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Presidência da COP30 propõe que setor privado encare luta climática como oportunidade

André Corrêa do Lago divulga sétima carta à comunidade internacional. Chamado não exime governos de suas responsabilidades, diz Ana Toni, CEO da COP30

Cristiane Prizibisczki ·
29 de agosto de 2025

O presidente da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), embaixador André Corrêa do Lago, publicou na manhã desta sexta-feira (29) sua sétima carta à comunidade internacional. Desta vez, o comunicado é voltado à iniciativa privada, chamada à integrar a ação climática.

A carta destaca os avanços promovidos pelo setor privado, a exemplo dos investimentos globais em transição energética, que movimentaram mais de US$ 2 bilhões e geraram cerca de 35 milhões de empregos em 2023, de acordo com relatório das Nações Unidas.

Mas Corrêa do Lago pede mais. Segundo ele, o setor precisa mudar a forma de encarar as regulações climáticas que surgem no âmbito internacional e nacional, passando a vê-las não como entraves às suas atividades, mas como oportunidades de negócios.

“Até agora o setor privado estava muito concentrado em pressionar o governo para que não aceitassem negociações que pudessem ser ruins para eles. Estamos criando uma nova dinâmica, que é o setor privado ter uma autonomia que não é relacionada à negociação, mas sim aos ganhos que ele pode ter, ao utilizar essa nova maneira de atuar”, disse Corrêa do Lago, em coletiva de imprensa por ocasião da divulgação da carta.

A comunicação sugere que o setor se oriente por meio do primeiro Balanço Global –  que avaliou o estado da implementação do Acordo de Paris – para que façam suas propostas de ação.

Segundo a carta, as iniciativas pioneiras, escaláveis e reais já existentes estão sendo mapeadas e otimizadas para facilitar o monitoramento das ações. Este mapeamento será compilado em uma plataforma, batizada de Celeiro de Soluções. Cada iniciativa será acompanhada de um Planos de Aceleração de Soluções, com sugestões de ajustes de políticas, parcerias e financiamento necessário.

“Para uma COP ser de implementação ela precisa de ação e, para isso, é essencial ter os atores além dos Estados. Os Estados, obviamente, são essenciais porque são os únicos que negociam, também são importantíssimos porque governam, mas a gente quer acentuar a presença dos entes subnacionais, das universidades, da sociedade civil, das pessoas, dos indivíduos e, neste caso, do empresariado”, disse o embaixador.

Segundo Ana Toni, CEO da COP30, o chamado feito à iniciativa privada não exime os governos de suas responsabilidades. A proposta é que as iniciativas público-privadas voltadas à transformação ecológica se fortaleçam e ganhem em escala.

“As NDCs [metas climáticas nacionais] precisam ser implementadas com a ajuda também do setor privado, porque você não implementa uma NDC sozinha. Mas não é uma coisa ou outra, não é setor privado ou setor público, não é tirar a responsabilidade do setor público e dar para o setor privado ou vice-versa. Isso tem que ser uma parceria pública e privada para o combate à mudança do clima e para a implementação do Global Stocktake, assim como das NDCs”, disse, em resposta a pergunta feita por ((o))eco.

A carta também chama atenção por terminar exatamente da mesma forma que as duas anteriores, com a expressão “por escolha, juntos”. Questionado pela reportagem, o presidente da COP30 disse que é para que a mensagem seja, de fato, compreendida pelos leitores. “Se chama insistência. Porque a gente acredita que isso seja realmente um caminho”, finaliza.

Leia a carta na íntegra aqui.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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