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Ameaças, espera e pouca ação

Enquanto aguardam final de reunião de suas lideranças em Brasília com chefes do Ibama, madeireiros continuam fazendo ameaças de destruir prédios públicos.

Andreia Fanzeres ·
3 de fevereiro de 2005 · 20 anos atrás

A situação continua tensa no Oeste do Pará, onde há mais de uma semana madeireiros protestam contra a decisão do Ibama de suspender planos de manejo florestal em terras públicas ou com títulos de posse irregulares. A iminência de confrontos à beira da BR-163 – que continua bloqueada próximo à cidade de Novo Progresso – levou a vice-governadora do Pará, Valéria Pires Franco, a liberar 150 mil reais para a reconstrução de duas pontes da BR-163 destruidas pelos madeireiros.

Essa foi a primeira e até agora única ação tomada pelo poder público em relação aos protestos. Ela aconteceu no dia, quinta-feira, 3 de fevereiro, em que lideranças dos madeireiros e autoridades do Ibama se reuniram na sede do ministério do Meio Ambiente, em Brasília, para tentar aparar suas diferenças. O encontro, marcado para às 14 horas, começou com duas horas de atraso e pelo que dizia a assessoria de imprensa da ministra Marina Silva, deveria ir noite adentro. Isso se a conversa criar um mínimo de entendimento entre as partes.

Se a governadora em exercício do Pará acha que a liberação do dinheiro ajudaria a acalmar os ânimos na área de Novo Progresso, pelo que diz o prefeito de Novo Progresso, Tony Gonçalves (PPS), ela está redondamente enganada. Ele, inclusive, teme a intensificação do movimento contra a suspensão dos planos de manejo. “Os madeireiros ameaçam incendiar prédios públicos, inclusive a sede da administração municipal e disseram que vão explodir um caminhão carregado de cianeto de sódio – substância extremamente tóxica – que está parado na estrada”, afirmou.

Desde ontem a energia elétrica está racionada no município e a previsão é de que o óleo diesel utilizado na usina de luz local dure até domingo. Os mercados não foram reabastecidos e as agências bancárias passaram a semana toda fechadas. Para piorar o drama de Novo Progresso, está chovendo torrencialmente na região. Isso significa que a BR-163, mesmo depois de reaberta, estará em condições horrorosas de tráfego.

A imprensa local está, obviamente, focada na cobertura do assunto. A Folha do Progresso de Novo Progresso, francamente favorável aos madeireiros, jura que o bloqueio da BR-163 teve o apoio das Câmaras de Vereadores de 22 municípios da região. A Notícia, do Norte do Mato Grosso, informa que as lideranças madeireiras das cidades de Peixoto de Azevedo e de Matupá, ambos na região da BR-163, vão unir forças, descer em direção à Cuiaba, capital do estado, e efetuar o bloqueio do trevo do Lagarto, onde começa a estrada.

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

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