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O gigante austral

Perto de Bariloche, na Argentina, descansa o fóssil do maior dinossauro carnívoro já descoberto na Terra. A região é rica em vestígios da pré-história.

João Teixeira da Costa ·
19 de janeiro de 2005 · 20 anos atrás

A duas horas de San Carlos de Bariloche, badalado destino de turistas brasileiros na Argentina, está o Valle de los Dinossaurios, região rica em fósseis do período Cretáceo médio (100 milhões de anos atrás) e palco de uma das maiores descobertas da história da Paleontologia.

O ano era 1993 e o autor um mecânico, Rubén Carolini, que colecionava fósseis por hobby. Dirigindo pelo deserto patagônico em um bugre adaptado, ele encontrou vestígios de um enorme carnívoro nas proximidades da pequena cidade de El Chocón. Sete anos depois, o Giganotosaurus carolinii, batizado em homenagem ao seu descobridor, foi reconhecido como o maior carnívoro que já habitou a Terra.

Semelhante ao famoso Tyranossaurus rex, o Giganotosaurus viveu há cerca de 100 milhões de anos na região da Patagônia argentina. As proporções do animal justificam o título de “gigante austral”. Com comprimento aproximado de 14 metros e altura de 4,6 metros até o dorso, o animal chegava a pesar 9 toneladas. Na comparação com o Tyranossaurus, que durante muitos anos reinou como o único terópode conhecido, o Giganotosaurus se destaca pela largura dos ossos e pelo tamanho do crânio, de até 1,80m, mais de meio metro a mais que o primeiro. Os terópodes eram dinossauros bípedes e carnívoros, que possuíam garras e tinham o pescoço mais curto que o tronco.

Um total de 80% dos ossos do Giganotosaurus carolinii já foi encontrado, faltando pedaços das patas, uma vértebra do pescoço e mais da metade dos 67 dentes. Para Rubén Carolini (foto), que hoje dirige o museu Ernesto Bachmann, onde estão os fósseis, trata-se de um percentual extraordinário. “Depois que o animal morre, é normal que outros bichos que se alimentam de sua carcaça espalhem os restos pelas proximidades, num raio que pode chegar a alguns quilômetros”, explica.

Uma vantagem que o sítio paleontológico de El Chocón oferece para os pesquisadores é o estado de conservação dos fósseis e a facilidade de acesso a eles. No período Cretáceo médio, o lugar tinha uma paisagem similar à das savanas africanas, com clima quente e úmido, bem diferente do atual, de frio e vento incessante e paisagem desértica.

Depois da formação da Cordilheira do Andes, porém, as enxurradas causadas por chuvas torrenciais formaram rios na região do El Chocón que corriam dos Andes para o Atlântico. A água das corredeiras foi limpando camadas de sedimentos e deixando na superfície fósseis enterrados pelo tempo.“A erosão foi tal que hoje estamos pisando no mesmo solo que os animais e plantas que viveram entre 97 e 105 milhões de anos atrás”, diz Carolini. A busca dos paleontólogos concentra-se nos locais onde se acredita que eram as margens de lagos e rios que secaram ao longo dos anos. Lá vivia a maior parte dos dinossauros, que tiveram seus restos sepultados pela ação do tempo.

O museu onde estão os fósseis do Giganotosaurus carolinii fica próximo ao lago Ezequiel Ramos Mexia, onde foram encontradas pegadas de dinossauros herbívoros e carnívoros que viveram há 105 milhões de anos, descobertas pela primeira vez em 1979. Os vestígios se tornaram visíveis por causa da construção da usina hidrelétrica de El Chocón, sete anos antes. “A variação do nível da represa, que chega a 9 metros, acabou limpando a área e tornando visíveis as pegadas”, diz Carolini.

A busca por novos vestígios no Valle de los Dinossaurios continua e, por mais que já se tenha investigado nos últimos 10 anos, Rubén não tem dúvidas: “O potencial da região ainda é extraordinário”.

* João Costa é jornalista e integra a expedição Filhos do Sul, que está percorrendo a América do Sul de carro.

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