Reportagens

Nobel Alternativo

Biólogo argentino que preside a Fundação para a Defesa do Meio Ambiente em seu país ganha prêmio criado para distinguir gente que devia ter levado um Nobel.

René Capriles ·
19 de outubro de 2004 · 20 anos atrás

O biólogo argentino Raúl Montenegro, Presidente da Fundação para a Defesa do Ambiente (FUNAM) sediada na cidade de Córdoba, Argentina, ganhou o “Prêmio Nobel Alternativo de 2004”. O anúncio foi realizado na cidade de Hyderabad, na Índia, no dia 20 de Setembro. O Right Livelihood Award, denominado “Nobel Alternativo” é um dos mais importantes reconhecimentos à obra de pessoas ou instituições que se destacaram no campo humanístico. Esta distinção foi criada em 1980 pelo escritor e ex deputado no Parlamento Europeu, Jacob von Uexkhull, como complemento do Prêmio Nobel por considerar que este “ignorava trabalhos e conhecimentos que são vitais para o nosso mundo de hoje”. A cerimônia de entrega dos Right Livelihood Award se realiza anualmente no Parlamento Sueco, em Estocolmo, dias antes da premiação do Nobel.

Importantes personalidades já receberam esta honraria, entre elas, em 1984, Wangari Maathai (também Prêmio Nobel da Paz 2004); em 1988, José Lutzenberger; em 2001, Leonardo Boff. Somam-se a esta lista os nomes da líder feminista indiana Vandana Shiva, o do assassinado ecologista nigeriano Ken Saro-Wiwa, o do juiz espanhol Juan Garcés, que liderou a detenção de Pinochet, entre outros não menos importantes.

Esta é a primeira vez que se concede o “Nobel Alternativo” a um ambientalista argentino. Ao anunciar o Prêmio o júri destacou a trajetória de Raúl Montenegro como um ativista compromissado com a luta pela consciência ambiental da sociedade. Sobre a importância do Prêmio na sua obra, ele disse a ECO 21: “Este prêmio nos permite avançar com mais força e nos envolver com mais vigor nas questões ambientais tanto da Província de Córdoba quanto de toda a Argentina”. Uma outra resposta significativa sobre quais seriam os principais problemas ambientais argentinos, ele foi taxativo: “Posso afirmar que são três: a corrupção, a ineficácia de diversos funcionários públicos e o egoísmo da muitas empresas e de alguns cidadãos”.

Montenegro, que é professor titular de Biologia Evolutiva na Universidade Nacional de Córdoba, há mais de 20 anos luta em diversas frentes pela melhora das condições de vida tanto de argentinos como de comunidades de outros países. O seu primeiro engajamento foi a campanha internacional “A Voz das Crianças” patrocinada pela UNICEF, envolvendo mais de 600 mil crianças de 43 países. Atualmente trabalha pela defesa do povo Mbya Guarani, na Província de Misiones, fronteira com Brasil, região que está sendo desmatada para abrir espaços para plantações de mate e soja, destruindo o hábitat dessa etnia numa ação considerada “um verdadeiro genocídio silencioso”.

Parte de sua luta é contra o lobby nuclear tendo liderado, na Argentina, uma campanha contra o lixo radioativo procedente da Austrália; também foi o primeiro em denunciar os acidentes acontecidos nas usinas nucleares a Embalse e Atucha 1, também na Argentina. Na Guatemala, ele fez parte do grupo que forçou o Governo a vetar a instalação do reator nuclear Candú que fora “doado” pelo Canadá em troca de que esse país permitisse a importação do lixo nuclear canadense.

Montenegro esteve no Rio de Janeiro durante a RIO’92 e nessa ocasião manteve encontros com Yves Couteau e Wangari Maathai, a quem voltou a ver em Nairóbi quando ela era assessora da campanha “A Voz das Crianças”. Ele lembra esse encontro com estas palavras: “Caminhar com ela pelas ruas de Nairóbi era uma experiência única; levava com orgulho a sua roupa multicolorida e, toda vez que alguém a cumprimentava (ela sempre foi muito popular no Quênia) esbaldava energia e bom humor”. Raúl Montenegro receberá o Premio Right Livelihood Award, no próximo dia 9 de Dezembro.

* René Capriles é Editor da revista ECO 21

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