Sumimos por um dia, mas as atividades continuaram e voltamos com tudo para contar as novidades! Logo cedo acompanhamos o resgate de um filhote de anta que fora encontrado sem a mãe em uma fazenda próxima à Transpantaneira. Os cães da propriedade acusaram a sua presença e, apesar dele vocalizar exaustivamente chamando pela mãe, ela não apareceu.
O IBAMA foi acionado e levou o filhote até uma unidade do SESC Pantanal, onde há um centro de reabilitação, para que profissionais da AMPARA Silvestre dessem os primeiros cuidados. Vimos também outras duas antas, Tião e Jabuticaba, resgatadas quando ainda eram filhotes, durante as queimadas do ano passado.
O médico veterinário Jorge Salomão, responsável técnico da AMPARA, nos contou que esse processo de reabilitação e cuidado dos filhotes, até que eles possam iniciar a soltura branda, dura até 3 anos. Apesar de demorado e custoso, é muito importante, sobretudo porque as antas, assim como muitas das espécies que vivem no Pantanal, estão ameaçadas de extinção.
A ameaça ocorre, sobretudo, porque ainda existe caça esportiva e para subsistência, além de, pela presença humana e degradação ambiental, alguns grupos de antas estarem isolados, o que contribui para a ameaça da espécie.
Da mesma maneira que ocorreu com o filhote de lontra resgatado na terça-feira, os filhotes de anta dificilmente serão reinseridos na natureza, uma vez que não tiveram uma criação similar à que ocorreria com suas mães, ensinando os perigos da proximidade com humanos e outros predadores.
Cavalo doente
No final da tarde, enquanto a equipe da AMPARA corria para Cuiabá para comprar leite de cabra, que serviria para alimentar o filhote, nós encontramos a equipe do GRAD (Grupo de Resgate a Animais em Desastres), que atendi um cavalo dentro de uma fazenda. Apesar do foco da atuação aqui serem os animais silvestres, o GRAD não nega atendimento quando se depara com algum animal doméstico precisando de socorro.
O cavalo estava caído no chão e não levantava, era velho e estava muito fraco: glicemia baixa e desidratado, consequência da falta de água e pasto que afeta não só a fauna silvestre, mas também as criações locais.
Até o momento que acompanhamos, o cavalo foi medicado, tomou soro e a muito custo tentaram estimulá-lo e colocá-lo de pé, o que não funcionou. À noite, quando falamos novamente com a equipe do GRAD, tivemos a notícia de que ele acabou sendo eutanasiado, diante da falta de respostas e do destino certo de que não sobreviveria muito mais.
Nessa ocasião, comentaram que as eutanásias em animais têm sido frequentes, seja pelos ferimentos do fogo ou atropelamentos, seja pelas sequelas da falta de água e alimentos. De todo modo, o que podemos concluir é que a ação humana tem não só provocado sofrimento, mas também abreviado a vida dos animais no Pantanal.
Pantanal ameaçado é um projeto de Leandro Barbosa, Victor Del Vecchio, Lina Castro e Gabriel Schlickmann, financiado coletivamente e que conta com o apoio da iniciativa Observa-MT.
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