Hoje a maioria das manchetes fala dos números de 2008 da economia brasileira, todos negativos. Por isso é bom lembrar que o país desprezou um setor muito dinâmico e que cresceu muito no meio da recessão: o de energias limpas. A Clean Edge, empresa norte-americana especializada em planejamento de energias limpas, divulgou ontem relatório com os números do setor no ano passado.
As receitas globais dos mercados de energia solar fotovoltaica, eólica e biocombustíveis cresceram 52,9%, de US$ 75,8 bilhões (2007) para US$ 115 bilhões (2008). As receitas somente com energia eólica superaram os US$ 55 bilhões. Novos investimentos globais em energia limpa cresceram 4,7% em 2008, saindo de US$ 148,4 bilhões para US$ 155,4 bilhões, segundo o relatório.
O crescimento do investimento muito menor que os ganhos de receita já reflete o impacto da crise de crédito e do mercado de capitais no setor. As novas ofertas públicas caíram pela metade em relação a 2007. O aperto de crédito também levou empresas de energia limpa a adiarem planos de expansão e reduzir seu quadro de empregados.
É aí que o presidente Barack Obama entra salvando. Com o pacote de estímulos para a economia injetando uma soma considerável de dólares no mercado de energia dos Estados Unidos, compensará a queda do mercado de capitais como fonte de financiamento do investimento no setor que, mesmo com a crise, em 2008 representou 94% do total. Os governos europeus estão fazendo o mesmo e os analistas da Clean Edge esperam que esse estímulo dos governos faça a ponte para que o setor atravesse 2009 sem grandes descontinuidades.
No mercado de energia eólica, o Brasil tem perdido investimento, renda e energia. Cálculos equivocados do governo criaram um incentivo absurdo às termelétricas a gás e a diesel e reduziram o espaço para usinas eólicas. Além disso, as autoridades do setor elétrico se recusam a criar regras claras e estáveis que permitam a participação de grandes investidores nos leilões de energia.
A única participação brasileira no mercado de energias limpas, segundo o relatório da Clean Edge, é no etanol, mercado em que continua líder. A produção global de biocombustíveis atingiu US$ 34,8 bilhões em 2008. A maior parte dessa produção, 634,3 milhões de litros, foi de álcool, ou etanol, e o restante, 9,5 milhões de litros, de biodiesel. O relatório destaca o fato de que, pela primeira vez, mais da metade do transporte automotivo no Brasil foi movido a álcool.
Enquanto isso, há uma fila de investidores chorosos, esperando que uma faísca acenda a inteligência de alguma autoridade brasileira e abra o setor de energia para usinas eólicas. O potencial do país é enorme e complementar à hidreletricidade, porque venta mais na seca, o que permitiria ao país usar o vento e poupar a energia da água, permitindo que os reservatórios ficassem mais cheios no período se seca, sem perigo de apagão.
Leia também
Eleições 2024 – Quais as propostas do seu candidato na pauta ambiental?
Rodrigo Corradi, do ICLEI, explica como as políticas municipais impactam o meio ambiente. “Plataforma dos candidatos não pode conter apenas generalidades”, diz →
Marina pede marco para emergência climática e alerta para fim do Pantanal
Ministra participou de audiência pública na Comissão de Meio Ambiente do Senado, convocada para se esclarecer as ações do governo federal diante da escalada das queimadas no país →
Uma mobilização nacional – e cultural – para manter a Amazônia de Pé
Movimento composto por mais de 350 organizações da sociedade civil realiza virada cultural nos dias 5 a 8 de setembro, e traz pro holofote tema das florestas públicas não destinadas →