publicação do site ((o))eco.
O desafio era elaborar uma metodologia para identificar a pegada ecológica e propor ações conservacionistas. Foram listadas mais de 80 diferentes ações de conservação e postas em um ranking que obedece critérios de ecossistemas e biomas. Segundo Milano, “uma empresa precisa ter um compromisso de reduzir sistematicamente o seu impacto. O ideal é que um dia não precise compensar nada, já que faria antes para evitar. É o que se espera como princípio de sustentabilidade”.
Além do carbono
Assim como aconteceu com as mudanças climáticas, que levou empresas a reduzirem suas emissões de carbono ou compensá-las, a preocupação do setor privado com a biodiversidade tem tudo para ser a nova próxima grande tendência.
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A ideia de um sistema inteiro de certificação para negócios e biodiversidade foi lançada em 2009 por Clóvis Borges, diretor executivo da SPVS, que, hoje, ocupa também a vice-presidência do conselho-diretor do Instituto Life. A pergunta posta em questão por Borges, na ocasião, foi: como empresas poderiam investir na conservação de biodiversidade?
O grupo de fundadores do Instituto Life concluiu que havia uma enorme lacuna no tema. Eles formaram uma força-tarefa para avaliar essa situação e estudaram cerca de 30 selos e sistemas de certificação ligados ao meio ambiente até chegar a um modelo que consideraram funcional.
Segundo Ricardo Gomes, coordenador de Novos Negócios da SPVS, assim como aconteceu com as mudanças climáticas, que levou empresas a reduzirem suas emissões de carbono ou compensá-las, a preocupação do setor privado com a biodiversidade tem tudo para ser a nova próxima grande tendência. “Seja por um senso de responsabilidade ou por perceber que a falta de serviços ambientais disponibilizados pelo patrimônio natural gera prejuízos e perdas para os negócios”, disse.
Apesar de definir as regras, o Instituto Life não é certificador e sim acreditador. A responsabilidade de realizar a auditoria e verificar se as exigências estão sendo cumpridas cabe ao Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).
Para obter o selo Life é preciso que a empresa sofra uma auditoria e tenha metas estabelecidas. O processo não tem um prazo definido, depende do tamanho do negócio a ser certificado.
Ambições fora do Brasil
Para se viabilizar uma certificação no Brasil, ou em qualquer país, num mundo globalizado, é necessário fazer com que a mesma seja reconhecida e validada internacionalmente. Por isso, foi importante para o selo Life ser reconhecido pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), além de constituir uma metodologia inovadora e consistente e ter um nome de fácil identificação.
“O Life foi criado para ser internacional. A meta é que, até 2020, esteja em pelo menos 20 países de três continentes”, afirmou Milano. A metodologia do selo já foi adaptada no Paraguai e está em processo na Argentina, Chile, além de negociações com a África do Sul, Moçambique, Holanda e Reino Unido.
Enquanto isso, os primeiros passos no Brasil continuam. O anúncio do primeiro certificado, o escritório de advocacia Gaia, Silva, Gaede & Associados, foi feito no dia 5 de dezembro de 2013, durante o Workshop Internacional de Negócios e Biodiversidade, realizado no Rio de Janeiro. Em 2014, novas empresas estão em processo de auditoria para obtenção do selo. Uma delas é a Itaipu Binacional.
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