Os cientistas já calcularam quantos peixes há no mar (230 mil espécies), e quantas espécies existem no planeta (8,7 milhões). Agora, eles progrediram na contagem de todas as árvores do mundo.
Usando uma combinação de medições por satélite e terrestres, os pesquisadores estimaram pouco mais de 3 trilhões de árvores no planeta, mais de sete vezes o número calculado antes, em pesquisa feita sem revisão por pares (outros cientistas), e que se baseou apenas em imagens de satélite.
Mas o impacto humano sobre as florestas do mundo é “esmagador”, de acordo com a equipe internacional de 15 países. As atividades humanas levaram à perda de quase metade das árvores do mundo (45,8%), segundo o estudo.
Hoje, as pessoas são responsáveis pela perda de cerca de 15 bilhões de árvores por ano devido ao desmatamento e demanda de terras para a agricultura, um número que os autores disseram ser “consideravelmente maior” do que há apenas um século.
“A escala do impacto humano [que encontramos] foi astronômica. O número de árvores cortadas é quase 3 trilhões desde o início da civilização”, diz Thomas Crowther, da Universidade de Yale, principal autor do estudo, publicado na revista Nature nesta quarta-feira.
“Eu não esperava que a atividade humana aparecesse como a restrição mais forte sobre a densidade de árvores em todos os biomas. Ela foi um dos reguladores dominantes do número de árvores em quase todo o mundo. Realmente, isso destaca quão grande é o impacto dos seres humanos sobre a Terra”.
O estudo foi uma demanda de diferentes iniciativas para plantar árvores com intenção de obter uma visão mais clara do número-base de árvores, que permita compreender melhor o impacto de projetos tais como a campanha “Billion Tree”. Para Crowther, o fato de que havia muito mais árvores do que se pensava não diminui o mérito deste tipo de esforço.
“A mensagem é que um bilhão de árvores ainda é uma enorme contribuição”, diz Crowther. “Me preocupava que prover esta informação pudesse parar iniciativas e fazer as pessoas entrarem numa de ‘ok, plantar um milhão de árvores é inútil’, mas, na verdade, nós obtivemos a resposta oposta. Para ele, esses projetos deveriam passar a pensar em plantar um trilhão de árvores em vez de um bilhão.
As áreas mais densas em árvores foram encontradas nas florestas boreais do norte do Canadá, China e Rússia, embora os autores ressaltem que os dois últimos sejam lugares entre aqueles com a menor quantidade de dados obtidos no terreno. Florestas tropicais e subtropicais detêm a maior parte das árvores do mundo, com cerca de 1,39 trilhão no total, enquanto as regiões temperadas fortemente afetadas pelo homem, tais como a Europa e a Ásia têm apenas 0,61 trilhão.
A estimativa anterior de 400 bilhões de árvores no mundo, ou 61 por pessoa, foi baseada em imagens de satélite e publicada em um livro de 2009, em vez de uma revista científica. O novo estudo combina dados de satélite com mais de 400 mil medições terrestres, de fontes que incluem levantamentos florestais de governo.
Segundo o Dr. Simon Lewis, geógrafo da University College de Londres e da Universidade de Leeds, o novo trabalho é importante, mas não mostrou que havia mais árvores do que se pensava, porque a estimativa anterior não havia sido chancelada por uma revisão de outros cientistas.
“Para mim, esta é a primeira estimativa sólida do número de árvores. É uma peça importante e útil, mas devemos lembrar que o número de árvores não é necessariamente a melhor métrica para medir a saúde de um ecossistema ou a sua importância. Uma plantação grande de árvores iguais não é o mesmo que uma faixa de floresta amazônica”.
Para Lewis, o estudo não muda a nossa compreensão do papel que as florestas têm em retardar as alterações climáticas provocadas pelo homem, porque a quantidade de carbono que as árvores do mundo podem armazenar já é bem conhecida. Mas afirma que tais visões globais “ajudam-nos a ver o mundo de uma maneira diferente”, e a perda de 45,8% das árvores, desde o período pós-Pleistoceno é “muito impressionante”.
A perda bruta de árvores foi estimada em cerca de 15.3 bilhões por ano, mas é provável que a perda líquida esteja mais perto de 10 bilhões por ano, já que crescem algo como 5 bilhões de árvores novas por ano, dizem os autores.
O estudo contou árvores que tinham pelo menos 10 cm de diâmetro, o único padrão utilizado universalmente, ou seja, há provavelmente outros bilhões de árvores menores que não entraram na conta.
*Esse artigo é publicado em parceria com a Guardian Environment Network, da qual ((o))eco faz parte. A versão original (em inglês) foi publicada no site do Guardian. Tradução de Eduardo Pegurier
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