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Pantanal derrete com calor e seca

ONG alerta sobre impactos no abastecimento de pessoas, navegação, hidrelétricas, pesca, agro e outras economias

Aldem Bourscheit ·
13 de junho de 2024

Chuvas rareando, rios assoreados e barrados para geração de energia não deixaram o Pantanal encher nos últimos anos como historicamente acontecia. Ao mesmo tempo, o calorão e a seca marcam com fogo o bioma e os dois estados brasileiros que abrigam a maioria da planície alagável sul-americana.

O índice de chuvas nos últimos 6 meses está bem abaixo da média de períodos anteriores. O clima em certas zonas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul permanece de moderadamente a extremamente seco.

Medições do nível médio do Rio Paraguai no município de Ladário (MS) chegaram este ano a valores menores que os registrados em 1964, quando a régua chegou ao recorde de menos 61 cm. O sistema acompanha o sobe e desce daquelas águas desde 1900.

Esses ingredientes somados espalham chamas pela região e alavancam as chances de novos e potentes incêndios descontrolados, destaca uma nota técnica do Instituto SOS Pantanal. Incêndios bíblicos em 2020 consumiram cerca de 4 milhões de ha, ou 26% do bioma no Brasil. A área torrada foi similar a do estado do Rio de Janeiro.

No primeiro trimestre deste ano, as áreas queimadas no Pantanal ultrapassaram as médias para o mesmo período entre 2012 e 2022. Algo ainda mais grave porque a fase mais aguda da seca anual ainda não chegou, está prevista para julho e agosto. 

Outro alarme do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é o de que as queimadas de janeiro a maio deste ano já são 39% maiores que as do mesmo prazo de 2020, que tinha sido, nesse quesito, um dos piores anos da história conhecida do bioma.

Focos de calor apenas nos últimos 7 dias no Pantanal brasileiro e regiões do Paraguai, da Bolívia e da Argentina. Imagem: Fire Information for Resource Management System (FIRMS) / Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos).

Mas os efeitos colaterais da crise climática pantaneira são ainda maiores. “A seca prolongada impacta significativamente setores cruciais como abastecimento humano, navegação, geração hidrelétrica e atividades econômicas locais, incluindo pesca e turismo”, analisa a SOS Pantanal. 

O cenário ameaçador exige medidas preventivas e de combate às chamas urgentes e, igualmente, ações concretas que preparem o Pantanal e suas populações a uma nova “realidade climática”, inegavelmente construída pelo desmatamento, poluição e outras ações humanas.

Para enfrentar o desafio, a nota da SOS Pantanal prega uma articulação entre governos federal, estaduais e municipais para mais fiscalizar e melhorar o uso da água, instalar uma “Sala de Crise” com instituições públicas e civis para acompanhar o drama do bioma, execução rígida de políticas estaduais para ampliar o manejo e a prevenção do fogo, arregimentar e capacitar brigadistas para reforçar o trabalho de bombeiros.

No centro da Bacia do Alto Paraguai, o Pantanal sul-americano é distribuído no Brasil (78%), Bolívia (18%) e Paraguai (4%). Foto: Filipe Frazão/Ipatrimônio/Creative Commons.

Se forem mesmo executadas, ações como as listadas pela entidade civil podem amenizar os estragos no presente e futuro pantaneiros. Isso é fundamental, pois as previsões científicas apontam para ainda maiores chances de menos chuvas, mais estiagens e termômetros em alta para o bioma.

O Pantanal abriga por volta de 1,1 milhão de pessoas no Brasil, 16.800 na Bolívia e 8.400 no Paraguai, mas também é um dos celeiros mundiais de biodiversidade. Até agora, nele foram listadas mais de 2 mil espécies vegetais, 582 espécies de aves, 132 de mamíferos, 113 de répteis e 41 de anfíbios.

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista brasilo-luxemburguês cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Sel...

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