Que a COP30 está envolta em controvérsias todo mundo já sabe. Preços de acomodações abusivos em Belém, contradições na política doméstica do Brasil e avanço nos planos de exploração de fósseis são algumas delas. Espetacularizar as fragilidades do evento, no entanto, pode ser prejudicial não somente para a efetiva participação da sociedade civil, mas também para o futuro do país, diz a ativista socioambiental Anália Barreto. Diretora-executiva do Instituto Mapinguari e coordenadora de Negociações Internacionais no Comitê COP30, Anália tem outra visão.
Em entrevista ao Entrando no Clima, podcast de ((o))eco, Anália chamou a atenção para os perigos da espetacularização das fragilidades em torno do evento e da apropriação da narrativa por forças políticas que querem deslegitimar a organização da Cúpula.
“O que está acontecendo em Belém é uma questão de mercado que precisa, sim, da ação do governo federal. Mas é importante a gente entender que existe um conflito, uma narrativa de tensão que talvez esteja ganhando uma proporção muito maior do que realmente é”, disse ela.
Para a diretora-executiva do Instituto Mapinguari, existe, de fato, um receio de que a COP30 seja esvaziada. A preocupação maior, no entanto, é que esse esvaziamento seja causado pelos discursos contrários ao evento que ganharam força nos últimos meses.
“Minha preocupação é que esse esvaziamento seja muito provocado não pela crise das hospedagens, mas pelo espetáculo que se cria em torno disso. Precisamos, sim, da participação da sociedade civil de todos os países, mas é importante que as pessoas tomem suas decisões baseadas em fatos. Porque quando a gente cria uma atmosfera de espetáculo, a gente também cria muita desinformação sobre o território e sobre a própria COP”, defende.
Ela, que é de Amapá e atua em ações de aproximação entre a realidade de comunidades amazônidas com as decisões climáticas internacionais, diz que é preciso que a sociedade brasileira se posicione em relação ao evento e não deixe o discurso negativo ser apropriado por pessoas cujo interesse é apenas político.
“Precisamos entender como se posicionar, porque estamos num momento do Brasil que antecede as eleições, por exemplo. Vivemos num tempo de polaridade política e precisamos defender nosso trabalho e a própria COP. A COP é um ambiente de trabalho que pode decidir nossos futuros”.
O Instituto Mapinguari – Proteção, Pesquisa e Educação Ambiental é uma organização fundada em 2015 na Amazônia que atua na defesa e preservação do meio ambiente por meio da consolidação e fortalecimento de Áreas Protegidas e suas comunidades, bem como na incidência no debate político para o desenvolvimento sustentável da região amazônica.
O Instituto faz parte do Comitê COP30, iniciativa que reúne mais de 100 organizações da sociedade civil de todo o Brasil, mas principalmente da região norte e nordeste do país, em preparação para a Cúpula do Clima de Belém.
Para ouvir a entrevista completa, clique aqui.
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