Salada Verde

No rastro da Naja, são encontrados mais serpentes e até tubarões em cativeiros ilegais no DF

No Distrito Federal, após caso da naja que mordeu o estudante suspeito de tráfico de animais silvestres. Polícia e Ibama seguem com apreensões de animais mantidos ilegalmente

Duda Menegassi ·
12 de julho de 2020 · 4 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
Uma jiboia-arco-íris foi apreendida na casa de um amigo do Pedro. Foto: PCDF/Divulgação

O caso da Naja tem revelado parte de uma rede de cobras que são mantidas de forma ilegal por terceiros no Distrito Federal. Desde que a naja (Naja kaouthia), uma espécie venenosa e exótica, que não ocorre no Brasil, quase matou o estudante Pedro Krambeck, que a mantinha dentro da própria casa de forma irregular, outras 20 cobras foram apreendidas em condições semelhantes: sem documentos de origem nem permissões dos órgãos ambientais. Até tubarões foram encontrados mantidos em aquários, assim como cascos de tatu e peles de serpentes, no que parece ser uma larga teia de tráfico de animais silvestres.

Em uma única chácara em Vicente Pires, a Polícia Civil do Distrito Federal encontrou 6 serpentes e 3 tubarões. Em outro apartamento, no Guará, cujo dono é pai de um amigo pessoal de Pedro: foram apreendidas uma jiboia-arco-íris (Epicrates crassus) e a pele de uma surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta), ambas espécies que ocorrem no país. Já são mais de 20 cobras apreendidas apenas nos últimos dias no Distrito Federal.

A Polícia e o Ibama investigam para saber se Pedro, que cursa veterinária na universidade particular Faciplac, e outros colegas teriam não apenas comprado os animais de forma ilegal, mas também os criavam para reprodução e os revendiam.

Na sexta-feira (10), o Ibama multou Pedro em R$ 2 mil, por abrigar animal que teve entrada não autorizada no país. Mas o jovem, que ainda está hospitalizado, pode enfrentar uma lista de acusações maiores se a suspeita do tráfico de animais silvestres se confirmar.

Na quinta-feira (09), uma denúncia levou a Polícia Militar Ambiental a encontrar 16 serpentes numa chácara na zona rural do DF. Entre as espécies estavam cobra do milho, cobra-papagaio, cobra-rateira, jiboia, periquitamboias e uma cascavel que supostamente teriam sofrido maus-tratos.

A Naja foi fotografada no Zoo de Brasília, onde está até ser definido seu destino. Foto: Ivan Mattos/Zoo Brasília

O crime de criar animais que não se enquadram na “lista pet”, como gatos e cachorros, sem autorização do órgão ambiental e sem cumprir as condições adequadas para o bem-estar do animal é previsto na Lei Federal nº 9.605/98. A lei também prevê que quem entrega voluntariamente animais que estavam sendo criados de forma irregular não responde criminalmente pelo ato. Respaldados por isso, um criador sensibilizado pelo caso da Naja entregou ao Ibama duas cobras filhotes na última sexta (10), na sede do órgão, em Brasília.

As serpentes, uma víbora-verde-de-vogel e jararacuçu, foram encaminhadas ao Zoológico de Brasília, onde passam por exames clínicos. Elas se somam às outras serpentes apreendidas, e à própria naja. O destino oficial de todos os animais apreendidos ainda será decidido pelo Ibama, caso a caso, algumas podem seguir até mesmo para o Instituto Butantan, que poderá mantê-las em caráter definitivo para pesquisas.

Denúncia

É possível denunciar suspeitas de criação irregulares de animais através da “Linha Verde”, no telefone 0800-618080.

O Ibama esclarece que “para manter cobras em residência, o interessado deve solicitar autorização junto ao órgão ambiental do estado no caso de espécies não venenosas. Cobras peçonhentas podem ser criadas apenas com fins comerciais, por instituições farmacêuticas, ou com intuito de conservação, ou seja, quando o animal não pode voltar à natureza por diversos motivos, como ter sido vítima de maus-tratos”.

 

Leia também

Após “caso Naja”, Polícia recebe denúncia e apreende 16 cobras

Naja que mordeu estudante no Distrito Federal é capturada

Serpentes venenosas são vendidas em grupos de WhatsApp

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também

Reportagens
4 de novembro de 2018

Serpentes venenosas são vendidas em grupos de WhatsApp

O arriscado comércio ilegal de cobras venenosas exóticas foi detectado pelo monitoramento realizado pela Renctas em redes sociais

Notícias
9 de julho de 2020

Naja que mordeu estudante no Distrito Federal é capturada

A cobra, exótica e venenosa, pode ter sido oriunda do tráfico ilegal de animais silvestres e estava em posse de estudante que foi mordido e está hospitalizado

Salada Verde
9 de julho de 2020

Após “caso Naja”, Polícia recebe denúncia e apreende 16 cobras

Suspeita é de que as 16 serpentes encontradas possam estar vinculadas à cobra Naja, capturada nesta quarta-feira após morder estudante que a mantinha em casa de forma ilegal

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 3

  1. Paula Nunes diz:

    Qual o nome do homem que mantinha o tubarão lixa em Aquário, o dono da chácara?


  2. C.Goes diz:

    Seres humanos desprezíveis. Coloco-os na lista dos mesmos que mantém passarinhos engaiolados, cachorros presos em espaços reduzidos sem água nem comida e por aí vai.


  3. Oswaldo diz:

    Onde encontro essa Lista pet?