O Pantanal registrou uma diminuição de 61% no número de queimadas deste ano, em comparação com o ano passado. Os números seguem a mesma tendência de 2021, que também teve queda em relação ao ano de 2020 – quando o bioma teve mais de um quinto de sua área consumida pelo fogo. A redução ocorre mesmo em meio ao período de estiagem na região, que já dura pelo menos três anos.
Entre janeiro e este domingo (11), o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou 1.077 focos de incêndio no bioma. O número é 61% menor do que o total registrado durante o mesmo período de 2021, quando 2.788 focos de calor haviam sido contabilizados. O índice deste ano configura, até agora, o segundo consecutivo a registrar quedas. No ano passado, a redução para o mesmo período foi de 79% quando comparados aos números de 2020, onde 13.396 queimadas tinham sido registradas na maior área úmida do mundo.
Com apenas 96 focos de calor, o bioma ainda teve neste ano o agosto com o menor número de queimadas desde 1998, quando o INPE iniciou o seu monitoramento.
Em relação a área queimada, os números também caíram. São 309 mil hectares deste ano contra 786 mil do ano passado, o que configura uma queda de 60%. Os dados são do sistema de alertas do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ).
Brigadas e conscientização
Para Ananda Santa Rosa de Andrade, coordenadora da área de monitoramento ambiental da SOS Pantanal, o bioma, neste momento, colhe os frutos da reflexão e conscientização de órgãos públicos e privados sobre o manejo do fogo. Sobretudo depois de 2020, esses atores protagonizam iniciativas que buscam reduzir a ocorrência de incêndios e fortalecer ações de prevenção, seja por órgãos ambientais ou através de iniciativas da sociedade civil.
“Muitos proprietários começaram a repensar o manejo do fogo e procurar soluções legais para reduzir os incêndios, em especial dentro e nos arredores das propriedades privadas”, disse Andrade a ((o))eco, ao mencionar também a aplicação, pelo Ibama e ICMBio, de queimadas prescritas em algumas áreas protegidas. A ação preventiva, ela conta, tem o objetivo de reduzir os incêndios no período de estiagem, dentro de terras indígenas e unidades de conservação.
Entre os exemplos das iniciativas mencionadas por ela está também o trabalho desenvolvido pela própria SOS Pantanal. A organização, que integra o Observatório Pantanal – coalizão composta por 43 instituições socioambientais atuantes na Bacia do Alto Paraguai (BAP) no Brasil, Bolívia e Paraguai –, através do Programa Brigadas Pantaneiras (BPAN), já estruturou 24 brigadas e capacitou 150 brigadistas, que estão distribuídos em diversos pontos da planície e do planalto para combater incêndios. O BPAN recebe o apoio de diversas instituições não governamentais e propriedades rurais inseridas no bioma.
Para auxiliar a atuação do programa, a ONG modificou a sua rotina de monitoramento de queimadas. Atualmente, a SOS Pantanal conta com dois alertas diários de fogo e um boletim meteorológico diário. A medida busca manter os brigadistas compreendidos dentro da área BPAN atualizados sobre qualquer incidente envolvendo fogo.
“O resultado, até o momento, é a redução do fogo em todas as áreas BPAN e maior envolvimento das comunidades locais sobre o tema”, comenta ela, ao enfatizar que os números são bastante positivos, também, porque contrariam a expectativa de aumento dos focos de incêndio. “No começo do ano, em razão da estiagem antecipada na região do Pantanal sul-mato-grossense, foi esperado um aumento do risco de fogo”.
Chuvas de agosto
Para o pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Geraldo Alves Damasceno Junior, que investiga relações entre diferentes vegetações com inundações, tipos de solo e eventos de fogo, essa diminuição também pode estar relacionada com o fluxo de chuvas. “Choveu no mês de agosto que é um mês que, normalmente, ou não chove ou chove muito pouco. É o mês da estação seca com menos chuva. Isso dificulta bastante a ocorrência de incêndios”, disse Damasceno sobre a precipitação no território sul-mato-grossense, que, neste ano, responde pela maior parte da área impactada pelo fogo. O estado compreende, respectivamente, 88% e 96% do total de focos de calor e da área consumida pelo fogo no Pantanal.
Conforme boletim elaborado pela equipe técnica do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima do Mato Grosso do Sul (CEMTEC/MS), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), as chuvas ficaram acima da média em agosto, com acúmulos entre 0 e 80 mm na região do Pantanal sul-mato-grossense.
O município de Aquidauana, que integra uma das sub-regiões do bioma no estado, por exemplo, registrou um acumulado de 184 mm de chuva em agosto. O índice é 553% maior do que a média histórica da cidade, de 36,9 mm. Na sequência, aparecem Miranda, com 138,4 mm de chuva (aumento de 290%), Corumbá, com 81,4 mm (214%) e Coxim, com 63,4 mm (77%).
Passagens de frentes frias, transporte de umidade e, até mesmo, a oscilação antártica (AAO) são fatores climáticos que podem ter favorecido a formação de chuvas no estado em agosto, aponta o CEMTEC. “As chuvas acima da média climatológica estão associadas a períodos em que a AAO apresenta índice negativo”, diz o boletim. A situação descrita ocorreu em agosto em Mato Grosso do Sul.
Cenário ainda crítico
Apesar da diminuição dos incêndios, outro informativo, também elaborado pelo CEMTEC, e pelo Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul (CBMMS), mostra que, até o fim da primeira quinzena deste mês, o estado deve continuar enfrentando altas temperaturas e baixas umidades, que podem variar entre 20-30%.
“É uma combinação ideal das condições meteorológicas para o início ou agravamento dos incêndios florestais”, diz trecho do informativo. Ainda conforme o documento, o bioma continua em nível de alerta para a probabilidade de ocorrência de fogo entre setembro e novembro.
A ressalva é a mesma da SOS Pantanal, que, apesar de reconhecer os resultados positivos para o bioma neste ano, se mantém em alerta: “A sugestão é manter, mesmo assim, a atenção redobrada para o mês de setembro, já que costuma ser o mês com maiores taxas de detecção de incêndio no bioma”, finaliza Ananda.
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