A empresa Mangaba Cultivo de Coco anunciou esta semana a saída de José Roberto Marinho de seu quadro societário, incluindo a propriedade da Fazenda Ponta dos Castelhanos, na ilha de Boipeba, no município de Cairu (BA).
Presidente da Fundação Roberto Marinho e vice-presidente do Conselho do Grupo Globo, Marinho deixou o negócio de forma amigável e consensual para se dedicar integralmente a projetos pessoais, diz a nota da empresa.
A administração da mesma segue com Marcelo Pradez de Faria Stallone, que reafirmou o compromisso de colaboração com órgãos públicos, parceiros e comunidades locais. No CNPJ do projeto ainda constam outros sócios, como Armínio Fraga, ex-presidente do Bacen, e Arthur Baer Bahia, sobrinho de Fraga.
A saída de Marinho ocorre em meio ao escrutínio público sobre o projeto, que segue cercado por tensões entre preservação ambiental e cultural, desenvolvimento econômico e participação efetiva das comunidades locais.
O Ponta dos Castelhanos é alvo de intensos debates. Reportagens de ((o))eco revelaram que o empreendimento prevê a instalação de loteamento de luxo com pousadas, residências e infraestrutura, em uma área equivalente a cerca de 1.700 campos de futebol, ou cerca de 20% da ilha.
Ambientalistas, pescadores e comunidades tradicionais contestam a iniciativa, apontando riscos para manguezais, nascentes e áreas de reprodução de espécies como tartarugas marinhas, além de possíveis impactos sobre modos de vida locais, como de pescadores, extrativistas e quilombolas.

Apesar das críticas, a Mangaba defende que o projeto na realidade ocupará menos de 2% da área total da fazenda, com supressão de apenas 0,17% da vegetação nativa de Mata Atlântica, que seria devidamente compensada conforme a legislação ambiental.
Em nota, a empresa também negou planos para campo de golfe e resort de grande porte, afirmando que a proposta se limita a 69 lotes, duas pousadas de pequeno porte e estruturas de apoio à comunidade, como centro cultural, equipamentos esportivos e estações de tratamento de resíduos.
O empreendimento foi aprovado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema), que estabeleceu 59 condicionantes socioambientais, mas foi suspenso por ações de órgãos federais, como o Ministério Público e a Secretaria do Patrimônio da União (SPU).
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