O auditório da Universidade do Estado do Amazonas, em Tabatinga, divisa com a Colômbia e o Peru, lotou durante o simpósio “Conhecimentos Internacionais e Territórios nas Regiões de Fronteira da Pan-Amazônia”. O evento, promovido pelo Instituto Nova Cartografia Social, aconteceu entre os dias 11 e 13 de maio e reuniu pesquisadores e especialistas de diferentes países, lideranças indígenas, e estudantes da região. No centro do debate, a cartografia como instrumento para o fortalecimento dos movimentos sociais na Amazônia.
O trabalho de proteção dos grupos indígenas em isolamento no Brasil teve destaque no simpósio. O sertanista José Carlos Meirelles, que há mais de 30 anos atua no estado do Acre e o antropólogo Terri Vale de Aquino, da Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, da Fundação Nacional do Índio (Funai), explicaram o mapeamento social dos povos isolados na fronteira Brasil-Peru.
Os indigenistas apresentaram um mapa construído em diversas oficinas realizadas junto aos índios contatados e ribeirinhos que vivem em áreas vizinhas ou sobrepostas aos territórios dos grupos isolados no território brasileiro. O objetivo das oficinas, promovidas pela Funai em parceria com a organização Comissão Pró-Índio do Acre, é apresentar e levantar informação sobre estes grupos na região.
O diálogo resultou em um mapa com mais de 150 referências sobre a presença de índios em isolamento no Acre: 48 casos de saques, 30 avistamentos, 44 registros de vestígios materiais, como acampamentos e flechas e 36 de confrontos armados com mortes, entre outras coisas. “Informações riquíssimas sobre a movimentação dos brabos. Com esses frutos vamos tentar demarcar mais uma terra para isolados no Acre”, explicou o sertanista.
Txai Terri, como é mais conhecido, criticou a política de concessão do governo peruano da última década, que permitiu que extensas áreas da Amazônia fossem exploradas por grandes empresas madeireiras e petroleiras. “O Peru pirou! Com essa política neoliberal, madeireiros ilegais invadem reservas indígenas. Um grupo isolado chegou aqui em 2007 fugindo dessa doideira. Fugiram dos madeireiros que invadiram suas terras”, disse o antropólogo, explicando sobre a constatação da migração forçada de um grupo de índios isolados da floresta do Peru para o Brasil.
Para Meirelles, o maior preconceito contra esses índios está justamente nas populações que estão mais próximas deles: “Como proteger os isolados se há um entorno quase em guerra? O calendário indígena de ocupação da região enlouqueceu. Ninguém sabe mais quem vai encontrar quem e como. Isso é perigoso. A gente viu que proteção não se faz apenas com vigilância, mas com conscientização e participação da população”, conclui.
Saiba Mais:
*Helena Ladeira é jornalista do Centro de Trabalho Indigenista
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