Salada Verde

Poluição plástica já impacta Fernando de Noronha

Pesquisa global analisou poluição nos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico. Levantamento mostra que 75% dos resíduos têm origem na pesca

Júlia Mendes ·
14 de março de 2024
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Referência em conservação ambiental, o arquipélago de Fernando de Noronha está localizado no meio do Atlântico sul, a quase 400km da costa brasileira. Ainda assim, as águas do santuário ambiental também sofrem com a poluição plástica. A constatação é resultado de uma pesquisa de cooperação internacional para estudar  os efeitos da poluição plástica em profundidades subaquáticas nos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico. Ao todo, foram analisados 84 ecossistemas de recifes, alguns a 150 metros de profundidade, localizados em 14 países.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Academia de Ciências da Califórnia, nos Estados Unidos, da Universidade de Oxford e da Universidade de Exeter, ambas na Inglaterra. No Brasil, além de Noronha, os cientistas avaliaram as condições do arquipélago de São Pedro e São Paulo, situado a cerca de mil quilômetros do litoral do Rio Grande do Norte. 

Segundo o brasileiro Hudson Pinheiro, um dos coordenadores do estudo e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), cerca de 75% dos resíduos encontrados têm origem no manejo da pesca, como cordas, redes e linhas. “Esses equipamentos, quando abandonados, descartados ou esquecidos no mar, continuam pescando e danificando os ambientes recifais, um impacto conhecido como pesca fantasma. Como esse material pode demorar centenas de anos para se decompor, compromete a saúde dos recifes de corais e coloca em risco todo o equilíbrio da vida marinha associada a esses ecossistemas”, explica Pinheiro.

Os 25% restantes dos poluentes marinhos vêm de detritos gerados pela indústria de consumo, como garrafas plásticas e embalagens de alimentos. É aí que o membro da RECN considera que o modelo de preservação de Fernando de Noronha pode servir de exemplo. “A administração do arquipélago tem tentado acabar com o uso de descartáveis, coletando plásticos de uso único já no aeroporto”, lembra ele. Ainda assim, Pinheiro reforça que o setor de alimentos pode contribuir muito mais, com ações como evitar o uso de matérias-primas prejudiciais ao meio ambiente na produção de embalagens.

A  gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, Janaína Bumbeer, afirma que o estudo é importante porque traz uma visão global da poluição marinha, problema que não respeita fronteiras geopolíticas e atinge inclusive regiões mais afastadas. A Fundação contribuiu com a pesquisa acadêmica principalmente nos levantamentos de dados relacionados aos recifes mesofóticos – localizados entre 30 e 150 metros de profundidade, onde chega pouca luz – do Brasil.

“Dados surpreendentes indicam, por exemplo, que os recifes profundos são ainda mais impactados que os recifes rasos, mais próximos da fonte de poluição”, conta Janaína. “Isso tudo reforça a importância de uma mobilização global em torno da poluição do plástico nos oceanos, conforme discussão proposta pela ONU. O Brasil deve se posicionar para que um acordo ambicioso seja implementado por todos”, destaca a gerente da Fundação Grupo Boticário. 

  • Júlia Mendes

    Estudante de jornalismo da UFRJ, apaixonada pela área ambiental e tudo o que a envolve

Leia também

Colunas
6 de março de 2023

O futuro que as rochas de plástico nos indicam

A poluição por plásticos nos mares está afetando padrões geológicos, modificando até formações rochosas

Colunas
15 de dezembro de 2023

Por dentro dos bastidores do Tratado Global contra Poluição Plástica: estamos mesmo no meio do caminho?

Em negociação desde 2022, para avançarmos a agenda do Tratado Global, precisamos lidar com conflitos de interesses e pensar em soluções inovadoras

Notícias
16 de agosto de 2023

Brasil gera 3,44 milhões de toneladas anuais de lixo plástico que podem chegar ao Atlântico

Campanha de entidades civis quer acelerar a aprovação de um projeto de lei que cria uma “economia circular” desses resíduos

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.