Reportagens

Pesquisa relaciona malária com o desmatamento

Em estudo feito no Brasil, cientistas associam remoção da floresta amazônica à maior reprodução do mosquito transmissor da malária

Patrick Bodenham ·
18 de junho de 2010 · 14 anos atrás
Casos de incidência de malária no Acre e Bolívia.

No Brasil, aproximadamente 500.000 casos de malária são registrados todo ano, sendo 99% destes na região amazônica que apresenta altas taxas de desmatamento. Até agora era difícil encontrar a ligação entre a propagação de doenças epidêmicas e o desmatamento, pela quantidade e complexidade dos fatores envolvidos, porém, cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison completaram sua pesquisa, na qual relacionaram incidências de malária no Acre com imagens de satélite de alta resolução do desmatamento na região.

Os resultados, publicados no artigo “Deforestation and Malaria in Mâncio Lima Country, Brazil” (clique aqui para baixar o artigo) mostram claramente que o aumento nas taxas de desmatamento causam surtos drásticos de malária, possivelmente desencadeando epidemias. A pesquisa encontrou que um aumento de 4% na taxa de desmatamento encontra um aumento de 48% para casos de malária. Em 2006 a área de estudo sofreu, segundo autores, “uma epidemia excepcional”, com pessoas contraindo a doença até quatro vezes por ano.
 
“A conservação das florestas tropicais pode ser mais benéfica à saúde humana do que se pensava”, aponta Sarah Olson responsável pelo estudo. No caso dessa pesquisa, dados do Ministério do Meio Ambiente que focavam o monitoramento da malária e o mapeamento espacial da saúde nos distritos da Amazônia, ajudaram a provar as associações ecológicas entre os altos índices de malária e de desmatamento: a paisagem desmatada apresenta clareiras e reservatórios de água expostos à luz, que constituem ambiente perfeito para reprodução do vetor transmissor da doença, o mosquito Anopheles Darlingi, também conhecido por deslocar outras espécies de mosquitos que preferem o ambiente florestal e não são propensos a transmitirem a doença.

Olson ressalta que “evidenciar o desmatamento como um risco principal nos mostra que devemos também olhar para o potencial dos fatores socioeconômicos”. Pobreza e demografia também são importantes na análise de distribuição e propagação da malaria. A pesquisa feita por Burton Singer e Marcia Castro aponta que a falta de informação e vulnerabilidade das pessoas que migram para áreas desmatadas aumenta a propensão dos riscos de disseminação da doença apenas iniciados pelo desmatamento. (Patrick Bodenham)

Atalhos 
“Deforestation and Malaria in Mâncio Lima Country, Brazil”

Leia também

Salada Verde
8 de maio de 2024

Salvando pintadas (e bois) em Paragominas

No nordeste paraense, iniciativa pioneira ajuda a conservar o grande predador nativo evitando ataques ao rebanho bovino

Colunas
8 de maio de 2024

Crise do princípio da precaução ambiental em tempos de emergência climática

Para quem não teve um membro da família morto em Mariana ou Brumadinho, para quem não é Yanomami ou Krenak, para quem não dependia da pesca na baía da Guanabara, para quem não está ilhado nas águas do Guaíba, é muito cômodo falar em “novo normal” e em “resiliência”

Reportagens
7 de maio de 2024

Organização inicia debates sobre a emergência climática nas eleições municipais

“Seminários Bússola para a Construção de Cidades Resilientes”, transmitidos pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, começaram nesta segunda e vão até sexta, das 18 às 20h

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.