Entre 2013 e 2015, o Brasil destruiu 18.962 quilômetros quadrados de Cerrado, equivalente ao desaparecimento de uma área do tamanho da cidade de São Paulo a cada dois meses. Após a divulgação deste dado, 60 organizações da sociedade civil lançaram um manifesto em setembro para chamar a atenção de setores do varejo e da agropecuária, esta que é considerada a principal responsável pela conversão do solo em pasto ou em plantio. Três meses depois, o número de adesões de empresas ao Manifesto do Cerrado triplicou.
Atualmente, são 61 signatários do pacto de combate ao desmatamento no bioma. Nove empresas assinaram nesta quinta-feira (25), no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, a adesão ao documento — Aldi NL, Auchan Retail, Bel Group (Fromageries Bel SA), Casino Group, Cooperl, Grupo Bimbo, Grupo Éxito, Mondelēz International e Supermercados Wm Morrison. Já aderiram anteriormente empresas globais como Marks & Spencer, METRO, Tesco, McDonalds, Nando’s, Unilever e Walmart. Estas empresas, juntas, representam múltiplas cadeias de fornecimento de produtos, do varejo a bens de consumo a serviços de alimentação e cuidados pessoais.
O anúncio dos novos participantes aconteceu durante uma reunião no Fórum Econômico Mundial, organizado pela TFA – Tropical Forest Alliance, onde Al Gore e Christiana Figueres se juntaram a outros líderes climáticos pedindo a necessidade de ações de maior impacto para proteger florestas e outros ecossistemas ricos em carbono, uma vez que se estima que eles contribuam com 37% do potencial de redução de emissões até 2030.
“A rápida conversão do precioso Cerrado do Brasil em agricultura e pastagens não é apenas trágica, mas também desnecessária”, afirma Kavita Prakash-Mani, líder da prática Mercados do WWF. “Ao recuperar terras que já foram abertas, podemos atender a demanda futura da soja e carne sem perder nenhum outro hectare de Cerrado nativo. Aplaudimos esses compromissos corporativos para proteger o bioma, que é o lar de 5% da biodiversidade do planeta. O movimento envia um sinal crítico aos produtores, processadores e varejistas de que o Cerrado é tão vital para o nosso planeta quanto a Amazônia.”
Em outubro, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, já havia declarado ser favorável para que a moratória da soja seja expandida para o Cerrado, onde o plantio da cultura é considerado um dos principais vetores do aumento do desmatamento na região. A moratória só obteve êxito por causa da adesão do setor produtivo.
As ONGs querem replicar a estratégia agora para o Cerrado, bioma que protege 8 das 12 bacias hidrográficas do país.
O próximo passo é formar um grupo de trabalho com o mandato de desenvolver um roteiro e um plano de ação para implementar os objetivos das Declaração de Apoio.
Para Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil, “o fato de 61 empresas globais que compram carne e soja do Cerrado brasileiro aderirem ao compromisso de parar a conversão de vegetação natural no bioma é uma mensagem clara de que a preservação socioambiental deve ser prioridade para a economia do Brasil. O país tem a oportunidade de mostrar o caminho para a conciliação da produção de alimentos e a conservação ambiental”.
*Com informações do WWF-Brasil.
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