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Apesar dos esforços da permanência de fiscais do Ibama na Amazônia, mesmo na época de chuvas, e de grandes operações como a Onda Verde, criadas para reprimir o desmatamento ilegal na região, os números divulgados hoje pelo Sistema de Alerta de Desmatamento indicam aumento no alerta de desmatamento.
Os dados do DETER acumulados de alerta de corte raso e degradação, que somam os números registrados em cada mês, apresentam um aumento de 35% em um ano: o alerta de desmatamento saltou de 2050,95 km² registrados entre agosto de 2011 a julho de 2012, para 2.765,64 km² no período posterior. As variações mensais podem ser visualizadas no gráfico abaixo.
A tendência de aumento do desmatamento já havia sido registrada pelos dados do Imazon, cujo acumulado do ano apontam para um aumento de 92% do corte raso na Amazônia, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Para o governo, apesar dos números ruins, ainda é cedo para afirmar que o desmatamento na Amazônia Legal está aumentando. Isso se deve há pelo menos duas fragilidades do Sistema DETER. A primeira é que o Sistema tem baixa resolução e só “enxerga” desmate a partir de 25 hectares (ha). Como 60% do desmatamento atual ocorre abaixo de 25 hectares, se o desmatamento está aumentando ou não, apenas o PRODES, que usa um sistema mais apurado e imagens em alta resolução, poderá confirmar. A segunda é que, normalmente, o DETER não faz distinção entre desmatamento (leia-se corte raso) e degradação florestal. Os números estão agrupados. Degradação não é desmatamento, é um estágio anterior. Se a mata não sofrer nenhuma ação de queimada ou corte de madeira, a própria floresta se recupera.
“Já tentei achar uma vinculação e não consigo achar uma proporção para fazer a previsão usando o DETER. Sabe porque? Porque eu não sei quanto vai dar o desmatamento abaixo de 25 hectares, que o satélite não enxerga. É esse desmatamento abaixo de 25 ha que vai dizer se o PRODES vai aumentar ou se vai cair, não é o DETER. O PRODES usa imagens de alta resolução, não tem erro. O DETER é um negócio assim meio vesgo, mas um meio vesgo que passa rápido na Amazônia. E a gente pega esse “passa rápido” e vamos atrás para verificar as coisas que temos a chance de combater”, explica Luciano de Meneses Evaristo, Diretor de Proteção Ambiental do Ibama.
Para apresentar os números hoje, a equipe do Ibama fez uma amostra com 66% dos alertas de desmatamento no período entre agosto 2012/julho 2013. Pela amostra, a divisão dos alertas ficou assim: 57% foram corte raso e 43% queimadas. O aumento de queimadas em agosto e maio fizeram os números de alertas nos dois meses dispararem (ver gráfico).
“O DETER foi feito para mim e não para você”, provoca Evaristo ao explicar para a reportagem de ((o))eco que o sistema foi criado apenas para atender ao sistema de fiscalização do Ibama e não para medir o desmatamento na Amazônia Legal. “No alerta há de tudo, há falso positivo, há queimadas, há olho d’água, esse sistema é feito para o órgão trabalhar, não é para medir a mudança no solo, ele não serve para isso”, explica.
O número anual do desmatamento é produzido pelo PRODES e só inclui corte raso, ou seja, supressão total de floresta. E são esses números do PRODES que são usados pelo Brasil nos acordos internacionais de diminuição de emissão de gases de efeito estufa oriundos do desmatamento ilegal.
Repressão ao desmatamento
O Ibama manteve equipe em campo durante o tempo chuvoso na Amazônia, mas foi a partir de maio, quando as nuvens se dissiparam, que o efetivo aumentou. Mais de mil homens estão na região na tentativa de coibir o desmatamento ilegal. Entre agosto de 2012 e julho deste ano, os agentes emitiram 4 mil autos de infração, com multas que ultrapassaram R$ 1,9 bilhão e mais de 252 mil hectares embargados.
No mesmo período, o Ibama apreendeu 158 tratores (alguns pintados de verde, para serem camuflados na mata), 291 motosserras, 44 armas de fogo, 68 mil metros cúbicos de madeira em toras e 17 mil metros cúbicos de madeira serrada.
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