Reportagens

Tarde demais

Um trator invadiu a praia Mole, em Florianópolis, e arrasou a vegetação das dunas, em área protegida. Autoridades e ambientalistas correm atrás do prejuízo.

Carla Lins ·
11 de fevereiro de 2005 · 20 anos atrás

Um golpe frio usando uma licença quente, um descuido dos ambientalistas e vapt-vupt: passaram um trator na restinga da área de proteção ambiental da praia Mole, no Parque Municipal da Galheta, em Florianópolis (SC).

O pedaço é pequeno, apenas mil metros quadrados, mas simbólico do descaso pela ocupação do litoral: a Mole é a mais badalada praia de capital catarinense, paraíso dos surfistas e dos naturistas, escolhida pelo jornal americano The New York Times como melhor do verão 2005 no Atlântico Sul.

O charme do local estava justamente no aspecto intocado, no selvagem. A restinga das dunas era refúgio de lagartos e outros animais menores, uma área de preservação permanente garantida por lei desde 1994.

O ataque de trator foi na manhã do dia 19 de janeiro, uma quarta-feira ensolarada, na frente de milhares de banhistas. As pessoas assistiram incrédulas e passivas ao corte de alguns pinheiros. Quando se deram conta, não tiverem tempo de reagir.

A polícia ambiental foi chamada, mas os proprietários do terreno exibiram uma licença do Ibama para cortar os pinheiros do local. O óbvio não estava escrito: vegetação rasteira de dunas é intocável.

Como a intenção dos donos era limpar a área para fazer ali um estacionamento, agiram em flagrante desrespeito à legislação ambiental. Primeiro derrubaram os pinheiros, dentro da licença – para em seguida passar o trator, fora dela.

Quando ambientalistas da Associação Verde Futuro chegaram já era tarde. A madeira estava cortada, empilhada na beira da praia, como se fosse para uma lareira. E o chão era terra arrasada, prontinha para o estacionamento, na frente do Hotel Bangalôs da Mole.

A Fatma, órgão ambiental do estado, checou a papelada e comprovou que os proprietários extrapolaram a autorização ambiental. O Ministério Público entrou em cena um pouco tarde, embargando a obra que já estava feita. Um inquérito foi aberto. O MP afirma que caso o crime ambiental seja comprovado vai exigir a recuperação da área, além multar e indiciar os proprietários.

* Carla Lins tem 21 anos e é recém-formada jornalista em Florianópolis. Esta é sua primeira reportagem.

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