Reportagens

Jovens da Resex Chico Mendes monitoram a floresta

Monitoramento conta com a participação de 40 jovens da área. O objetivo é levantar dados socioeconômicos e ambientais da Reserva Extrativista.

Nanda Melonio ·
22 de julho de 2015 · 10 anos atrás

Utilizando smartphones, moradores da Resex Chico Mendes realizam monitoramento para levantar dados sobre a comunidade da Reserva. Foto: Instituto de Mudanças Climáticas do Acre
Utilizando smartphones, moradores da Resex Chico Mendes realizam monitoramento para levantar dados sobre a comunidade da Reserva. Foto: Instituto de Mudanças Climáticas do Acre

No Estado do Acre, a população da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes vem sendo incentivada a participar de um sistema de monitoramento florestal comunitário cujo objetivo é coletar informações para o fortalecimento da gestão e governança de recursos florestais.

Batizada de Projeto Sinal Verde, a ferramenta busca levantar dados sobre aspectos socioeconômicos e ambientais da comunidade da Reserva, além de gerar oportunidades locais de aprendizagem e capacitação.

Há mais de um ano, o projeto é realizado em 50 seringais dentro da Resex e conta com a participação de 40 jovens, que recebem uma bolsa no valor de R$ 300 mensais – equivalentes a 10 dias trabalhados – para coletar as informações. O procedimento foi adaptado a partir de experiências realizadas com comunidades indígenas na Guiana.

O projeto está sob a coordenação do Global Canopy Programme (GCP), em parceria com o Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação dos Serviços Ambientais do Acre (IMC), o Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O financiamento vem da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (NORAD).

De acordo com Magaly Medeiros, diretora-presidente do IMC, “o Projeto Sinal Verde alinha tecnologia à capacitação dos jovens da Resex Chico Mendes, num processo de diálogo com as comunidades para o monitoramento participativo das políticas públicas implementadas”.

Os monitores comunitários contratados pelo projeto participam de oficinas mensais, onde recebem treinamento para utilizar formulários de levantamento eletrônicos instalados em smartphones. A coleta dos dados é feita com o aplicativo Open Data Kit (ODK), que oferece um conjunto de ferramentas abertas e públicas, com interface amigável e de fácil interação.

A experiência de monitoramento comunitário no Acre busca melhorar a gestão florestal e contribuir com o desenvolvimento das reservas extrativistas. Para Stoney do Nascimento, coordenador local do projeto, “a inclusão de comunidades no monitoramento é fundamental para o fortalecimento de políticas que buscam desenvolver uma economia sustentável e de baixas emissões de carbono. Ninguém melhor que os próprios atores florestais, beneficiários dessas políticas, para executarem o monitoramento”.

Falta de luz

Uma das principais limitações do projeto é o acesso à energia elétrica no interior da floresta, que ocorre principalmente por meio de geradores movidos a combustível. Em muitos casos, a equipe de monitoramento precisava recarregar os celulares em bares – o que gerava piadinhas entre amigos e familiares, que viam isso como uma boa desculpa para beber. A solução encontrada foi o uso de bolsas com carregadores solares.

Além desta dificuldade, um relatório (em inglês) do Programa de Florestas e Climas da Rede WWF aponta a ausência de integração entre os dados das instituições governamentais envolvidas e a necessidade de melhorar a organização das informações obtidas. Até agora, os dados não estão disponíveis para consulta pública da sociedade civil.

O maior interesse da comunidade está em dados importantes para seu dia a dia, como a presença de plantas medicinais, produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, governança e planejamento de uso da terra. Enquanto isso, os órgãos governamentais dão importância ao monitoramento de estoques de carbono, indicadores de degradação florestal e desmatamento. O relatório da Rede WWF aponta como essencial que a coleta de dados seja relevante para ambas as partes envolvidas.

 

*Este texto é original do blog Observatório de UCs, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo.

 

 

Leia Também
Ajuste fiscal pode pôr em risco preservação de áreas protegidas, alerta Philip Fearnside
Parque Nacional de Pacaás Novos é barreira ao desmatamento em Rondônia
Áreas protegidas do Amapá ganham fundo financeiro

 

 

 

Leia também

Notícias
19 de dezembro de 2025

STF derruba Marco Temporal, mas abre nova disputa sobre o futuro das Terras Indígenas

Análise mostra que, apesar da maioria contra a tese, votos introduzem condicionantes que preocupam povos indígenas e especialistas

Análises
19 de dezembro de 2025

Setor madeireiro do Amazonas cresce à sombra do desmatamento ilegal 

Falhas na fiscalização, ausência de governança e brechas abrem caminho para que madeira de desmate entre na cadeia de produção

Reportagens
19 de dezembro de 2025

Um novo sapinho aquece debates para criação de parque nacional

Nomeado com referência ao presidente Lula, o anfíbio é a 45ª espécie de um gênero exclusivo da Mata Atlântica brasileira

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.