O nome Abrolhos vem do alerta dos antigos navegadores portugueses para o risco de naufrágios: “abra os olhos”. A área marinha que vai do norte do Espírito Santo até Porto Seguro, na Bahia, abriga a maior biodiversidade de recifes do Atlântico Sul.
A diversidade do local inspirou o naturalista inglês Charles Darwin. Após visitar o arquipélago, em 1832, a bordo do veleiro HMS do Beagle em expedição da marinha britânica, ele descreveu a experiência em seu livro “Aventuras e Descobertas de Darwin”.
O pai da teoria da evolução se encantou com as belezas de Abrolhos. Darwin fez os seguintes relatos: “As ilhas dos Abrolhos, vistas de uma certa distância, são de um verde brilhante. A vegetação consiste de plantas suculentas e gramina, entremeadas com alguns arbustos e cactos. O fundo do mar em volta é densamente coberto por enormes corais cerebriformes; muitos tinham mais de uma jarda (90 cm) de diâmetro”.
Primeira UC marinha
Abrolhos foi a primeira Unidade de Conservação marinha a ser criada no Brasil em 1983. O arquipélago não ficou apenas conhecido pela diversidade de recifes de corais e os chapeirões – um formato incomum de cogumelos que atingem 30 metros de diâmetro criando túneis e cavernas submarinas. A baleia Jubarte é o grande atrativo. Elas utilizam a área como berçário entre os meses de maio a novembro. Estima-se que a população de baleias alcance a 12 mil indivíduos.
A área é também bastante frequentada por tartarugas marinhas – especialmente a cabeçuda que desova nas praias do arquipélago e a tartaruga de pente que visita a região em busca de alimentos.
Contudo, apesar dos inúmeros atrativos naturais e do alto grau de preservação da área, o Parque Nacional de Abrolhos tem registrado crescente queda no número de visitantes. E muito se deve à dificuldade de acesso ao Parque, explica ao Blog do Observatório de UCs o gestor da unidade, Fernando Repinaldo.
Destino para poucos
Abrolhos hoje é um destino para aventureiros ou para turistas com alto poder aquisitivo. “Um dos grandes atrativos é o mergulho autônomo, uma atividade que custa caro”, admitiu. A tarifa de ingresso custa R$35 para brasileiros e R$70 para estrangeiros.
A visitação teve início já na década de 80. A entrada ao Parque é pelo município de Caravelas, na Bahia – a 260km ao sul de Porto Seguro e a 400 km de Vitória, no Espírito Santo. Até 2007, ano em que Caravelas ainda tinha um aeroporto, a frequência de visitantes alcançava o patamar de 15 mil por ano. Atualmente, não passam de 5 mil, quando muito.
“São trajetos que podem desestimular a vinda de visitantes. De ônibus convencional, leva-se 7 horas tanto de Porto Seguro como de Vitória”, explicou Repinaldo.
O plano de manejo de Abrolhos – um documento que determina o zoneamento da UC, estabelece normas e diretrizes para a viabilidade da área protegida – é de 1991, quando já se previa o programa de uso público com recomendações para que a atividade de turismo minimizasse o impacto negativo, além de ações de educação ambiental.
Apenas em 1998, uma portaria regulamentou o turismo, quando um grande número de visitantes já desembarcava no Parque. Em 2003, foi publicado o plano de uso público já com os estudos de viabilidade econômica para o serviço de visitação que apontou a concessão de empresas como melhor alternativa. Atualmente, há cinco operadoras de turismo habilitadas para levar os turistas.
A área total da UC é de 91 mil hectares, dos quais 11 mil hectares formam o recife das Timbebas, fechado à visitação. O restante, onde estão as ilhas do arquipélago – Siriba, Redonda, Sueste e Guarita – e o Parcel dos Abrolhos, está aberto à visitação. Aos visitantes só é permitido desembarcar na Siriba para uma pequena trilha guiada ou ver o pôr do sol da ilha de Santa Bárbara sob jurisdição da Marinha, que abriga desde 1861 o Farol de Abrolhos.
Ameaças
É muita área para poucos fiscais. O ICMBio, responsável pelas UCs, mantém apenas três analistas ambientais e um funcionário técnico administrativo. Já de terceirizados, o número não passa de 10.
“Não é o número ideal para se atender a todos os objetivos previstos para o Parque, desde a visitação, a proteção e a educação ambiental. A equipe atual, de fato, não é suficiente. Mas gente e equipamentos não são os únicos fatores que entram na balança para as coisas funcionarem bem, a gente precisa de insumos como combustível e serviços de manutenção de estrutura”, afirmou Repinaldo.
A presença de pescadores dentro da UC também exerce uma forte pressão e é de difícil controle. Os alvos da pesca ilegal são as espécies de badejo, budião-azul e tubarões. “A sobrepesca nas áreas vizinhas e a falta de ordenamento no entorno afetam populações que têm fluxo com as espécies do Parque. Sem contar os empreendimentos portuários e de petróleo e gás que existem nas proximidades”, disse.
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