Em Niterói, que fica de frente para o Rio de Janeiro com a Baía de Guanabara a separá-los, está sendo construído o Caminho Niemeyer. São dez estruturas arquitetônicas concebidas pelo próprio homenageado e espalhadas por dez quilômetros de orla. Sete delas estão reunidas em um imenso complexo, localizado perto da estação das barcas. Parte das construções já foi erguida, outra espera por financiamento, mas uma coisa é evidente: ali não haverá árvores.
Elas não constam na maquete, e no projeto não existe lugar para canteiros. Em uma rápida visita ao local, nota-se que os prédios foram cuidadosamente cercados por um tapete ininterrupto de concreto. De verde, só uma porção de grama, pra lá de periférica. O acesso à obra é fácil, ela está aberta ao público e há estagiárias de turismo para guiar um eventual curioso. Quando questionada sobre a ausência de árvores, uma delas respondeu: “Dizem que o Oscar Niemeyer não gosta de misturar a natureza com suas obras”.
Difícil acreditar, pois de próprio punho ele escreveu: “O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos rios. Nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida”. A implicância talvez fosse apenas com árvores, mas esse argumento também soa absurdo quando se lembra que Niemeyer construiu sua residência no Rio de Janeiro no meio da Floresta da Tijuca. Na biografia “Oscar Niemeyer”, escrita por Marcos Sá Corrêa, uma fala do mestre desmente de vez sua suposta antipatia pelo meio ambiente: “Minha casa das Canoas é talvez o meu projeto preferido. É uma casa muito particular nas soluções que adota. A concepção é livre. O terreno é em declive, eu não quis mexer nele e botei os quartos embaixo, de modo que a área da casa ficasse mais ampla, pus a sala em cima, procurei adaptá-la à paisagem, à vegetação. Eu mesmo plantei muitas árvores nele”.
O jeito foi tentar perguntar ao próprio Oscar Niemeyer o porquê da falta de árvores no conjunto de obras que está sendo erguido em Niterói. Mas a pergunta foi embargada pela secretária. Com indignação contida, ela retrucou: “Mas há tantas praças sem árvores no mundo!”. Depois de uma certa insistência, prometeu repassar a pergunta ao destinatário, mas a resposta não chegou.
Visitar o Caminho Niemeyer sob um céu límpido de meio-dia exige persistência. O sol desce direto, rebate no chão de concreto e nas paredes brancas dos prédios recém-construídos. Dói o olho. O engenheiro Rodrigo Coelho Figueiredo, responsável pela obra, me recebeu de óculos escuros. Começamos a conversar sobre o projeto e o que já está de pé: o teatro popular, o memorial Roberto Silveira e a Fundação Oscar Niemeyer. No decorrer da conversa, vem a inevitável pergunta: “Não haverá árvores?”. Simpático, olhou em volta e riu. Disse que pelo projeto original não, mas que Niemeyer sempre muda alguma coisa.
Conversa vai, conversa vem, ele propõe: “Vamos sair do sol?”. A idéia era boa, mas a única sombra, a da rampa do teatro popular, já estava ocupada pelo carro de um outro engenheiro e pelos vira-latas locais.
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