No início desta semana (8), um ofício enviado pelo presidente do Inea-RJ, Renato Bussiere, indicou ao governo de Cláudio Castro (PL) a nomeação de Valdenice de Oliveira Meliga para assumir o posto de chefia do Parque Estadual de Ilha Grande. A divulgação do nome de Val Meliga, como é mais conhecida a suspeita de envolvimento com a milícia, causou repercussão imediata nas redes, em protesto e repúdio à nomeação.
Se a falta de experiência na área ambiental já seria motivo para questionar a indicação de Valdenice para chefiar uma das mais importantes unidades de conservação do estado, a qualificação vira quase um detalhe perto do resto do seu currículo. Irmã dos gêmeos Alan e Alex Rodrigues Oliveira, presos em 2018 acusados de extorsão, Val Meliga é apontada como suposto elo entre milicianos e Flávio Bolsonaro (hoje senador do Republicanos). Val já foi uma das assessoras do “zero um” e tesoureira-geral do PSL na época em que Flávio era deputado estadual. Val chegou a assinar cheques pro deputado, no esquema denunciado como as “rachadinhas”, ainda na ALERJ.
Em nota, o Inea-RJ afirma que “O Instituto Estadual do Ambiente informa que, após avaliação pelo compliance do Governo do RJ, o ofício de nomeação foi invalidado e Valdenice Meliga não faz parte do quadro de profissionais do instituto”. A nota não explica, entretanto, o motivo pelo qual o próprio presidente do órgão endossou o nome de Val.
Val Meliga, que em sua biografia no Instagram, apresenta-se como “cristã, ligada ao social e bolsonarista raiz”, disputou nas últimas eleições uma vaga de deputada estadual do Rio pelo PL. Sem sucesso, a então candidata somou apenas 1.845 votos.
O Parque Estadual de Ilha Grande protege a maior parte da ilha de mesmo nome, no município de Angra dos Reis, litoral sul do estado do Rio de Janeiro. Durante seu mandato como presidente, Bolsonaro (o pai) defendeu inúmeras vezes seu projeto de que a região deveria ser uma “Cancún brasileira”. Um dos entraves, segundo o próprio, era a legislação ambiental e as unidades de conservação que existem na região – sendo o principal alvo a Estação Ecológica de Tamoios, a mais restritiva de todas e onde ele foi multado, em 2012, por pescar, atividade proibida na unidade de conservação.
Em 2020, o já senador Flávio Bolsonaro apresentou um projeto para extinção da Estação Ecológica.
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