*Texto originalmente publicado no Blog do Infoamazonia, por Stefano Wrobleski
O Infoamazonia atualizou, na última sexta-feira (20), o mapa de alertas de desmatamentos do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Com os novos dados, o mapa agora inclui os polígonos de desmatamento detectados até outubro de 2014. A divulgação segue o novo cronograma determinado em novembro pelo INPE. Os dados mostram um aumento de 65% em 2014 na área total dos alertas de desmatamento, em comparação com 2013.
Área da BR 163, a Cuiabá-Santarém, onde governo prendeu integrantes das quadrilhas de grandes desmatadores
O novo cronograma de divulgação das informações do Deter (Sistema de Detecção em Tempo Real de Alteração na Cobertura Florestal) foi solicitado ao INPE pelo Ibama, que fiscaliza a preservação dos recursos naturais. Com a nova determinação, os polígonos de desmatamento deixaram de ser publicados mensalmente, como era feito desde 2008. Agora, a divulgação é trimestral, mas as áreas exatas onde houve subtração da floresta são disponibilizadas somente no final do trimestre seguinte. Antes disso, somente os dados compilados para áreas de 50km² vão a público.
Desta maneira, em fevereiro de 2015 foram divulgados os dados precisos do desmatamento de agosto, setembro e outubro de 2014. Na mesma ocasião, saíram também as informações compiladas dos meses de novembro e dezembro de 2014 e janeiro de 2015. A próxima leva de dados do Deter só vai ser publicada pelo INPE em maio deste ano.
A mudança do cronograma ocorreu devido ao crime organizado, de acordo com Luciano de Menezes Evaristo, Coordenador Geral de Fiscalização do Ibama: “O desmatamento não é mais aquele cidadão que abre sua roça para plantar. O desmatamento, hoje, está nas mãos do crime organizado”.
Luciano explica que os grandes desmatadores mudaram a forma de atuação: “Eles agem como cupins, comendo a floresta por baixo e deixando a copa das árvores intactas. Aí, o Deter não pegava nada”. O coordenador conta que outra forma de burlar o sistema é o “desmatamento multiponto”, em que várias áreas pequenas, menores do que as mínimas detectáveis pelo Deter, são devastadas para a exploração ilegal da madeira e o corte raso.
“Os índios Kayapó vieram bravos aqui [na sede do Ibama] em fevereiro de 2014, dizendo que o governo estava acusando eles de desmatamento. Então, montei uma equipe do Ibama, fortemente armada, e fomos [até a terra indígena]. Em uma semana, os Kayapó nos mostraram 11 acampamentos de desmatamento na região que o Deter não apontava”, lembra Luciano sobre quando descobriu o novo método de atuação dos criminosos. Segundo o coordenador, era assim que atuava a quadrilha de Ezequiel Antônio Castanha, preso em fevereiro deste ano e tido pelo Ibama como o maior desmatador da Amazônia.
Com os dados em tempo real disponíveis em um primeiro momento somente para os técnicos do Ibama, Luciano acredita que o combate ao desmatamento pode ser aperfeiçoado: “Cada vez que você permitir que o desmatador não ‘se localize’ com os dados do Deter, é melhor para nós. Se eu não deixo o cara ver [o que o Deter já detectou], posso pegar todo mundo em flagrante”. O coordenador de fiscalização do Ibama diz ainda que, enquanto o Deter não é aperfeiçoado, o órgão tem combinado imagens do satélite Landsat 8, da NASA, com os dados recebidos do INPE para verificar subtração de floresta em áreas menores que as detectáveis pelo Deter.
Evolução do desmatamento
As informações do Deter mostram os locais onde provavelmente houve destruição da Amazônia por fogo ou corte. Em 2014 foram registrados 4.034km², ante os 2.434km² verificados ao longo de 2013 – um aumento de 65%. Os dados são, depois, submetidos a um processo de validação para, em conjunto com outras informações, serem usados no Prodes, um balanço de desmatamento publicado anualmente que serve de parâmetro para se determinar a taxa oficial de desmatamento da Amazônia brasileira.
Os alertas do Deter, no entanto, só detectam supressões de floresta em áreas com mais de 25 hectares (ou 0,25km²), enquanto o Prodes consegue mapear desmatamentos em terrenos até quatro vezes menores – com, pelo menos, 6,25 hectares. Além disso, o sistema de tempo real pode demorar mais para perceber destruições da floresta quando as áreas desmatadas estão cobertas por nuvens no momento em que os satélites do Deter sobrevoam estes locais. Em dezembro, por exemplo, as nuvens impediram a observação de 73% da Amazônia.
Apesar de ter uma taxa baixa de erros (falsos-positivos) nos alertas de destruição da floresta, as limitações de detecção do Deter fazem com que o sistema nem sempre possa ser lido como tendência de desmatamento. Desde 2005, foram duas as ocasiões em que os números de alertas do Deter subiram enquanto a taxa do Prodes sofreu redução em relação ao ano anterior.
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