No dia 15 de dezembro de 2010, Sydney Possuelo, indigenista e ex-diretor da Coordenação Geral de Índios Isolados da Fundacão Nacional do Índio (Funai), emitiu uma declaração pública chamando a atenção para a situação de perigo que se encontram os últimos indígenas que vivem em isolamento na Floresta Amazônica.
Na “Carta Aberta em Defesa dos Povos Indígenas Isolados”, escrita em espanhol, Possuelo explica que represas e estradas estão sendo construídas na Amazônia sem propor ações efetivas para a proteção destes povos: “Se persistirem estas atitudes, o destino dos isolados já está determinado, eles desaparecerão”.
O indigenista expõe, especialmente, sua preocupação com a rodovia Interoceânica Sul, que une, através de outros eixos viários, os oceanos Atlântico e Pacífico, rasgando a floresta tropical. O trecho da estrada que liga o município de Assis Brasil, no Acre, à cidade de Puerto Maldonado, capital do departamento de Madre de Dios, no Peru, está prestes a ser inaugurado pelos governos dos dois países. “Os caminhões passarão incessante e perigosamente muito próximos aos territórios povoados por eles. Que faremos para que isto não signifique mais ameaça à vida e mais devastação da floresta?”, alerta.
A maioria dos povos ainda sem contato com o resto do mundo se encontra na América do Sul, e na Floresta Amazônica. Em 2005, aconteceu, em Belém do Pará, o Primeiro Encontro Internacional sobre Índios Isolados na Amazônia e Gran Chaco, onde foi constuída uma Aliança Internacional para a proteção destes povos que habitam as matas da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru.
Sydney Possuelo, que idealizou o encontro como diretor da Funai, acredita que de lá para cá muito pouco se avançou nessa luta. “Nos últimos cinco anos tenho visto como se assinam decretos e concessões de exploração de recursos naturais em áreas habitadas por esses seres humanos. Ainda consideram a Amazônia e os povos indígenas como obstáculo às estratégias de desenvolvimento”, afirma em trechos da sua declaração de dezembro.
A ideia do indigenista agora é recolher assinaturas de instituições e indivíduos para serem adicionadas à carta, que será apresentada à diversas entidades, como o Fórum Permanente sobre Questões Indígenas, e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACDH), da Organização das Nações Unidas (ONU), e também aos presidentes dos países que hospedam povos isolados, e às organizações multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Mundial e o Pacto Andino.
“A situação é crítica e todos deveríamos nos unir. Não podemos permitir que uma parte da humanidade seja extinta. Os isolados têm que viver. São a nossa essência mais pura, nosso impulso mais vivo. Um mundo sem eles não valeria a pena, e no futuro não haveria perdão por uma tragédia tão grande contra nós mesmos e o planeta”, conclui.
Para adicionar seu nome à “Carta Aberta em Defesa dos Povos Indígenas Isolados”, envie um e-mail de aceitação para o seguinte endereço: [email protected].
(Carta na íntegra abaixo em espanhol)
CARTA ABIERTA EN DEFENSA DE LOS PUEBLOS INDÍGENAS AISLADOS
Brasilia, 15 de diciembre de 2010Trabajé más de cuatro décadas en la selva amazónica. Hace cinco años, convoqué al primer encuentro internacional en defensa de los pueblos indígenas aislados. Nos reunimos en Belem do Pará y allí propuse la creación de una Alianza Internacional para su protección. Digo sin angustia pero con claridad: hemos avanzado muy poco en ese sentido. Siento que la urgencia de entonces, se volvió hoy una amenaza definitiva: los pueblos aislados y sus territorios están en riesgo como nunca antes.
En los últimos cinco años, he visto intereses para sacar a los aislados de sus tierras y permitir así la invasión de empresas petroleras o mineras; he visto cómo se firman decretos y otorgan concesiones para explotar recursos naturales en zonas donde habitan estos seres humanos; he visto indígenas muertos o perseguidos por defender sus derechos; he sentido que seguimos considerando a la Amazonia y a los indígenas como un obstáculo a las estrategias de desarrollo, como la que encarna la Iniciativa de Integración de la Infraestructura Regional Sudamericana.
Represas, carreteras, puentes están siendo construidos en la Amazonía, sin proponer acciones que de manera efectiva protejan los derechos de estos pueblos, y si persisten estas actitudes, el destino de los aislados ya está determinado y ellos desaparecerán.
No podemos quedar indiferentes ante este drama. Es tiempo de reaccionar y que los estados, los gobiernos, las empresas, los organismos internacionales, las iglesias, las organizaciones no gubernamentales, todos, brinden garantías de cuidado a los derechos humanos de los pueblos aislados de la Amazonia. Es un deber de conciencia y un imperativo moral. No pido que detengan sus planes de gobierno, reclamo sí que una parte de lo que gastan en obras de infraestructura y las inversiones en industrias extractivas la usen para preservar verdaderamente a los aislados de toda violencia.
Si como los gobiernos dicen, estos planes y obras son para vivir bien y tener bienestar, que incluyan a los aislados dentro de esos beneficios. Ellos sólo quieren asegurar sus territorios. Protejamos eso. Que ellos no paguen con sus vidas o con su desarraigo, como siempre ha sido, la falta de acciones sinceras de protección a sus derechos que además están consagrados en las leyes y en los tratados internacionales.
Si está a punto de inaugurarse ahora la primera carretera interoceánica de Sudamérica a través de la selva, el hecho que los pueblos indígenas aislados no sean más perseguidos o sacados de su territorio sería la mejor prueba de responsabilidad y respeto que podríamos dar. En el tramo entre Assis Brasil, en el Acre, y Puerto Maldonado, en Madre de Dios, en el Perú, una zona que colinda Pando en Bolivia, los camiones pasarán incesante y peligrosamente muy próximos a territorios poblados por ellos. ¿Qué haremos para que esto no signifique mas amenaza a la vida y más devastación del bosque? Es nuestra oportunidad para cambiar la historia para siempre, y evitar que llegue la hora fatal, la hora 25, cuando ya no se puede hacer nada más.
La situación es crítica y todos deberíamos unirnos. No podemos permitir que una parte de la humanidad se extinga. Los aislados tienen que vivir. Son nuestra esencia más pura, nuestro impulso más vivo. Un mundo sin ellos no valdría la pena y en el futuro no habría perdón para una tragedia tan grande que nos hacemos contra nosotros mismos y el planeta.
Sincera y afectuosamente,
Sydney Possuelo
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